Berlim - O chanceler alemão, Olaf Scholz, insurgiu-se hoje contra as acusações, que considera "falsas e caluniosas", ao seu Partido Social Democrata (SPD), alvo de críticas por uma posição considerada demasiado favorável à Rússia.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, "há estas insinuações falsas e caluniosas sobre a política europeia e russa do SPD e isso irrita-me", afirmou Scholz numa entrevista à revista Spiegel, garantindo que o seu partido está "firmemente ancorado na aliança transatlântica e no lado do ocidente".
O chanceler é questionado pelos seus vizinhos da Europa Central e do Báltico pela recusa da Alemanha em entregar armas pesadas pedidas pela Ucrânia, alegando que isso só agravaria o conflito, uma posição que os críticos veem como a continuação de uma orientação pró-russa do SPD, enraizada na história do partido.
O debate acontece até no seio da coligação governamental onde os Verdes e os Liberais consideram insuficiente o apoio dado à Ucrânia e têm vindo a instar o chefe do governo a autorizar a entrega de equipamento ofensivo, incluindo veículos blindados.
O Partido Social Democrata está no centro desta controvérsia, acusado de complacência e, por alguns, até mesmo de cumplicidade passada com o Kremlin.
O partido "não pode aceitar as reprovações que lhe são feitas", sustentou o chanceler na entrevista.
"Sou a favor de qualquer discussão sobre a política futura. Mas rejeito entrar num debate baseado em mentiras", acrescentou Olaf Scholz.
Várias figuras partidárias têm sido apontadas pela sua alegada complacência com a Rússia, incluindo o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e atual Presidente Frank-Walter Steinmeier e o ex-chanceler Gerhard Schröder, que tem ligações privadas com Putin e se recusa a abandonar os seus cargos remunerados em empresas russas.
Há muito que a Alemanha pratica uma política assente em "dar a mão à Rússia" acreditando na ideia de que o comércio pode induzir uma democratização gradual do país.
Esta linha guiou também o mandato de 16 anos da ex-chanceler Angela Merkel, líder do campo conservador da CDU.
Os conservadores e os sociais-democratas defenderam, por exemplo, a instalação do gasoduto Nord Stream 2 para duplicar o fornecimento de gás russo à Europa, um projecto interrompido após a invasão da Ucrânia.
Olaf Scholz adiantou que as possibilidades do Bundeswehr, o exército alemão, de entregar outras armas do seu arsenal a Kiev "estão em grande parte esgotadas", mas disse que "o que poder ainda disponibilizar irá fazê-lo".
A Alemanha comprometeu-se também a compensar os países da Europa Central e Oriental por equipamento que estes forneçam a Kiev, ajudando-os a repor as suas reservas de material.