Paris - Christine Pires Beaune, deputada socialista na Assembleia Nacional francesa, recandidata-se nas eleições legislativas de Junho e admite uma vitória da esquerda após o acordo histórico de coligação entre partidos que "responde à grande expectativa" do eleitorado esquerdista.
"É possível ganhar se tivermos o mesmo fenómeno do voto útil e é por isso que esta coligação é interessante. Na perspetiva do voto útil, as pessoas vão pôr de lado as suas bandeiras e dizer que vão votar no candidato de esquerda, quem quer que ele seja", defendeu Christine Pires Beaune em entrevista à Agência Lusa.
A deputada franco-portuguesa integrou a Assembleia Nacional em 2012 e é uma das 70 candidatas do Partido Socialista na coligação com a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon, os ecologistas e os comunistas.
Esta coligação, apelidada de Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES), nasceu da mensagem enviada pelo eleitorado de esquerda na primeira volta das eleições presidenciais, segundo a deputada.
"Considero que o acordo encontrado responde à grande expectativa das pessoas que tradicionalmente votam à esquerda e que nos mostraram, durante a eleição presidencial, que não queriam mais guerras entre nós e queriam sim que nos uníssemos. Houve um voto útil em Jean-Luc Mélenchon, ele teve milhões de votos e muitos socialistas votaram nele porque queriam um candidato de esquerda na segunda volta", explicou.
Com o acordo, em 577 circunscrições, o PS obteve 70 candidatos, um número muito criticado internamente. No entanto, Christine Pires Beaune, candidata pela segunda circunscrição do departamento Puy du Dôme, junto à cidade de Clermont Ferrand, diz que esta foi uma negociação realista.
"Eu não negociei este acordo, portanto não direi se ele é suficiente ou não, o que eu observo é que temos 70 candidatos em 577 e que hoje na Assembleia temos 25 deputados, portanto 70 é o triplo. Temos de ver onde estamos hoje, temos de ser realistas", sublinhou.
Quanto aos dissidentes, como o antigo primeiro-ministro Bernard Cazeneuve, que já anunciou a saída do PS devido a este entendimento à esquerda, a deputada considera que "é difícil" e que há quem pense no seio do partido que teria sido melhor avançar sozinho, mas que a outra parte do partido "ouviu a mensagem desesperada" dos eleitores de esquerda.
Nos próximos cinco anos, Christine Pires Beaune, que é secretária da Comissão de Finanças, quer continuar a mostrar aos franceses que os impostos são importantes e bater-se por causas locais.
"É preciso acabar com a diabolização dos impostos em França. Precisamos do dinheiro público para ter melhores serviços públicos, isso é óbvio. Dizer aos franceses que o serviço público pode melhorar com menos impostos é só demagogia e hipocrisia", declarou.
Se esta coligação pré-eleitoral pode durar no Parlamento, a deputada não tem qualquer dúvida, já que afirma ter votado ao lado dos insubmissos 74% das leis na última legislatura.
Quanto a Mélenchon ser primeiro-ministro e o Governo que poderá vir a formar, Christine Pires Beaune espera que ele se apoie na NUPES, até porque os franceses "não são contra" uma coabitação entre a esquerda e Emmanuel Macron.
"Os períodos de coabitação em França deram origem a belas reformas e os franceses não são contra a coabitação", concluiu.
As eleições legislativas em França realizam-se a 12 e 19 de Junho.