Kampala -Um tribunal do Uganda processou hoje (terça-feira) um escritor e crítico do Governo do país por "perturbar" o Presidente, Yoweri Museveni, e o seu filho, de quem escarneceu nas redes sociais.
Kakwenza Rukirabashaija, com 33 anos, foi acusado de "linguagem ofensiva" contra os dois homens e permanecerá detido até 21 de Janeiro, anunciou Charles Twine, porta-voz do departamento de investigação criminal da polícia ugandesa.
Rukirabashaija é o autor do romance satírico "The Greedy Barbarian" (O Bárbaro Ganancioso), que descreve um país imaginário atormentado pela corrupção.
Rukirabashaija, que ganhou em 2021 um prémio internacional atribuído a autores perseguidos, foi detido em 28 de Dezembro na sua casa, na capital do país, Kampala, depois de ter criticado o filho do presidente, Muhoozi Kainerugaba, nas redes sociais.
Recentemente, o escritor intensificou as suas críticas a Kainerugaba, um general que muitos vêem como o sucessor do seu pai, actualmente com 77 anos, chamando-lhe "gordo" e "resmungão".
De acordo com um documento divulgado pelo tribunal de Kampala, os procuradores acusam o autor de, "intencional e repetidamente", ter utilizado a sua conta na rede social Twitter para "perturbar a paz de sua Excelência [Yoweri Museveni], sem um propósito legítimo de comunicação".
Rukirabashaija é acusado do mesmo em relação a Kainerugaba. A advogada do escritor, Eron Kiiza, confirmou através de uma breve mensagem através do Twitter a dupla acusação, que segundo a lei ugandesa pode ser punida com até um ano de prisão.
O Governo já contestou uma primeira decisão judicial, que determinou a libertação "incondicional" do autor.
Os Estados Unidos e a União Europeia, entre outros, apelaram à libertação de Rukirabashaija.
Preso várias vezes desde a publicação de "The Greedy Barbarian", Kakwenza Rukirabashaija afirmou ter sido torturado durante os interrogatórios sobre o seu livro.
Visto como reformador quando tomou o poder em 1986, Museveni tem desde então reprimido sistematicamente a dissidência política no Uganda e alterou a Constituição do país, que lhe permite hoje ser reeleito sem quaisquer restrições.