Istambul (Do enviado especial) - As incertezas da modalidade de futebol para amputados, cujo Campeonato do Mundo, o 16º, decorre na cidade turca de Istambul, vir a integrar-se no programa dos Jogos Paralímpicos persistem.
A adaptação do futebol convencional, desenvolvida na década de 80, nos Estados Unidos da América, permitindo que pessoas com amputação ou má-formação de membros possam jogar com sucesso será, mais uma vez, alvo de avaliação nesta Copa do Mundo.
Istambul reúne dirigentes máximos das Federações Nacionais e Internacionais e os temas sobre a classificação médica-desportiva e o eventual perigo que a muleta pode representar para o praticante merecerão prioridade.
Os membros do Comité Paralímpico Internacional (IPC), órgão que tutela o desporto adaptado no mundo, defendem a ideia de perigo em caso de danificação da muleta durante o jogo, mas a vivência competitiva tem provado exactamente o contrário.
Ao longo dos anos foram feitos estudos e ficou provado que a muleta não constitui perigo, mais ainda assim existe a possibilidade de se revestir àquele instrumento com um material flexível, como garante de maior segurança.
Será com essas e outras alegações que as entidades deste tipo de desporto tentarão convencer o IPC a reconsiderar e abrir portas para uma integração do futebol para amputados nas modalidades sob sua tutela, inicialmente a título experimental.
Não sendo para já nos Jogos Paralímpicos de França (Paris´2024), a perspectiva é que tal integração ocorra nos eventos de 2028, em Los Angeles (EUA), ou Brisbane (Austrália), em 2032, numa altura em que o movimento e número de praticantes aumenta em todo o mundo.
Em Angola, esta modalidade surgiu no decurso de 1997, na província do Moxico, tendo como impulsionador o actual seleccionador nacional, Augusto Baptista Cheto.
A iniciativa surgiu enquanto funcionário do Centro de Reabilitação Física, então sob gestão de veteranos vítimas de minas do Vietname. Na altura concentrou mais de vinte interessados para dar início ao projecto que hoje se tornou gigante.
De lá para cá o desenvolvimento e adesão estão à vista, pois já é praticado em quase todas as 18 províncias do país, excepto no Cunene, Zaire, Huíla e Cuanza Sul, contando com mais de 600 praticantes.
Angola participou pela primeira vez em um Campeonato do Mundo, em 2010, disputado na Argentina, em que ficou na nona posição, em 17 concorrentes. O país tornou-se já referência africana e mundial tanto desportivamente como em termos de liderança.
Na sua segunda presença num evento mundial, México´2014, a selecção nacional sagrou-se vice-campeã e na terceira, também no México, o título foi inevitável, ultrapassando países da Europa e América com mais tempo e melhores condições de praticabilidade.
Naquela competição, o angolano Celestino Elias foi considerado o atleta mais valioso (MVP), repetindo a proeza no Campeonato Africano no ano seguinte.
Em África, Angola também vem-se impondo, tendo conquistado o Campeonato Africano em 2018, prova disputada na província angolana de Benguela.
Em termos de dirigismo, a angolana Celeste Tchiama foi eleita primeira vice-presidente da Federação Internacional (WAFF), enquanto Leonel da Rocha Pinto é o Presidente da Federação Africana (FAAF), tendo António da Luz como tesoureiro.
O futebol com muletas é jogado por sete atletas por cada equipa, todos amputados de um dos membros inferiores.
Com substituições ilimitadas, os guarda-redes são os únicos deficientes de um dos membros superiores.
A partida tem 50 minutos em dois períodos de 25 cada e é ajuizada por dois árbitros, num campo com dimensões mínimas de 60 metros de comprimento e 38 de largura.
A muleta não pode tocar na bola de forma intencional. Se assim acontecer, será considerado um movimento faltoso.