Paris - A França rejeitou hoje as acusações de violação do espaço aéreo e espionagem feitas por Bamako após a divulgação de imagens aéreas que mostravam, segundo os franceses, a simulação de um crime de guerra para denegrir a imagem de França.
"Quando nos acusam de violação do espaço aéreo e de sobrevoo ilegal da zona de Gossi, em 19, 20 e 22 de Abril, estávamos no nosso direito porque Gossi não estava na zona de interdição temporária (ZIT)" de sobrevoo, disse o porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas francesas, o coronel Pascal Ianni, em conferência de imprensa.
Segundo o militar, o sobrevoo de uma zona incluindo Gossi tinha sido interdita a 13 de Janeiro porque os mercenários do grupo privado russo Wagner operavam ali, ao lado das forças armadas malianas (FAMa).
Após o ataque de Mondoro (centro), a 04 de Março, durante o qual as FAMa perderam dezenas de homens, a zona foi reduzida "para que se pudesse realizar missões de tranquilização em benefício das forças malianas", acrescentou.
"O Estado-Maior maliano acredita, sem dúvida com razão, que corre o risco de precisar de apoio da França", sublinhou Ianni.
A 21 de Abril, dois dias depois de entregar a base de Gossi às Forças Armadas do Mali, o exército francês publicou um vídeo do que afirmou serem mercenários russos a enterrar corpos perto desta base para poder acusar a França de crimes de guerra no Mali.
As imagens, registadas por um aparelho aéreo não tripulado, mostram soldados a cobrirem corpos com areia e noutra sequência das imagens aparecem dois desses soldados a filmarem os corpos semienterrados.
O Estado-Maior francês garante que são soldados caucasianos e sugere que se trata de membros da empresa militar privada russa Wagner, que identificou em vídeos e fotos tiradas noutros locais.
No dia seguinte à publicação das imagens, o Estado-Maior do Mali anunciou que havia descoberto "uma vala comum, não muito longe do campo anteriormente ocupado pela força francesa Barkhane", designação da operação francesa contra extremistas islâmicos no Sahel.
"O estado de putrefação avançada dos corpos indica que esta vala comum existia muito antes da entrega. Por conseguinte, a responsabilidade por este ato não pode de forma alguma ser imputada às Forças Armadas do Mali", acrescentou então o Estado-Maior maliano.
A junta militar do Mali acusou também as Forças Armadas francesas de "espionagem" e "subversão" devido à divulgação dos vídeos.
Mergulhado desde 2012 numa profunda crise de segurança que o envio de forças estrangeiras não conseguiu resolver, o Mali passou por dois golpes militares desde Agosto de 2020.
A junta militar no poder em Bamaco aproximou-se gradualmente de Moscovo ao mesmo tempo que se afastou de França, que desde 2013 está envolvida militarmente na luta contra o extremismo islâmico.
No contexto da crise diplomática com Bamako, Paris anunciou em fevereiro a retirada dos militares que mantinha estacionados no Mali, uma operação que deverá ficar concluída neste verão.