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Desporto uniu Angola em quase meio século de independência

1.º de Agosto-Petro de Luanda - "clássico" desde os primórdios da independência
1.º de Agosto-Petro de Luanda - "clássico" desde os primórdios da independência
Pedro Parente - ANGOP

Luanda – Desde os primórdios da Independência nacional, alcançada em 11 de Novembro de 1975, o desporto angolano assumiu-se como factor de unidade nacional, registando crescimento galopante, mesmo em período de conflito armado.

Por Marcelino Camões, jornalista da ANGOP

Efectivamente, após a concretização do sonho da liberdade, foram criadas as primeiras políticas voltadas para o desporto de recreação e de alto rendimento, com o futebol como única a disputar-se por todo o país.

O "desporto-rei” não é a modalidade mais titulada em Angola, mas é, inequivocamente, o que mais movimenta multidões. É um acto de socialização capaz de ultrapassar diferenças políticas ou crenças religiosas.

A compreensão do estado do desporto em 49 anos de liberdade passa também por outras modalidades como o jiu-jitsu, artes marciais mistas, desporto náutico, adaptado, basquetebol e andebol, além de outras teoricamente menos expressivas.

No entanto, a narrativa sobre o futebol acaba por monopolizar o debate sobretudo pela sua “vocação” aglutinadora como ficou provado, por exemplo, com a presença nos Campeonatos do Mundo “Alemanha’2006” e Africano das Nações “Angola’2010”.

Vários grandes momentos marcaram a história da modalidade até à data. O primeiro foi a qualificação para o Mundial da Alemanha’2006, deixando para trás a então poderosa Nigéria, com o técnico Oliveira Gonçalves no comando.

Relevante foi ainda a conquista do único troféu continental. Angola tem títulos regionais, mas de âmbito africano obteve apenas em 2001 com os Sub-23, na Etiópia, prova qualificativa ao mundial no mesmo ano, na Argentina, outra vez com Oliveira Gonçalves no “leme”.

Os angolanos voltaram a viver emoções fortes quando o país albergou, pela primeira vez, uma edição do Campeonato Africano das Nações (CAN’2010), qualificando-se pela segunda vez aos quartos-de-final, após tê-lo conseguido já em 2004, no Ghana.

Com a construção de quatro estádios de raiz e uma organização considerada ao mais alto nível como exemplar, inclusive pela Federação Internacional de Futebol Associação (FIFA), o país escreveu mais uma página na sua história.

Em termos globais, Angola produziu, em 49 anos, uma imensidão de estrelas de peso internacional como Joaquim Dinis, Vata, Malucas, Ndunguidi, Jesus, Abel Campos, Sarmento, André, Vicy, Nzuzi, Napoleão, Chico Afonso, Santo António, Mendinho, Túbia, Paulão, Nejó, Neto e Quim Sebastião.

Seguiu-se a geração em que pontificaram, entre outros, Akwa, Mantorras, Flávio Amado, Gilberto, André Makanga, Kali, João Ricardo, Figueiredo, Jamba, Mendonça, Jacinto, Delgado, Lama, Love Kabungula, Mateus Galiano, Marito, Dani Massunguna e Zé Calanga.

Depois do CAN de 2010, viveu-se um período descendente com intermitência nas participações em Campeonatos das Nações até à qualificação para a edição da Côte d’Ivoire disputada em Janeiro/Fevereiro deste ano.

Na verdade, a participação do evento na Côte d’Ivoire foi como que a ressurreição do futebol nacional. Angola não só se qualificou para os quartos-de-final como também, pela primeira vez, liderou o grupo D com números inéditos desde que se iniciou em eventos do género, em 1996, na África do Sul.

Os Palancas Negras terminaram a fase inicial na liderança com sete pontos, fruto de duas vitórias face à Mauritânia (3-2) e ao Burkina Faso (2-0) e empate diante da Argélia (1-1). Marcou seis golos, sofreu apenas três.

Nos quartos-de-final foi eliminada pela Nigéria com derrota de 0-1, num jogo muito equilibrado, mas melhores oportunidades de golos, inclusive aos 58 minutos, Zini Salvador, isolado na cara do guarda-redes contrário, acertou no poste.

Está-se mediante uma nova era do futebol nacional, faltando um ano para a celebração de meio século desde que Agostinho Neto, o primeiro Presidente dos angolanos, proclamou perante o mundo que Angola se tornou numa nação independente.

Presentemente, liderados por Pedro Gonçalves, como ocorreu no CAN anterior, a selecção nacional segue fazendo história e já está qualificada, antecipadamente, para o Campeonato Africano de 2025, em Marrocos.

Nesta era pontificam nomes como Neblú, Hélder Costa, Bastos Quissanga, Fredy (Cap), Gelson Dala, Show, Zito Luvumbo, Kialunda Gaspar, David Carmo, Mabululu, Zini, Cliton Mata, Núrio Fortuna, Jonathan Buatu, Jordy Gaspar, Maestro, Pedro Bondo, Milson, Randy Nteka e Chico Banza.

A Independência também se refletiu na forma como a modalidade foi democratizada. A Federação Angolana de Futebol (FAF) foi a primeira instituição desportiva do país a aderir ao sistema de voto para eleger seus líderes, em 1991, tendo Armando Machado como vencedor da experiência pioneira.

Ao longo dos 49 anos de pura liberdade, o futebol revelou centenas de grandes talentos, exultou o orgulho da Nação, exibiu-se ao mais alto nível e permitiu mostrar a África e ao Mundo que Angola não vivia só de guerra.

Andebol – a mais titulada

Apesar da paixão pelo futebol, o andebol assume-se como a modalidade mais titulada do país, ao longo dos 49 anos de Independência nacional, período em que a selecção nacional se tornou, de forma inequívoca, desde a década de 80, a principal referência em África.

Entretanto, os títulos nessa modalidade não se circunscrevem à selecção nacional.

O andebol, desde a sua primeira conquista, em 1987, pelo Ferroviário de Angola, vem somando triunfos, tendo atingido o topo da modalidade, em África, no escalão feminino.

Os 15 títulos africanos que a colocam em primeiro lugar no ranking continental são apenas os mais proeminentes, pois a Supertaça Babacar Fall e a Taça das Taças africanas também fazem morada nas galerias da Federação Angolana da modalidade, do 1.º de Agosto e do Petro de Luanda.

A nível dos Campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos, as angolanas são as maiores representantes do continente, tendo, inclusive, ocupado a sétima posição no Mundial de França, em 2007, enquanto o país se enchia de orgulho por conseguir colocar a meia-distância Marcelina Kiala como a sexta melhor jogadora do mundo.

Palmira Barbosa é um nome incontornável da modalidade, tendo merecido da Confederação Africana de Andebol o título de melhor andebolista africana de todos os tempos.

Os números traduzem fielmente o peso específico das “pérolas” 15 vezes campeãs de África, 13 participações em Campeonatos do Mundo e oito presenças em Jogos Olímpicos.

Angola venceu a Taça das Nações de andebol feminino em Argel (1989), Yamoussoukro (1992), Túnis (1994), Joanesburgo (1998), Argel (2000), Casablanca (2002), Cairo (2004), Túnis (2006), Luanda (2008), Cairo (2010) e Rabat (2012), Tunísia (2016), Dakar (2018), Yaoundé (2021)e Dakar (2022).

No histórico, as angolanas perderam uma única final, em 1991, na cidade do Cairo, Egipto.

Angola participou, ainda, nos mundiais da Coreia do Sul (1990), da Noruega (1993), da Áustria (1995), da Alemanha (1997), da Noruega (1999), de Itália (2001), da Croácia (2003), da Rússia (2005), de França (2007), da China (2009), do Brasil (2011), da Sérvia (2013), da Dinamarca (2015), da Alemanha (2017), do Japão (2019), de Espanha (2021) e da Noruega (2023).

Foi na edição de 2007, em França, que Angola obteve a 7.ª posição, a melhor de sempre num evento do género, sob liderança de Gerónimo Neto "Jójó", em memória.

Participou nos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996), Sidney (2000), Atenas (2004), Pequim (2008), Londres (2012), Rio de Janeiro (2016), Tóquio (2020) e França (2024).

Nas competições de clubes, o Petro de Luanda é estratosférico, com 19 títulos na Liga de Clubes Campeões, 17 dos quais consecutivos.

Entre 1994 e 2013, as “petrolíferas” somaram 20 títulos nesta prova, com a primeira interrupção em 1996 e uma paragem entre 2014 e 2018, altura em que as petrolíferas não participaram em provas internacionais.

A Supertaça Babacar Fall também foi ganha 17 vezes pelas “tricolores”, marcando um domínio absoluto deste clube em África.

Palmira Barbosa, Maria dos Prazeres, Maura Faial, Elisa Weba, Ilda, Chinha, Ivone, Fábia Raposo, Filomena Trindade, Marcelina Quiala, Justina Praça e Odete Tavares são, entre outras, mulheres que orgulham as cores nacionais pelo mundo.

Entre os técnicos que pautaram a linha de conquistas das angolanas estão Beto Ferreira, Jerónimo Neto “Jojó”, Vivaldo Eduardo e Pina de Almeida, para citar apenas estes.

Basquetebol evoluiu em tempo de guerra

Desenvolvido em tempo de guerra, o basquetebol foi a modalidade colectiva com maior visibilidade na história do país, rivalizando com o andebol e o hóquei em patins, porém com vantagem a nível de prestações nos eventos mundiais e jogos Olímpicos.

A história de conquistas angolanas em África nesta disciplina remeteu já especialistas a uma séria investigação e a outros países a adotarem o mesmo modelo de treinamento.

Os números em provas continentais foram gradualmente sedimentados com o tempo. Na verdade, Angola começou a vencer em África cinco anos após a independência, alcançada em 11 de Novembro de 1975.

Arrebatou, em 1980, o título júnior em Luanda, que depois revalidou em Maputo. Mas foi 1989 que tudo começou “a sério”. Na altura, o líder continental era o Egipto, já com cinco troféus conquistados.

Desde então, apenas em três ocasiões o título não foi para a galeria da sede da Federação Angolana de Basquetebol, em 1997 (Senegal), ganho pelos senegaleses, 2011 (Tunísia) e 2015 (Nigéria).

Desde o primeiro troféu de seniores conquistado, no pavilhão da Cidadela, em Luanda, a selecção nacional somou 11 triunfos (1989, 1991, 1993, 1995, 1999, 2001, 2003, 2005, 2007, 2009, 2013).

Destes, apenas três campeonatos (1989, 1999, 2007) foram disputados em território nacional, o que aumenta o grau de dificuldade.

A supremacia é tão evidente que, desde que Angola começou a ganhar, tornou-se líder do ranking continental, seguido do Senegal e Egipto.

Em femininos, Angola conquistou o Afrobasket, consecutivamente, em 2011 e 2013.

Todo este sucesso justifica-se com a entrada inédita de um jogador angolano na Liga norte-americana de basquetebol (NBA), Bruno Fernando. Foi selecionado pelo Philadelphia 76ers como a 34ª escolha geral no draft da NBA de 2019 e cedido ao Atlanta Hawks.

Actualmente, o jogador, formado no 1.º de Agosto, joga pelo Toronto Raptors, equipa canadiana que atua na NBA.

No percurso de 49 anos de país independente, mesmo em tempo de guerra, o mundo do basquetebol sentiu o “peso” dos angolanos, onde se destaca os Jogos Olímpicos de “Barcelona`92”.

Esta edição da manifestação desportiva mundial ficou na história de Angola, num ano em que se celebravam as primeiras eleições pluripartidárias no país, sob forte tensão político-militar.

A selecção nacional foi a primeira Nação a defrontar o “Dream Team I”, equipa com jogadores da NBA que evoluíram pela primeira vez no evento, como Michael Jordan, Larry Bird, Magic Johnson, Scote Pipen, Charles Barkley e outros.

Nesta prova, o nome do país africano inscreveu-se na história do basquetebol, também, ao derrotar, por 20 pontos, uma selecção europeia em sua própria casa.

Victorino Cunha orientava um grupo onde pontificavam, entre outros, Jean Jacques, José Carlos Guimarães, Aníbal Moreira, Paulo Macedo, Necas, Benjamim Avô, Ângelo Vitoriano e Herlânder Coimbra e David Dias, que participaram na vitória sobre a anfitriã Espanha, por 83-63, considerada escândalo nacional no país ibérico.

Os registos FIBA têm ainda Angola como a formação que “forçou” a Alemanha a três inéditos prolongamentos no Mundial do Japão`2006, em que a selecção nacional obteve a melhor classificação africana, ao ocupar, ao lado da Itália, o nono posto.

Por conta destas manifestações de competência surgiram homenagens merecidas. A Fiba-África considera Jean Jacques da Conceição o maior basquetebolista de todos os tempos em África.

Em seguida, foi a vez da Fiba-Mundo “estender o tapete vermelho” para o extremo-poste que se iniciou no 1.º de Agosto e actuou também em Portugal, Espanha e França.

Jean Jacques torna-se membro do Hall da Fama, um patamar destinado aos agentes que deram contribuição relevante para a modalidade a nível mundial, seguindo-se distinção igual a Ângelo Victoriano (em memória).

A saga de vitória do basquetebol angolano manteve-se em alta até 2013, com uma geração de novos talentos, em que pontificavam, entre outros, Victor de Carvalho, Miguel Lutonda, Edmar Victoriano “Baduna”, Carlos Almeida, Joaquim Gomes Kikas, Carlos Morais, Olímpio Cipriano, Victor Muzade e Abdel Boukar.

Desporto adaptado – orgulho dos angolanos

Fundado em 10 de Novembro de 1994, o desporto adaptado tornou-se no orgulho da Nação, por força de conquistas inéditas.

O expoente máximo nesta vertente do desporto é, sem dúvida, José Armando Sayovo, atleta deficiente visual total, que se notabilizou pelas diversas conquistas em campeonatos africanos, mundiais e Jogos Paralímpicos.

O actual membro de direcção do Comité Paralímpico Angolano possui três participações em Jogos Paralímpicos de Atenas (2004), Beijing (2008) e Londres (2012).

Ao longo de 15 anos de carreira, o velocista deficiente visual total (classe T11) soma 20 medalhas de ouro num universo de mais de cinquenta no total.

Angola é Campeã do Mundo em futebol para amputados (México’2018), sendo que, quatro anos antes, no mesmo país, se havia sagrado vice-campeã.

Em 2019, a Selecção Nacional conquistou o Campeonato Africano da modalidade, disputado em Benguela.

Desde a primeira conquista nos Jogos Africanos de 1996, em Joanesburgo (África do Sul), a natação adaptada acumula seis medalhas, das quais três são de ouro, seguindo-se o basquetebol em cadeira de rodas, vice-campeã do torneio internacional “Lwini2018” com a presença da África do Sul e Suíça.

Contribuição de outras modalidades

O hóquei em patins, apesar de não ter ainda conquistado provas além fronteira, é das modalidades mais mundialistas do país.

No total, contam-se 19 presenças  em campeonatos do mundo, incluindo uma na condição de anfitriã.

Esboçada nos primórdios da Independência nacional, resultando daí a construção do Pavilhão da Cidadela, Angola albergou este evento apenas em em 2013, tendo como palco as províncias de Luanda, Namibe e Benguela.

Seguem-se o judo, cujo expoente máximo é a atleta Antónia de Fátima “Faia”, uma das líderes do ranking africano e com presença em jogos olímpicos, a última das quais, em 2016, no Rio de Janeiro.

A Vela é bicampeã mundial e com vários títulos continentais, enquanto o Jiu-jitsu não fica atrás em termos  de conquistas mundiais, uma das quais por via da atleta de sete anos de idade, Kiriana Neto.

Mais recentemente, concretamente na quinta-feira, Angola conquistou em três dias cinco medalhas de ouro, cinco de prata e duas de bronze pelas academias “Z1 Angola” e a “GF TEAM Angola”. MC/IZ





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