Ondjiva- A arte de fazer e remendar sapatos na cidade de Ondjiva, província do Cunene, está cada vez mais difícil, devido a dificuldades na aquisição de material de trabalho e de espaços apropriados para desenvolver a actividade.
Em declarações esta segunda-feira à Angop, os sapateiros lamentaram a falta de máquinas de costura, formas, acessórios como couros, solas, palmilhas, rebites, entre outros meios.
Vitorino Apolo, sapateiro há sete anos, exerce a profissão num canto dos escombros do ex-cine, tendo referido que a falta de lojas de venda destes equipamentos, faz com que muitos recorram às províncias da Huíla, Benguela ou mesmo a República da Namíbia.
“Neste momento o nosso mercado não oferece material de apoio, apenas existem alguns reciclados como as peças que o artesão recolhem para fazer fivela.
Apesar das dificuldades, referiu que a sua profissão serve de meio de subsistência para a sua família, pois, para além de remendar sapatos, faz decoração e fabrica sandálias.
O artesão disse que aprendeu a profissão com o pai e dispõe de uma máquina de costura e de corte, que lhe facilita a produzir sapatos que são comercializados nas províncias do Moxico, Cuando Cubango e a vizinha Namíbia.
Outro sapateiro que aprendeu o ofício com a família é o jovem Joaquim Katissapi, que exerce a profissão há 15 anos.
Para si, apesar das dificuldades a profissão é boa porque consegue sempre um dinheiro para sobreviver.
“Calçado para arranjar há sempre, por mais moderna que seja hoje a indústria dos sapatos, há sempre um cliente que precisa de aplicar solas, um taco para trocar, uma pintura ou remendar", enfatizou.
Disse que faz tudo o que for preciso em sapatos usados e também faz novos, mas para isso, referiu “ não se usa mágica, mas sim arte de mãos com apoio de equipamentos”.
Para o efeito, lembrou que é necessário equipamento e vários artefactos, que são adquiridos apenas em Benguela, Luanda, Huíla e Namíbia, o que encarece os encargos dos trabalhos realizados.
Por seu turno, Isaías Kondji, novo na profissão, realça que por amor à arte e não ter conseguido outra alternativa de emprego abraçou a actividade há um ano.
Explicou que diariamente tem aprendido muito com este ofício, com o qual sustenta a família, com o rendimento estimado de até 40 mil kwanzas mensais.
Lamentou o facto de muitos jovens não demonstrarem interesse em seguir esta profissão e apontam como causa as baixas receitas que resultam desta actividade, aliada ao facto de o material de trabalho ser caro.
No seu entender, o número de clientes ainda é reduzido devido a falta de hábito das artes de sapataria, para além da preferência de muitos adquirir calçados comercializados em lojas ou boutiques.
Esta situação, acrescentou, tem levado à redução do número destes artífices na província que, por falta de obras, acabam por fechar às portas, enveredando por outras profissões.
De realçar que o sapateiro já não é apenas um profissional que conserta, fabrica e faz diversos trabalhos em calçado. Hoje fazem outros acessórios como bolsas, carteiras, cintos, usando, na sua maioria, o couro como matéria-prima.