Tóquio - Os líderes do Japão e da Coreia do Sul, reunidos nesta quinta-feira em Tóquio para tentar reforçar os laços bilaterais, concordaram em retomar as visitas diplomáticas recíprocas, anunciou o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida.
"Concordámos em retomar a diplomacia de vaivém, em que os líderes do Japão e da Coreia do Sul, seja qual for o formato, façam visitas frequentes" aos países um do outro, disse Kishida, citado pela agência francesa AFP.
O anúncio foi feito à margem de um encontro de Kishida com o Presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol.
Tóquio também anunciou hoje o levantamento das restrições à exportação de produtos para semicondutores para a Coreia do Sul, impostas em 2019, e Seul vai retirar a queixa sobre a questão junto da Organização Mundial do Comércio.
A visita de dois dias de Yoon marca a cimeira mais importante entre Tóquio e Seul em 12 anos, depois de os dois países terem estado em desacordo em relação a disputas históricas.
Yoon e Kishida, que só se tinham encontrado à margem de eventos internacionais, deverão realizar ainda hoje uma conferência de imprensa conjunta.
A Coreia do Norte marcou a cimeira em Tóquio com o disparo de um míssil balístico intercontinental, que caiu no mar do Japão horas antes da chegada de Yoon à capital japonesa.
O Presidente sul-coreano, que também pode ser convidado por Kishida para a cimeira do G7 em Hiroshima, em Maio, fez do restabelecimento dos laços com Tóquio uma prioridade máxima desde a sua eleição há um ano.
"O Governo japonês juntar-se-á a nós na abertura de um novo capítulo nas relações Coreia-Japão", disse Yoon numa entrevista com vários meios de comunicação social, incluindo a AFP.
O passado tem pesado no relacionamento bilateral, marcado pela colonização japonesa da península coreana (1910-1945) e, em particular, a questão das "mulheres de conforto" coreanas, as escravas sexuais dos soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.
A eleição de Yoon e as crescentes preocupações com as repetidas provocações da Coreia do Norte e as ambições regionais da China suscitaram esperanças de um desanuviamento entre as duas democracias vizinhas.
"Mudanças radicais estão a afectar as relações internacionais", disse à AFP Yuki Asaba, professor de Estudos Coreanos da Universidade Doshisha, da cidade japonesa de Quioto.
Isto "torna mais urgente que Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul coordenem" e reforcem as suas capacidades de dissuasão, acrescentou.
O professor Park Won-gon da Universidade Ewha de Seul disse à AFP que o resultado da cimeira dependerá do grau em que Kishida "está disposto a pedir desculpa" pelos crimes passados do Japão.
Tóquio disse que mantém o seu pedido histórico de desculpas feito nos anos 1990 por acções em tempo de guerra, mas muitos na Coreia do Sul consideram-no insuficiente e criticam o plano de Yoon de compensação pelos trabalhos forçados.
No início de Março, o Governo de Seul aprovou um plano para compensar os sul-coreanos sujeitos a trabalhos forçados pelo Japão na primeira metade do século XX, sem qualquer envolvimento financeiro directo de Tóquio.
A aproximação entre Seul e Tóquio tem sido bem recebida internacionalmente, especialmente por Washington, que quer a reconciliação dos seus aliados asiáticos mais próximos.
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, visitou Seul e Tóquio em Janeiro, para reforçar a cooperação com os dois aliados numa região considerada importante para a segurança euro-atlântica. CQ/CS