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Venda de peças artesanais regista redução no Bengo

     Cultura              
  • Bengo • Sexta, 06 Maio de 2022 | 12h49
Peças de artesanato em exibição
Peças de artesanato em exibição
Francisco Miúdo

Caxito – O negócio de peças de artesanato, uma actividade de referência na cultura de Angola, diminuiu, nos últimos três anos, em Caxito, província do Bengo, devido à falta de clientes.

Trata-se de peças em  cerâmica, couro, traçados, tecidos de fibras vegetais e animais, tintura popular, pau-ferro, pau-rosa e pau-preto.

Para o fabrico destas peças é utilizada como matéria prima, na província, a Mateba (extraída na Matebeira), paus finos, a moreira, o mwanze (madeira) e o pau-preto, usado para fazer uma das principais peças da cultura angolana, o “Pensador”.

A crise económica e financeira, associada à pandemia da Covid-19, são apontadas, pelos criadores, como as principais causas do enfraquecimento do negócio.

Isidro Semedo, artesão há 50 anos, disse que no passado os principais compradores eram os turistas que chegavam à província ávidos por conhecer a “Terra do Jacaré Bangão”.

Visitavam as localidades do Panguila, a Barra do Dande e o Açude (Caxito), locais de maior exposição de peças, e aproveitavam para apreciar o potencial turístico da região.

Por dia, disse, os "mestres" vendiam em média entre três a cinco peças, e nas feiras conseguiam entre 100 a 150 mil kwanzas, afirmou.

Actualmente, passamos muitas semanas sem vender. Há mais de três anos que o negócio diminuiu, por falta de clientes.

Este mestre utiliza a madeira conhecida por moreira, mwanze e o  pau-preto para fabricar o pensadores, o jacarés, elefantes, palancas negras, mapas de Angola e outras peças que retratam a cultura do país.

Isidro Semedo apontou o mercado do Kicolo, na vizinha província de Luanda, como a principal fonte de abastecimento de madeira.

Quanto à comercialização, afirmou que os preços variam de acordo com o tamanho, tipo de madeira, tempo de fabricação, local da exposição ou feira, bem como a qualidade do trabalho.

Com nove trabalhadores, o  mestre tem ainda uma loja na cidade de Moçamedes, província do Namibe, onde também comercializa peças, e considera o negócio mais próspero, comparativamente ao Bengo.

Manuel João Francisco Politano, de 57 anos de idade, natural de Caxito, considera “crítica” a situação dos mestres deste segmento.

Artesão há cerca de 38 anos, produz bases de mesa, pratos, copos e panela, cesto de roupa e de compras, berço para criança, balaios, chapéus, vassouras, garrafa e "muzua" para a pesca artesanal.

No  Musseque Ndala Muleba, onde desenvolve a sua actividade, tem a mateba e paus finos como a matéria-prima necessária para fazer as peças.

“Para vender uma peça por dia é preciso ter muita sorte. Podemos passar semanas sem vender”, exprimiu.

Quanto aos preços, estes rondam entre 500 a cinco mil kwanzas.

Catarina João, 48 anos de idade, revelou que as mulheres para além do trabalho do campo, também se dedicam à actividade artesanal para ajudar no sustento da casa, principalmente, na aquisição da cesta básica e na formação dos filhos.

Artesã há cinco anos, Catarina João informou que uma peça para ser confeccionada  pode levar entre um a quatro dias, dependendo do  tamanho e da espécie.

Sem precisar o número de artesãos existentes na região, sugeriu a construção de um jango para acolher todos os mestres e, se possível, a concessão de micro-crédito para aquisição da matéria-prima (madeira).

A aquisição de madeira e de outros instrumentos, constitui a principal dificuldade destes artesãos que  têm o serrote, o formão, o machado, a catana, a lima, a motosserra e lixa como alguns instrumentos de trabalho.

O desejo da classe é que a crise económica no país seja ultrapassada e que a circulação de pessoas no mundo se normalize para que os turistas voltem e o seu trabalho seja valorizado.

 





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