Lubango - As famílias das vítimas dos conflitos armados na localidade do Indungo, município do Cuvango, na Huíla, solicitaram hoje, quinta-feira, ao Governo de Angola, um memorial no local, para “eternizar” os seus ente-queridos.
Trata-se um massacre perpetuado pelas então forças militares da Unita, as ex-FALA, a quatro de Setembro de 1977, cujas vítimas tinham sido depositadas em vala-comum.
Ao falar em nome das famílias, Marcelino Tyamba, agradeceu o Governo angolano pelo trabalho feito na identificação de seus ente-queridos, pelo que para “eternizá-los”, a construção do monumento no local seria uma mais-valia.
Destacou que todo homem pela sua dignidade de pessoa merece no fim da sua existência terrena, um funeral, um acompanhamento digno, mesmo que tal fim tenha sido marcado pelas circunstâncias bélico-militares.
Ressaltou que as famílias das vítimas em termos de estratificação socioeconómica são de camada baixa, daí que não dispõem de recursos, quer materiais ou financeiros para transportar as urnas para a aldeia, tão pouco para a abertura das covas e por esta razão, “imploram” a CIVICOP um apoio nesse quesito.
As famílias encorajaram a Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos (CIVICOP) a continuar com o árduo processo de identificação das vítimas que tantos outros lugares como este onde saíram as ossadas existem em várias regiões do país.
Entrega das ossadas é compromisso com a justiça - governador
O governador da Huíla, Nuno Mahapi, considerou hoje, quinta-feira nesta cidade que a entrega das ossadas de vítimas dos conflitos armados simboliza o retorno aos seus lares ancestrais e compromisso do Estado com a justiça e a verdade.
Referiu ser um acto histórico, que obriga a todos a reflectir sobre a história, identidade e a dignidade dos antecessores da província, sendo um acto de recolhimento da memória daqueles que contribuíram para construção da Huíla, cujas vidas foram sacrificadas.
Agradeceu a todos os familiares que tiveram a coragem e a paciência de aguardar por este momento, um retorno que augura que traga paz às famílias e a reconciliação, para que o legado dos ente queridos continue a inspirar e a guiar os huilanos para um futuro de justiça e prosperidade.
Foram entregues às famílias pela CIVICOP, os restos mortais de 30 vítimas de conflitos armados na localidade de Indungo (Cuvango) em 1977, cujos cadáveres foram encontrados numa vala comum no município da Jamba.
O trágico incidente aconteceu por volta das quatro horas, do dia 04 de Setembro de 1997, onde os aldeões desarmados foram surpreendidos por um ataque perpetrado por guerreiros da UNITA que resultou em 37 mortos. Estes foram recolhidos, transportados e enterrados na vala comum na Jamba.
Transcorridos 44 anos e com transformações políticas que ocorreram no país consubstanciado na política de perdão e reconciliação nacional e consequentemente a criação da CIVICOP, o familiares e amigos para recordar e perpetuar a memória dos falecidos solicitaram os Governo de Angola em Outubro de 2020 a exumação, trasladação e enterro na aldeia onde ocorreram os facto.
A regedoria de Indungo, 45 quilómetros da sede municipal do Cuvango, foi fundada em 1427, numa altura que frequentou aquela localidade um caçador chamado Ndaca Songo, que na sua actividade de caça encontrou um elefante e matou o mesmo. Debaixo de uma árvore, encontrou um jindungueiro e aproveitou o fruto para degustar a carne, daí surgiu o nome de Indungo.
Só na referida localidade foram 37 pessoas que morreram na altura, pelo que os restantes sete faltam os familiares para doarem amostras para a verificação de compatibilidade dos restos ósseos que se encontraram.
Desde o início dos trabalhos, a CIVICOP já recolheu o ADN de 414 famílias a nível de várias localidades do país, cuja entrega das ossadas, em simultâneo com as certidões de óbito e laudo pericial começou em 2021. EM/MS