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Eleições no Botswana constituem exemplo de cultura democrática

     África              
  • Luanda • Terça, 12 Novembro de 2024 | 13h14
Analista político  Bernardino Neto
Analista político Bernardino Neto
António Escrivão-ANGOP

Luanda – As eleições ocorridas no Botswana, ganhas pela oposição, constituem um exemplo da sociedade tswanesa para África quanto à alternância do poder, nomeadamente a forma pacífica de transição política, disse à ANGOP o professor e analista de Relações Internacionais, Bernardino Neto.

O académico concedeu recentemente uma entrevista à Agência Angola Press, em Luanda, para comentar os resultados eleitorais de 30 de Outubro, que terminaram com um mandato de mais de cinco décadas do partido governante, cujo país tem realizado regularmente escrutínios, sem constrangimentos pós-eleitorais.

Para o analista, a atitude demonstrada pelos tswaneses (cerca de um milhão e 200 eleitores inscritos) tem muito que ver com a sua cultura democrática e com o sentido e exercício de cidadania por parte dos partidos que fazem oposição.

“Há aqui um contexto onde a sociedade tswanesa dá o exemplo para África que, para além da alternância do poder, sair de um partido governante para um partido da oposição, é a forma pacífica como o presidente cessou as suas funções e reconheceu a vitória da aliança que estava na oposição”, referiu.

Bernardino Neto afirmou tratar-se de algo que traz um sentido da construção da democracia por etapas, contrário ao que tem ocorrido em outros segmentos africanos onde se quer uma democracia a uma velocidade de cruzeiro mas sem que se dê conteúdo à mesma.

Segundo o docente em Relações Internacionais, o Botswana prima muito por uma governação ao serviço das pessoas e não as pessoas ao serviço do governo.

“Então há aqui um consenso de todos onde o Botswana traz esses elementos,  e é precisamente toda esta configuração que construiu uma democracia onde se expressa aquilo que os africanos reclamam - um sentido de cidadania. Não uma cidadania de rua, mas uma cidadania de comprometimento com a construção do seu Estado”, afirmou.

O analista acrescentou que quando isto ocorre de forma pacífica, a grande lógica é encontrar a construção do bem-estar da sociedade, dos cidadãos, o desenvolvimento económico, cultural, aspectos em que o  Botswana é um exemplo para continente africano.

Realçou o facto de tratar-se de um país que logo após se tornar  independente, em 1966, começou a desenvolver a democracia, tal como as Ilhas Maurícias. “Logo, à volta destas eleições há uma história de multipartidarismo. Então há um trabalho, não é algo que veio por acaso”, referiu.

Instado a pronunciar-se sobre a governação do novo presidente eleito, Duma Boko, num país considerado próspero na pecuária (gado bovino) e em diamantes, mas alegadamente manchado por corrupção nos últimos anos, o analista recordou que o actual líder foi membro do parlamento, já esteve a chefiar uma frente da oposição entre 2010 e 2014 e depois criou a aliança partidária para fazer frente ao partido que governava o país.

Ainda sobre os desafios por enfrentar pelo novo estadista, Bernardino Neto adiantou que Duma  terá pela frente os problemas globais que os demais países vivem, incluindo os dos G7, todos eles relacionados com a economia.   

“O mundo, de maneira global, tem estado a conhecer fragilidades muito expressivas (…) no âmbito económico. Os países desenvolvidos do G7 estão a conhecer essas fragilidades, os países da periferia, claro está, conhecem esses jogos com maior profundidade. Há desequilíbrio na distribuição da riqueza, há um problema de inflação nas suas economias”, declarou.

“É aquilo que nós chamamos que os quatros demónios estão presentes dentro das economias dos países periféricos – que são o desemprego, a inflação, falta de qualidade de vida e depois a procura de crescimento (…)”, afirmou.

O partido da Coligação para a Mudança Democrática (UDC, na sigla em inglês), liderado por Duma Boko,  de 54 anos e advogado de direitos  humanos, com formação na universidade norte-americana Harvard,   conquistou 36 lugares no parlamento (de 61). O Partido Democrático de Botswana, que liderou o país durante 58 anos, ficou em quarto lugar na votação. O Partido do Congresso de Botswana (BCP, na sigla em inglês) ficou em segundo lugar e a  Frente Patriótica do Botswana (BPF) em terceiro.  DSC/ADR





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