Luanda – O aumento de casos de doenças respiratórias agudas é uma realidade constante no país, sempre que se regista a mudança climática. Todos os anos, quando o frio "bate à porta", a história repete-se, elevando a pressão nos hospitais.
Por Francisca Miguel Augusto
A paragem temporária das chuvas e o consequente começo do "cacimbo" acarreta, quase sempre, problemas de saúde nas famílias angolanas, sobretudo em doentes com doenças respiratórias de base, que precisam de redobrar os cuidados para se prevenirem das enfermidades da época.
Ao longo dos anos, já se tornou comum a chegada do frio "pegar" milhares de cidadãos praticamente desprevenidos, sem roupas apropriadas, em quantidades suficientes para enfrentarem a nova estação e sem saberem como evitar as incômodas gripes e os resfriados.
Em concreto, a falta desses cuidados redobrados tem sido responsável pelo aumento de casos de tosse e pneumonia, doenças que têm tirado o sono a milhares de angolanos, fundamentalmente desde o surgimento da pandemia da Covid-9 em Angola.
Com o número de casos e óbitos resultantes do novo coronavírus a aumentar diariamente, os angolanos são chamados a redobrar os cuidados de prevenção contra as doenças do foro respiratório, muito frequentes nesta época, particularmente entre as crianças.
Dados disponíveis indicam que as unidades de referência da província de Luanda, com destaque para o Hospital Josina Machel, registam cerca de 50 casos de doenças respiratórias/dia, que podem aumentar, segundo especialistas, se a sociedade não cumprir os cuidados básicos.
Conforme o médico Euclides Sacamboio, esses dados são subestimados pelos cidadãos, pelo que os números reais podem, eventualmente, estar muito acima dos avançados.
"Os pacientes que acorrerem às unidades sanitárias devem ter a atenção necessária, porquanto essas doenças podem ser associadas ou confundidas com a Covid-19", diz.
Já o médico Jeremias Agostinho, especialista em saúde pública, manifesta-se preocupado com o aumento das doenças respiratórias agudas nesta época do ano, e alerta que as crises podem ser mais frequentes em doentes respiratórios acometidos com asma e bronquite.
"No período frio, as pessoas tendem a ficar em locais quentes e de mais aglomerados. É aí que mora o perigo, por causa da proliferação de doenças como a Covid-19", alerta.
De acordo com o especialista, a preocupação com as doenças do tempo seco aumenta à medida que crescem, nas comunidades, os casos de transmissão das novas variantes do novo coronavírus.
Neste período, o médico alerta para o redobrar dos cuidados, atendendo a perigosidade da segunda vaga da Covid-19, particularmente entre os pacientes pertencentes aos chamados grupos de risco.
É o caso de Maria de Sousa, 28 anos de idade, que padece de problemas respiratórios agudos, e diz-se ciente dos riscos desta época. Por isso, afirma estar pronta para os desafios da nova estação climática.
"Face à Covid-19, é necessário reforçar as medidas de prevenção", afirma, sublinhando que a época de frio tem sido um "martírio", por causa da asma, aconselhando as pessoas de risco a prevenirem-se.
Também do grupo de risco, António Venâncio, de 63 anos, conta que nos últimos dias aumentou a preocupação em relação à Covid-19, pelo que promete reforçar as medidas de prevenção e combate.
Com semblante carregado, o idoso, que padece de problemas respiratórios e diabetes, diz ter reforçado o seu guarda-roupa para melhor agasalhar-se e o stock dos materiais de biossegurança.
"Já perdi três membros da família por causa da Covid-19 e sei quão difícil é você não poder dar o último adeus ao seu familiar", enfatiza o cidadão.
Ao contrário de António Venâncio, Manuela Alfredo, 50 anos de idade, diz que não apresenta problemas de saúde de base, mas queixa-se do aumento dos preços das roupas de frio.
Mãe de cinco filhos, Manuela Alfredo recorreu aos fardos (roupa usada) para adquirir peças de vestuário pesadas, a fim de ajudar a agasalhar-se nesta época do ano.
"São muitas despesas e para nos protegermos é necessário adquirir o material de biossegurança, comida, roupa e propinas. Está muito complicado", desabafa.
Reforço da prevenção
Face às consequências provocadas pelo frio, o médico Jeremias Agostinho aconselha a população a redobrar os cuidados, fundamentalmente no manuseio e posicionamento dos ventiladores em casa.
O médico aconselha os cidadãos no sentido de posicionarem as ventoinhas de forma a soprarem para fora das janelas, nesta época fria, de forma a ajudar na ventilação das casas, uma vez que nesta altura muitas famílias optam por não abrir as portas, por causa da unidade.
Por sua vez, Euclides Sacomboio recomenda que as pessoas lavem constantemente as mãos nesta época, em especial antes de comerem, depois de fazerem as necessidades e sempre que for necessário.
Conforme o médico, o agasalho é um elemento fundamental para a prevenção da pandemia nesta época de frio, principalmente para quem tem problemas respiratórios.
De acordo com os especialistas, a sociedade deve estar bastante vigilante durante os três meses de tempo seco (Junho, Julho e Agosto), evitando expor-se desnecessariamente em zonas de fácil contaminação por resfriados, constipações e outras doenças.
Só desta forma, afirmam, será possível evitar o aumento da pressão sobre os hospitais do país, por si já bastante saturados com pacientes acamados com doenças típicas do tempo chuvoso, como febre tifoide, dengue e malária, esta última a principal causa de morte entre os angolanos.