Ondjiva - Oitocentas e 67 mil, 322 pessoas na província do Cunene estão afectadas pela seca de 2021/2022, informou hoje, sexta-feira, a directora do Gabinete Provincial da Acção Social, Família e Igualdade do Género, Elizeth Mwamelunge.
Em declarações à ANGOP, a propósito do 17 de Junho, Dia Mundial do Combate à Seca e Desertificação, a directora fez saber que o fenómeno atingiu, em grande incidência, os municípios do Curoca, Cahama e Ombadja.
De acordo com a responsável, a seca causou a emigração de famílias para as áreas situadas ao longo da margem do rio Cunene e para a República da Namíbia, devido à falta de rendimento na actividade agrícola, fruto da não-ocorrência cíclica de chuvas.
Entretanto, realçou que, para contrapor a situação, o Governo criou, em Março último, o Centro de Acolhimento de Assistência às Vítimas da Seca, situado em Calueque, onde são disponibilizadas três refeições diárias, água, assistência médica e medicamentosa, registo de nascimento, entre outras coisas.
Fez saber que estão no respectivo centro mais de mil famílias e, dessas, 120 inseridas na produção agrícola, com a implementação do campo experimental de 11 hectares, de modo a terem disponibilidade alimentar para o auto-sustento.
Apontou a materialização do programa estruturante da construção do Sistema de Transferência de Água, a partir do rio Cunene, na localidade de Cafu, que vai mitigar os efeitos da seca.
O respectivo canal, disse, vai permitir o acesso à água a 235 mil pessoas dos municípios de Ombadja, Cuanhama e Namacunde, bem como o abeberamento de 250 mil animais e a irrigação de cinco mil hectares de campos agrícolas.
Informou que, para além de colmatar as dificuldades de acesso à água para o consumo humano, animal e agrícola, o canal vai permitir a criação de zonas verdes e diminuir a incidência da seca e da desertificação na região.
Desde 1998, a seca tem afectado o Sul do país, principalmente a província do Cunene, mas, em 2018/2019, esse fenómeno foi o mais devastador dos últimos 24 anos da história.
A acentuada crise de 2018 atingiu 880 mil 172 pessoas e um milhão de cabeças de gado, causando a morte de 30 mil animais, entre bovinos, caprinos e suínos.
Abate indiscriminado de árvores agrava fenómeno da desertificação
Já a directora em exercício do Gabinete do Ambiente, Gestão de Resíduos Sólidos e Serviços Comunitários no Cunene, Joaquina Araújo, alertou para maior necessidade do uso racional do coberto vegetal, de modo a diminuir o fenómeno de desertificação na região.
A a responsável esclareceu que o contínuo abate indiscriminado de árvores para o fabrico de carvão, protagonizado pelas comunidades rurais, tem agravado a seca e a desertificação que assola a província.
Fez saber que, nos últimos anos, é frequente o corte de árvores para o fabrico de carvão e lenha, assim como outras matérias-primas, para a construção de residências, cerco de quintais, currais e grandes dimensões de campo agrícola, fomentando a desflorestação.
Joaquina de Araújo salientou que estas práticas permitem as alterações climáticas, com o surgimento de cheias e seca cíclicas, verificadas nos últimos anos, provocando transtornos sociais e económicos na vida das comunidades.
Lembrou que o Cunene constitui o epicentro das alterações climáticas que afectam o Sul do país, devido à fúria da natureza e da acção humana.
Outro sim, manifestou-se preocupada com as queimadas florestais, com particular realce para o Corredor do Xangongo, Calunga e Cuvelai, onde é frequente esta prática, que periga o Norte da reserva natural do Parque da Mupa.
Joaquina Araújo afirmou que, para assegurar a participação dos cidadãos na preservação do meio ambiente, está em curso, desde 2019, um programa de educação e consciencialização ambiental, financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Disse que o projecto visa mitigar a situação da seca e desertificação, através de actividades de campo, realização de seminários e de um inquérito de campo, que vão permitir mapear as zonas devastadas, para possíveis acções de reflorestamento.
Em contrapartida, referiu que o Gabinete do Ambiente prevê plantar, no decorrer do ano, 12 mil árvores, numa acção conjunta com as administrações municipais, visando contribuir para amenizar o ambiente e reduzir a quantidade de radiação que atinge o solo.
Institucionalização da data
O Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertificação foi instituído pela ONU a 17 de Junho de 1994 e foi celebrado pela primeira vez em 1995.
A data visa sensibilizar as populações e os Governos sobre a necessidade de cooperação mundial no que diz respeito à desertificação e à seca, assim como sublinhar a importância do respeito da Convenção da ONU sobre Combate à Desertificação nos países mais afectados pela seca/desertificação (países africanos, especialmente).
A convenção foi adoptada em 1994 e hoje os 197 países estão a implementar formas de proteger a Terra da seca, para que possamos continuar a desfrutar da comida, água e energia que ela nos fornece.
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