Washington - O presidente francês, Emmanuel Macron, vai iniciar hoje, em Washington, uma visita de Estado estratégica onde não faltará 'pompa e circunstância', nem a abordagem de questões-chave como disputas comerciais e a guerra na Ucrânia.
Naquela que é a primeira visita de Estado de um líder estrangeiro desde que Joe Biden assumiu a Presidência norte-americana, Macron, que aterrou em Washington na noite de terça-feira, será recebido na Casa Branca com uma salva de 21 tiros.
Contará ainda com um jantar de Estado, na quinta-feira, que contará com a actuação de Jon Batiste, vencedor do 'Grammy' de Álbum do Ano em Abril passado.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, elogiou na segunda-feira Macron, classificando-o como o "líder dinâmico" do aliado mais antigo dos Estados Unidos, e referindo que Biden sentiu que França era o "país certo e mais apropriado para começar as visitas de Estado".
Macron também foi a escolha do ex-presidente Republicano Donald Trump como o primeiro líder estrangeiro a ser homenageado com uma visita de Estado durante o seu mandato.
No passado parece ter ficado o começo instável da relação Biden-Macron, abalada pelo facto de a Casa Branca ter anunciado, há cerca de um ano, um acordo para vender submarinos nucleares à Austrália, minando um contrato da França para vender submarinos movidos a diesel.
Após altos e baixos, o relacionamento tem vindo a evoluir nos últimos meses, com Macron a emergir como um dos aliados europeus mais próximos de Biden na resposta ocidental à invasão russa da Ucrânia.
Esta visita de Macron aos Estados Unidos está a ser aguardada com muita expectativa pela imprensa norte-americana e por especialistas políticos, que vêem a deslocação do líder francês como um retorno à normalidade, após os anos turbulentos do Governo de Donald Trump e a feroz disputa diplomática desencadeada pelo pacto de defesa AUKUS - aliança militar tripartida formada pela Austrália, os EUA e o Reino Unido - no ano passado.
"Esta visita de Estado é simbolicamente significativa como o regresso do relacionamento transatlântico ao centro da estratégia americana no mundo, e é notável que o país que recebe o primeiro aceno seja a França, e não a Alemanha ou o Reino Unido", disse Charles Kupchan, um professor de relações internacionais na Universidade de Georgetown, ao jornal The New York Times.
Do lado francês, o jornal "Le Monde" refere que esta visita de Emmanuel Macron é "a visita de um aliado, mas não de um amigo".
Paris e Washington têm estado alinhadas no apoio incansável a Ucrânia e na condenação de Vladimir Putin, mas mesmo os estilos de liderança divergem.
Biden chamou o líder russo de "criminoso de guerra", enquanto Macron tenta há vários meses chamar Putin à razão com contactos permanentes com o Kremlin.
Se há 10 meses as duas capitais têm um objectivo comum, ou seja, a paz na Ucrânia, em 2021, a venda falhada dos submarinos franceses à Austrália, que anunciou depois uma encomenda aos norte-americanos, veio abalar as relações diplomáticas entre os dois países.
Este era um dos contratos mais esperados pela indústria aeronáutica francesa e o recuo de Cranberra com a cumplicidade dos Estados Unidos, causou desagrado no Palácio do Eliseu.
O primeiro item da agenda pública de Macron em Washington é uma reunião na sede da NASA na manhã de hoje, onde será acompanhado pela vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, seguida de um almoço com membros do Congresso para discutir mudanças climáticas e biodiversidade.
Mais tarde, Biden e Macron terão uma longa lista de assuntos para abordar numa reunião na Casa Branca, incluindo o programa nuclear do Irão, a cooperação dos dois países em defesa, a crescente assertividade da China no Indo-Pacífico e as crescentes preocupações com segurança e estabilidade na região africana do Sahel, segundo autoridades norte-americanas e francesas.
Mas o ponto central será mesmo a guerra da Rússia na Ucrânia, já que Biden e Macron trabalham para manter o apoio económico e militar a Kiev enquanto tenta combater as forças russas.
Emmanuel Macron quer também uma 'ressincronização' da resposta económica, de ambos os lados do Atlântico, à crise provocada pelo conflito e, de forma mais ampla, ao nível da transição ecológica e da concorrência com a China.
Sobre este último ponto, crucial para Joe Biden, que vê a rivalidade com Republica Popular da China como o principal eixo da sua política externa, um alto funcionário da Casa Branca reconheceu que as posições dos norte-americanos e dos europeus não eram "idênticas", mas que todos partilhavam o desejo de "jogar uma pontuação comum em resposta à Beijing".
Depois de Washington, Macron deverá seguir para New Orleans, no Luisiana, para se encontrar com a comunidade francófona e francesa local e discutir a parceria de transição energética de Paris com aquele estado, que já foi uma colónia francesa.
A acompanhar Macron estarão os ministros Bruno Le Maire, que detém a pasta da Economia, Sébastien Lecornu, à frente da Defesa, e ainda Catherine Colonna, ministra dos Negócios Estrangeiros.