Genebra - A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou hoje para o impacto das actividades humanas na libertação de poeiras na atmosfera, cujas concentrações aumentaram em 2023 em certas zonas do planeta, como China e Mongólia, noticiou o site Notícias ao Minuto.
"Necessitamos de estar vigilantes face à contínua degradação ambiental e às alterações climáticas. Provas científicas demonstram que as actividades humanas estão a ter impacto nas tempestades de areia e poeiras. Por exemplo, temperaturas mais elevadas, secas e maior evaporação levam a uma menor humidade do solo, que, combinada com a má gestão da terra, conduz a mais tempestades de areia e poeiras", advertiu, citada num comunicado, a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.
Segundo a OMM, que hoje divulgou o relatório anual sobre poeiras, no Dia Internacional de Combate às Tempestades de Areia e Poeiras, todos os anos "cerca de dois mil milhões de toneladas de poeiras entram na atmosfera, escurecendo os céus e prejudicando a qualidade do ar em regiões que podem estar a milhares de quilómetros de distância, afectando economias, ecossistemas, tempo e clima".
Em grande parte, tal deve-se a "uma má gestão da água e da terra", assinala a OMM, agência da ONU, organização liderada pelo português António Guterres que estima que pelo menos 25% das emissões globais de poeiras têm origem em actividades humanas.
De acordo com o relatório hoje publicado, as concentrações médias de poeiras aumentaram em 2023 no oeste da Ásia Central, no centro-norte da China e no Sul da Mongólia face a 2022.
No ano passado, a tempestade de areia mais severa ocorreu em Março na Mongólia, atingindo uma área de mais de quatro milhões de metros quadrados, incluindo 20 províncias da China.
No hemisfério sul, as concentrações de poeiras alcançaram o seu nível mais alto em partes da Austrália Central e na costa oeste da África do Sul.
De acordo com a OMM, as regiões mais vulneráveis ao transporte de poeiras de longa distância são o norte do oceano Atlântico tropical, entre a África Ocidental e as Caraíbas, a América do Sul, o mar Mediterrâneo, o mar Arábico, a baía de Bengala e o Centro-Leste da China.
Em 2023, o pico anual estimado para a concentração média de poeiras registou-se em algumas áreas do Chade, país no Centro-Norte de África abrangido pelo deserto do Sara.
No ano passado, em Agosto, uma nuvem de poeiras do norte de África afectou a qualidade do ar em Portugal continental.
As poeiras com origem nesta região do globo voltaram em 2024 a afectar Portugal, e com mais frequência, nos meses de Março, Abril e Junho.
Mas nem tudo é mau, segundo a Organização Meteorológica Mundial, que, citando um novo estudo, realça que a deposição de poeiras do Sara nas águas do Atlântico favorece o crescimento de fitoplâncton (algas microscópicas e cianobactérias), de que se alimentam peixes como o atum-bonito, cuja captura aumentou entre as décadas de 1950 e 2020.CQ/CS