Belgrado - A Sérvia exigiu sexta-feira eleições e o regresso da etnia sérvia à polícia e ao poder judicial numa região do norte do Kosovo, povoada por sérvios, onde as tensões aumentam receios de instabilidade e novos confrontos armados, noticiou o site Notícias ao Minuto.
O presidente populista Aleksandar Vucic apelou também à retirada da polícia especial do Kosovo da região fronteiriça com a Sérvia, que continua a ser um ponto de inflamação no meio dos esforços estagnados dos países ocidentais para ajudar a negociar uma solução para o conflito.
É pouco provável que as exigências sejam satisfeitas pelos dirigentes do Kosovo.
A Sérvia não reconhece a declaração de independência do Kosovo de 2008. Antiga província sérvia, o Kosovo separou-se após a guerra de 1998-99 que terminou com uma intervenção da NATO.
As tensões recrudesceram depois de o Kosovo ter encerrado, no final de agosto, várias instituições paralelas apoiadas pela Sérvia no norte do país. A repressão do governo do Kosovo suscitou críticas dos Estados Unidos e da União Europeia, que temem que as tensões no Kosovo possam levar a uma maior instabilidade nos Balcãs, à medida que a guerra se intensifica na Ucrânia.
No seu discurso, hoje, Aleksandar Vucic disse que a Sérvia está a exigir "o regresso ao que foi acordado e alcançado até agora no diálogo" entre Belgrado e Pristina, que tem sido mediado pela UE desde 2011.
Estas conversações produziram vários acordos ao longo dos anos, mas as tensões persistiram com explosões ocasionais de violência. A Sérvia acusa o Kosovo de se recusar a formar uma associação de municípios de maioria sérvia, como foi acordado em 2013.
"O que estamos a exigir é o respeito pelas normas europeias e o diálogo", disse Vucic numa conferência de imprensa especial dedicada ao Kosovo, sublinhando: "Não queremos a guerra".
Muitos sérvios consideram o Kosovo um coração histórico e recusam-se a reconhecer a sua separação da Sérvia. O Kosovo é maioritariamente de etnia albanesa, enquanto a minoria sérvia vive sobretudo no norte e em comunidades mais pequenas no centro do país.
Os legisladores, juízes e agentes da polícia de etnia sérvia do norte do Kosovo demitiram-se em massa em novembro de 2022, em protesto contra o despedimento de um agente da polícia pelas autoridades do Kosovo.
No ano passado, um tiroteio na sequência de uma incursão de atiradores sérvios fortemente armados matou um polícia do Kosovo e três atiradores sérvios, no incidente mais grave desde a guerra da década de 1990. Esta semana, os procuradores do Kosovo acusaram 45 pessoas pelo tiroteio, incluindo um aliado próximo de Vucic.
Aleksandar Vucic afirmou que a Sérvia continuará a prestar assistência social e financeira aos sérvios do Kosovoe acusou a UE e os EUA de se colocarem do lado do Kosovo, anunciando que escreveria ao presidente dos EUA, Joe Biden, ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, a altos funcionários da UE e a outros líderes mundiais sobre a actual crise.
Responsáveis da UE avisaram a Sérvia e o Kosovo de que têm de normalizar as suas relações para poderem avançar nas suas candidaturas a membros do bloco de 27 nações.
Belgrado mantém também relações estreitas com a Rússia e a China, que apoiaram a sua reivindicação do Kosovo.
O discurso de Vucic foi dominado pela sua retórica anti-ocidental, que é a sua imagem de marca quando fala em casa.
Há receios generalizados de que a Rússia esteja a usar Sérvia, seu tradicional aliado, para inflamar as tensões na Europa, em parte para desviar a atenção da sua invasão da Ucrânia.CS