Luanda – A música, a dança e a literatura abriram as mentes dos angolanos para que investissem com todo o fervor patriótico, seu esforço, sangue e sua vida, para alcançar a Independência nacional, afirmou o músico Zé Maria Boyoth.
Em declarações à ANGOP no quadro das festividades do 49.º aniversário da Independência, que se assinala esta segunda-feira, 11 de Novembro, Boyoth explicou que as artes no seu todo manifestaram, fundamentalmente, a necessidade de conquistar a liberdade.
De acordo com o artista, a música, a dança e outras artes em Angola catalisaram a participação dos jovens na vida política e militar.
“A música fez com que nós escolhêssemos os nossos ídolos, tanto políticos, artísticos e entre outras direcções”, expressou.
No seu entender, os artistas dessa época compunham, utilizando terminologias para educar os jovens no ideário da Independência, no sentido de serem livres como um povo soberano.
Para ele, as artes tiveram um papel de propiciar a liberdade de as pessoas exprimirem o que sentem.
Por outro lado, acrescentou, as canções feitas depois de 1975, como as do Ngola Ritmos e dos Kiezos, também foram a continuidade de todas as músicas dos anos 60 e 70 que impulsionaram a juventude a entregar-se de corpo e alma à luta pela Independência.
Descreveu a música como sendo tranquilizadora para os espíritos e dinamizadora para o corpo todo numa pista de dança.
“A Independência para mim significa a autodeterminação. Hoje possuímos a nossa bandeira, símbolo maior, temos o hino nacional, um Presidente e estrutura governamental que são todos angolanos”, asseverou.
No entanto, continuou, com a capacidade militar, e ajudados por países aliados, os angolanos conseguiram desalojar do seu território os mercenários ou os países invasores.
No seu entender, umas das vantagens que a Independência trouxe tem a ver com a construção de novas infra-estruturas, que actualmente atendem à vontade dos guerreiros que participaram na luta de libertação.
Zé Maria Boyoth afirmou que, hoje em dia, só há cicatrizes daquilo que o povo angolano almejava encontrar que é a paz, a irmandade, o amor e a igualdade.
Acrescentou ainda que, com as dificuldades vividas, os angolanos aprenderam a encontrar vias conducentes a um futuro próspero em que todos os guerreiros ou todas as famílias tivessem a sua casa, possibilitando assim a aquisição dos seus bens.
Apelou aos jovens para preservar bem o legado da Independência para não passarem pelo mesmo sofrimento que os seus ancestrais enfrentaram.
O músico lamentou o consumo excessivo de música estrangeira que, segundo ele, está a desviar a educação musical angolana para rumo inadequado.
“Precisamos de educar as gerações actuais, para que sintam o fervor dos ritmos nacionais, também muito bons ou doces”, asseverou.
O músico manifestou, todavia, a esperança de que se consiga, de hoje em diante, levar os angolanos a identificar-se corajosamente com a sua arte, para evitar “invasões” de outras melodias e combinações de notas.
Considera que a verdadeira identidade nota-se “no comer, no vestir, no andar, na voz, na saudação e em todo o tipo de convivência.
Por isso, apelou para a necessidade de se mudar o tipo de música que se faz hoje, baseada nos ritmos que “não caracterizam muito os angolanos”.
“É preciso que se respeite o folclore sem ganharmos aquele preconceito de que o folclore é o antigo. Agora, folclore é uma música sempre recente e será sempre recente”, explicou.
Na visão de Zé Maria Boyoth, a música deve continuar a preservar o legado da Independência nacional, respeitando as origens ou os princípios particulares de cada região.
Reiterou o apelo aos músicos para olharem para a manifestação multicultural que o país possui, de modo a saberem interpretar os valores éticos.
Para o efeito, defendeu a necessidade de um investimento, visando fazer com que os artistas viajem para poder cantar de acordo com aquilo que o povo quer.
“A música angolana deve ser estudada, amplamente produzida e divulgada para que todas as gerações vindouras possam rever-se (nela) sem preconceito”, concluiu.
Zé Maria Boyoth é conhecido por ter empreendido um processo singular de recolha e interpretação do cancioneiro da região do Cuanza-Norte, sobretudo das canções tradicionais dos povos que habitam a zona de confluência dos municípios de Lucala, Samba Cajú e Kalandula, incluindo a zona do Golungo Alto, Cazengo, Máua e Camabatela.
Nasceu, a 10 de Maio de 1961, na cidade de Ndalatando, província do Cuanza-Norte. AMC/SEC/IZ