Mogadiscio - O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, afirmou hoje que a Somália não contribuiu "praticamente nada" para as alterações climáticas, mas acaba por ser dos países que paga a conta mais alta, através da morte de milhares de pessoas devido à fome que surge das condições severas.
Guterres fez a afirmação durante uma conferência de imprensa ao lado do presidente somali, Hassan Sheikh Mohamud, e vincou que a sua visita é de "solidariedade" para com a nação extremamente afectada pela fome.
"Estou aqui para soar o alarme para a necessidade de apoio internacional massivo, por causa das dificuldades humanitárias que o país enfrenta", disse Guterres, citado pela BBC, pedindo donativos à comunidade internacional para garantir a segurança alimentar da Somália.
Guterres salientou que "apesar da Somália não fazer praticamente qualquer contribuição para as alterações climáticas, os somalis estão entre as principais vítimas".
A Somália, um país assolado por constantes conflitos armados, extremismo jihadista e piratas que perturbam o comércio naval, está também a atravessar uma das piores secas das últimas décadas registadas na região onde se situa. Segundo o Programa Alimentar Mundial, mais de 6,5 milhões de somalis vivem sob insegurança alimentar, mais de 1,8 milhões de crianças com menos de cinco anos sofre de malnutrição e mais de 1,5 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas para procurar alimento.
Isto ocorre pouco depois do término oficial do último período de fome, que matou 260 mil pessoas na década passada, a maioria crianças com menos de seis anos. A fome actual já levou à morte de 43 mil pessoas.
Para António Guterres, é fundamental o apoio do mundo mais desenvolvido a nível económico "para financiar urgentemente o plano de resposta humanitário de 2023, que está actualmente a 15%".
Guterres reafirmou as dificuldades que os países mais pobres e frágeis enfrentam devido às alterações climáticas, pedindo apoio "massivo" para ajudar a Somália a combater o impacto dos danos provocados por países mais desenvolvidos.
Na mesma conferência de imprensa, o presidente somali mostrou-se satisfeito com a visita do líder português, que encara como uma demonstração de apoio à democracia frágil da Somália. "Esta visita assegura que as Nações Unidas estão completamente comprometidas em apoiar os nossos planos para a construção do estado e para a estabilização do país", afirmou Hassan Sheikh Mohamud. DSC