Cabo Delgado - Um total de 15 pessoas morreu entre sexta-feira e domingo durante ataques armados a três aldeias do distrito de Nangade, em Cabo Delgado, norte de Moçambique, disseram fontes locais à Lusa.
Grupos armados invadiram as aldeias de Mbuidi, Malamba e Nangõmba, esta última a apenas um quilómetro da sede distrital de Nangade.
"Na sexta-feira, os 'terroristas' atacaram aldeia de Mbuidi, no sábado atacaram a comunidade de Malamba e no domingo, pelas 10:00 locais atacaram Nangõmba", relatou uma fonte que fugiu desta aldeia para a sede distrital.
Segundo a mesma fonte, a população daquela região deixou de ir aos campos de cultivo, apesar de a agricultura de subsistência ser a principal ocupação de todas as famílias.
"Ninguém vai à machamba (campos agrícolas) por [ter] medo dos insurgentes", referiu, acrescentando que a população teme o surgimento de "fome durante este ano" nalgumas comunidades.
Uma outra fonte contactada pela Lusa, relatou mau cheiro nas matas atribuído à decomposição de corpos abatidos, alguns decapitados, e que não são enterrados por falta de segurança e dificuldades de acesso provocadas pelas chuvas.
"Nalgumas zonas há mau cheiro porque com a chuva e os ataques sem cessar ninguém consegue enterrar os corpos", disse.
Questionada sobre a mobilidade na estrada que liga Nangade ao distrito seguro de Mueda, a mesma fonte referiu que a ligação tem sido feita com escolta das Forças de Defesa e Segurança e da força local, composta por ex-combatentes e civis.
"Ninguém se atreve a sair sozinho para Mueda, sem escolta, porque eles [grupos armados] atacam aldeias vizinhas e nalguns casos ao longo da estrada principal", concluiu.
Encostado à fronteira com a Tanzânia, através do rio Rovuma, Nangade está entre duas partes distintas de Cabo Delgado: a nascente faz fronteira com Palma e Mocímboa da Praia, palco dos principais confrontos, e do lado poente com Mueda, que tem servido de refúgio para milhares de deslocados.
Muitos deslocados passam por Nangade para tentar chegar a outros pontos da província, mas agora sem sucesso, porque as ameaças têm surgido ao longo da estrada e há receio de circular.
À medida que a ofensiva apoiada pelo Ruanda e Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) avança, suspeita-se que também os rebeldes fogem para distritos e províncias vizinhas, dando origem a estes novos ataques contra povoações.
O distrito de Nangade era um dos maiores produtores de caju na província de Cabo Delgado, mas a insegurança tem prejudicado a actividade, sobretudo depois de começar a ser alvo de ataques frequentes, desde o início de Fevereiro.
A província de Cabo Delgado, é rica em gás natural, mas, aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, e mais de 859 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.