Genebra - O conselheiro da Rússia nas Nações Unidas em Genebra (Suíça), Boris Bondarev, renunciou ao cargo, revelou hoje a Sky News.
"Durante vinte anos da minha carreira diplomática, vi diferentes voltas da nossa política externa, mas nunca tive tanta vergonha do meu país como no dia 24 de Fevereiro deste ano", lê-se na carta partilhada no Twitter pelo advogado Hillel Neuer.
Na missiva, Boris diz que a guerra é o "o crime mais grave contra o povo da Rússia" com a letra Z a "riscar todas as esperanças e perspectivas de uma sociedade livre próspera no nosso país".
O conselheiro considera ainda que "o nível de mentiras e de falta de profissionalismo no trabalho do Ministério dos Negócios Estrangeiros tem vindo a aumentar constantemente" e que Lavrov (Ministro das Relações Exteriores da Rússia) é "boa ilustração da degradação deste sistema".
"Boris Bondarev é um herói", disse o director executivo da ONU Watch Hillel Neuer, que participa actualmente no Fórum da Liberdade de Oslo (Noruega), um encontro anual de dissidentes dos direitos humanos.
"Apelamos agora a todos os outros diplomatas russos nas Nações Unidas - e em todo o mundo - para que sigam o seu exemplo moral e se demitam".
Na íntegra, Boris Bondarev afirma que está no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia desde 2002, desde 2019 até agora - Conselheiro da Missão Russa no Gabinete das Nações Unidas em Genebra.
"Durante vinte anos da minha carreira diplomática, vi diferentes voltas da nossa política externa, mas nunca tive tanta vergonha do meu país como no dia 24 de Fevereiro deste ano", adiantou.
"A guerra agressiva desencadeada por Putin contra a Ucrânia, e de facto contra todo o mundo ocidental, não é apenas um crime contra o povo ucraniano, mas também, talvez, o crime mais grave contra o povo da Rússia, com uma ousada letra Z a riscar todas as esperanças e perspectivas de uma sociedade livre próspera no nosso país", realçou.
"Aqueles que conceberam esta guerra querem apenas uma coisa - permanecer no poder para sempre, viver em palácios pomposos sem sabor, navegar em iates comparáveis em tonelagem e custo a toda a Marinha russa, gozando de poder ilimitado e total impunidade. Para o conseguir, estão dispostos a sacrificar tantas vidas quantas forem necessárias. Milhares de russos e de ucranianos já morreram só por isso, acrescentou.
"Lamento admitir que ao longo de todos estes vinte anos o nível de mentiras e de falta de profissionalismo no trabalho do Ministério dos Negócios Estrangeiros tem vindo a aumentar constantemente", rebateu.
Segundo ele, nos últimos anos, isto tornou-se simplesmente catastrófico. Em vez de informações imparciais, análises imparciais e previsões sóbrias, existem clichés de propaganda no espírito dos jornais soviéticos da década de 1930. Foi construído um sistema que se engana a si próprio.
Adiantou que ministro Lavrov é uma boa ilustração da degradação deste sistema. Em 18 anos, passou de um intelectual profissional e educado, que muitos dos meus colegas tinham tanta estima, para uma pessoa que emite constantemente declarações contraditórias e ameaça o mundo (ou seja, a Rússia também) com armas nucleares.
"Hoje em dia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros não se trata de diplomacia. É tudo uma questão de belicismo, mentiras e ódio. Serve interesses de poucos, os muito poucos que contribuem assim para um maior isolamento e degradação do meu país" afirmou.
"A Rússia já não tem aliados, e não há ninguém para culpar a não ser a sua política imprudente e mal concebida. Eu estudei para ser diplomata e tenho sido diplomata durante vinte anos. O Ministério tornou-se a minha casa e a minha família. Mas não posso simplesmente continuar a participar nesta ignomínia sangrenta, inútil e absolutamente inútil", concluiu.