Luanda - Cento e 63 meninas por mil engravidam precocemente em Angola, factor que contribui para o aumento da morbimortalidade materna e do abandono escolar.
A Maternidade Lucrécia Paím registou a redução do índice de mortalidade materna, de mil por cem mil nascidos vivos em 2017 para seiscentos por cem mil em 2022.
Por outro lado, a mortalidade neonatal é de 70-75 por 1000 nascidos vivos, enquanto 90% dos partos são prematuros.
Segundo a directora dos serviços ambulatórios da maternidade Lucrécia Paim, em entrevista à ANGOP, Eurídice Chongolola, esta cifra coloca Angola entre os principais países da África subsariana a enfrentar está problemática.
Frisou que quanto mais gravidezes precoces se registar, maior será o número de mortes maternas, devido a falta de estrutura física e biológica para suportar uma gestação.
De acordo com especialista em ginecologia e obstetrícia, muitas dessas menores vêm de uma segunda gestação.
A maternidade, afirmou, tem apenas o registo de cerca de 49 % dos partos, sendo que o restante é feito fora das instituições, onde os registos de mortes não são alistados na referida unidade.
A nível institucional, disse, a maternidade chega a atender por média entre 10 a 12 adolescentes por dia, com maior frequência para as idades precoces entre os 10 aos 15 anos de idade.
Referiu que neste mês de Junho, dedicado à criança, deve haver uma maior reflexão sobre a gravidez precoce, pois o quadro é preocupante.
Apontou o abuso sexual como uma das causas da gravidez precoce, seguido da falta de educação sexual, pobreza, ingenuidade e submissão.
Para além da gravidez precoce, Eurídice Chongolola disse que o abuso sexual também têm redundado em doenças de transmissão sexual, como hepatites B e HIV.
Explicou que a gravidez na adolescência aumenta o risco da morte materna e infantil , partos prematuros, anemia, aborto espontâneo, eclâmpsia e depressão pós parto.
Impacto da gravidez durante a adolescência e nas famílias
Para a também presidente do Colégio do Sindicato da Ordem dos Médicos de Angola , a gravidez é um acontecimento importante na família, principalmente na vida da mulher, mas quando ocorre na adolescência pode trazer um maior grau de vulnerabilidade ou risco social para mães e filhos, principalmente os recém-nascidos.
A própria adolescência, considera, constitui uma fase de autoconhecimento, transformação física, psicológica e social.
Nesse sentido, para a puberdade e futuras mães a gravidez requer não apenas mudanças físicas e emocionais inerentes à essa fase, mas também outro estilo de vida, que requer maturidade biológica, psicológica e socioeconómica para atender às suas necessidades.
Para Eurídice Chongolola, na maioria dos casos o pai também é adolescente, isso leva a dependência da família e a falta de preparação financeira.
Perante este o quadro, tornar-se pai ou mãe nesta fase têm consequências desafiadoras para adolescentes e filhos futuros. “Portanto, o espaço de prevenção e cuidado deve ser aberto a todos os envolvidos”.
Advogou a necessidade da existência nas escolas de programas educacionais sobre sexualidade para minimizar esta problemática.
O Estado deve proteger as crianças e, por isso, esta deve ser também uma via de promoção dos seus direitos.
Para si, as causas já estão identificadas e trabalho está a ser feito, apenas precisa-se de um maior apoio multidireccional de vários sectores, desde as igrejas, instituições sociais, encarregados de educação e do próprio Estado. EVC/ART