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Reestruturação do BPC feita com “injecção” de mais de Kz 700 mil milhões

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  • Luanda • Segunda, 23 Setembro de 2024 | 19h54
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Edifício sede do BPC
Edifício sede do BPC
Nelson Malamba - ANGOP
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Presidente do Conselho de Administração do BPC, Claudio Pinheiro
Presidente do Conselho de Administração do BPC, Claudio Pinheiro
Nelson Malamba - ANGOP
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Banco BPC
Banco BPC
Pedro Parente-ANGOP

Luanda – O Plano de Reestruturação e Recapitalização (PRR) do Banco de Poupança e Crédito (BPC), reiniciado em 2019 e concluído em 2023, custou cerca de 748 mil milhões de kwanzas, valores que serviram para “estancar a erosão dos fundos próprios e a perda da credibilidade do único banco do Estado angolano”.

Por Quinito Bumba, jornalista da ANGOP

Esse montante, que também permitiu melhorar o sistema de controlo interno, estabilizar o sistema informático com a modernização tecnológica, aumentar a eficiência operacional e movimentação segura das contas dos clientes, foi cedido pelo Estado através de Títulos do Tesouro, excepto Kz 35 mil milhões que foram disponibilizados em numerário, segundo o Presidente do Conselho de Administração do BPC, Cláudio Pinheiro.

Em entrevista à ANGOP, a propósito do ponto de situação do PRR do banco estatal, o gestor recorda que esses valores foram cedidos de forma faseada, sendo 352 mil milhões até 2019 e Kz 396 mil milhões em anos subsequentes (2020, 2021 e 2022), após a revisão do Plano inicial baseado nos resultados do Programa de Avaliação da Qualidade dos Activos (AQA) conduzido pelo BNA.

De acordo com Cláudio Pinheiro, esse investimento permitiu, igualmente, melhorar a performance e imagem do banco, assim como estabilizar o “core banking systeme” e o nível de serviços disponibilizados aos clientes, com a substituição de toda infra-estrutura e do parque tecnológico, incluindo soluções de negócio e canais remotos inovadores.

Destaca também a melhoria no processo de elaboração de informação de gestão e de reporting para prestação de contas tempestiva e regular, a alta disponibilidade do sistema e o aumento do desempenho dos cartões multicaixa, permitindo reduzir as longas filas que o banco registava anteriormente na sua rede de balcões. Em simultâneo, realça a melhoria do atendimento aos pensionistas, com a criação do “Meu Balcão”, através da extensão e adequação da rede de balcões existente.

“Antes do PRR, as enchentes dos clientes nos balcões eram, essencialmente, devido à incapacidade de processamento de operações e o armazenamento de dados pelo core bancário e a inexistência de um processo regular de actualização do cadastro e da segmentação de clientes ao nível do sistema, constrangimentos que foram parcialmente resolvidos e mitigados com a reestruturação e recapitalização do banco, nos últimos anos”, afirma.

Acrescenta que, em termos de resultados económicos e financeiros, o banco já regressou aos lucros, contrariamente aos anos anteriores que somente registava prejuízos sucessivos, como em 2022, ano precedente ao termo da implementação do PRR que registou resultados negativos avaliados em pouco mais de 120 mil milhões de kwanzas. 

Eis a íntegra da entrevista

ANGOP – Antes de começarmos a nossa entrevista, a ANGOP agradece a disponibilidade do PCA e a oportunidade que nos concede para falarmos um pouco sobre o estado funcional do único banco estatal do país, com realce para o grau de execução do Plano de Reestruturação e Recapitalização (PRR) do BPC, anunciado pela primeira vez a 10 de Agosto de 2018.

Nesse quadro, qual é o actual ponto de situação do PRR revisto, cinco anos depois do início da sua implementação, em 2019?

Cláudio Pinheiro – Muito bem. Para o início da nossa conversa, a primeira nota a fazer é que o PRR revisto e reiniciado em 2019, praticamente foi concluído em 2023, com o grau de execução de 84%, tendo alcançado as principais metas estabelecidas inicialmente, com realce para o saneamento, capitalização e reestruturação organizacional do banco. Os 16% em falta neste plano tem a ver com o alcance da meta para a redução de pessoal, uma das medidas previstas no pilar dois, relativamente à redução e optimização dos custos operacionais, bem como a conclusão do quarto pilar deste plano respeitante à transformação estratégica, que visa implementar, entre outras, a solução de agente bancário e o novo core bancário de 4ª geração, cujo término está previsto para este ano, com o envolvimento de muitos parceiros tecnológicos.

ANGOP – Em termos de recapitalização, qual foi o valor global que o Estado injectou para manter o BPC funcional até ao momento?

CP – Antes de responder essa questão directamente, precisamos nos recordar e percebermos que o aumento de capital e de outras medidas de reestruturação, no âmbito do PRR, eram imprescindíveis e inadiáveis. O aumento de capital foi realizado através de Títulos do Tesouro, com excepção de 35 mil milhões de kwanzas em numerário, reforçando naturalmente a solidez. Porém, esta medida acabou por não resolver outro desafio importante: a gestão do balanço, concretamente, a liquidez do banco, limitando, a capacidade da instituição conceder crédito de elevados montantes e maturidades mais longas a particulares e empresas.

Todavia, dentro dos limites, do apetite de risco e prudência que se exige, não obstante essa limitação, o banco não deixou de conceder certos produtos de crédito ao longo desses anos, chegando a reactivar o BPC Pensionista.

Portanto, indo directo para a questão, a primeira e segunda injecção de capital foram realizadas, respectivamente, em 2018 e 2019, ano em que o plano foi revisto em função dos resultados do Programa de Avaliação da Qualidade dos Activos (AQA), com o valor de 352 mil milhões de kwanzas, enquanto a terceira tranche foi de 396 mil milhões, entre 2020 e 2022, totalizando Kz 748 mil milhões para a recapitalização do BPC, em consonância com o registo gradual e diferido das imparidades da carteira de crédito histórica na altura, avaliadas em pouco mais de um bilião de kwanzas.

ANGOP – De concreto, quais foram as principais linhas de força deste plano e quais são os resultados obtidos com PRR?

CP – O PRR foi implementado com base nas prioridades estabelecidas nele, começando pelo pilar respeitante ao saneamento e desalavancagem do balanço, nomeadamente os activos com risco de crédito e os activos fixos imobilizados, assim como a recapitalização do banco, um desafio que precisou do esforço dos accionistas e a entrada do IGAPE na estrutura accionista, que concluíram este processo em 2022, ano em que se procedeu a última injecção de capital de 80 mil milhões de kwanzas.

O outro pilar que, igualmente, fazia parte do plano era o pilar da optimização dos custos operacionais, incluindo a redução ou o emagrecimento da estrutura organizacional do banco, que foi obrigado a reduzir de 71 para pelo menos 52 funcionários que exerciam funções de direcção e chefia, assim como fundir várias direcções e gabinetes. Procedeu-se também a terciarização de serviços “non core”, para adequar o modelo operacional e funcional à capacidade de negócio actual e ao padrão de geração de resultados da instituição bancária.

Com isso, o plano permitiu igualmente reduzir os custos operacionais, com o encerramento de unidades de negócio, facto que reforçou a necessidade de restauro, modernização e apetrechamento do edifício sede do BPC, reinaugurado em Agosto deste ano, cujo investimento total das obras de empreitada e fiscalização ascenderam os 35.7 mil milhões de kwanzas. Com este investimento, o banco estima poupar aproximadamente 1.3 mil milhões de kwanzas por ano em rendas, com a concentração dos serviços centrais, os membros dos órgãos sociais na sede e o atendimento aos clientes dos segmentos corporate, clientes institucionais e private banking.

ANGOP – Ainda no âmbito da reestruturação do banco, quantas agências bancárias foram encerradas e quantos funcionários perderam os seus postos de trabalho?  

CP - Nesse domínio, foram encerradas 139 unidades de negócio, nomeadamente postos de atendimento (103), balcões (30) e centros de empresas (6), entre 2020 e 2021, em todo país. Em consequência disso, foram dispensados, por extinção dos postos de trabalho, perto de 475 colaboradores, para além de pouco mais de 600 colaboradores que foram despedidos disciplinarmente, por má conduta e cerca de 773 por motivos diversos e naturais.

Importa também sublinhar que o PRR previa o encerramento de mais unidades e redução para até 3 100 funcionários, facto que não ocorreu, porque havia necessidades de manter os serviços mínimos nos municípios e províncias do país, assim como salvaguardar o custo social, contando, actualmente, com pouco mais de 3 400 trabalhadores, distribuídos pelos serviços centrais e pelas 269 unidades de negócio do BPC.

Portanto, o banco já não vai continuar com o processo de extinção de postos de trabalho e despedimentos colectivos, porquanto o PRR terminou em 2023 os accionistas e os membros do Conselho de Administração concordaram que devem manter o actual número de postos de trabalho, em função também da recuperação satisfatória do banco em termos de resultados, eficiência operacional, estabilidade do sistema informático e o reforço do sistema de controlo interno. Assim sendo, a redução do pessoal será realizada somente através dos processos de reforma pelo tempo de serviço ou limite de idade e a rescisão de contrato por mútuo acordo.

ANGOP – Que melhorias e ganhos concretos esse plano trouxe no estado funcional do BPC?

CP – Em resumo, com o PRR, o banco melhorou significativamente a sua performance, imagem e o nível de serviços disponibilizados aos clientes, assim como permitiu substituir toda infra-estrutura tecnológica, com a terciarização deste serviço à uma empresa especializada que gere as máquinas, sem retirar a autonomia de acesso do banco.

Houve também a estabilização do core bancário, o que permitiu manter estável o sistema, com destaque para a disponibilidade e o desempenho dos cartões multicaixa, que melhoraram de forma substancial, bem como reduzir as longas filas que o banco registava. Actualmente, nota-se que os balcões estão mais desafogados, com um atendimento médio de 150 utentes/dia por agência. Antes do PRR, as enchentes dos clientes nos balcões eram, essencialmente, devido a incapacidade de processamento e armazenamento de dados, sistemas operativos obsoletos que aprofundaram as vulnerabilidades de segurança, múltiplas soluções e sem integração automática. A ausência de um processo de actualização de contas de clientes regular e consistente que se traduziam em fraquezas do sistema de controlo interno também influenciaram negativamente nas enchentes. Estes desafios já foram ultrapassados e resolvidos na sequência da reestruturação.

Em simultâneo, regista-se a melhoria no atendimento aos pensionistas, com a criação do conceito “O Meu Balcão”, uma extensão e adequação dos espaços adjacentes e vastos à rede de balcões existentes, além de se estabilizar e reforçar o sistema de controlo interno que permitiu identificar pouco mais de 600 funcionários com comportamentos menos adequados para trabalhar na banca, facto que obrigou a direcção do banco a despedir estes trabalhadores, com base numa política ainda existente de tolerância zero em que se privilegia a disciplina e o rigor na execução das tarefas, visando a protecção dos recursos dos clientes e dos activos do banco. Com isso, o número de fraudes e reclamações dos clientes declinaram de forma acentuada, colocando o BPC na 5ª posição entre os bancos de importância sistémica em relação às reclamações, quando já esteve no pódio do ranking das insatisfações dos clientes.

A par disso, o BPC procedeu a revisão da tabela salarial dos seus funcionários, com base no estudo da remuneração e benefícios (benchmark) praticados pelo sector bancário, procedeu à adequação de funções, converteu para contratos de trabalho pouco mais de 100 trabalhadores vinculados, através de contratos de avença a mais de 20 anos, e igualmente ajustou a remuneração à taxa de inflação, facto que permitiu repor o poder de compra dos salários dos trabalhadores, contribuindo para a retenção de quadros e a atracção de capital humano especializado para algumas funções técnicas e complexas.

Adicionalmente, implementamos o subsídio de risco e isolamento, assim como procedemos ao aumento das coberturas e do capital seguro respeitante ao plano de seguro de saúde dos funcionários, entre outros benefícios. O Conselho de Administração decidiu também criar um plano de seguro de saúde para todos os ex-funcionários na reforma, devido aos elevados custos, dívidas com as clínicas e rede de farmácias incorridas antes de 2019, em função da responsabilidade assumida com a assistência social, através de guias médicas, um direito adquirido que não foi extinguido, antes, porém, alteramos a forma de prestar a assistência social com custos razoáveis e controlados, um benefício que auferem para além da pensão de reforma complementar de que beneficiam através da sociedade gestora detida pelo banco, a Fénix-Fundo de Pensões SA.

ANGOP – Para além desses ganhos obtidos com o PRR, qual foi o valor alcançado em termos de lucros em 2023?

CP – Inicialmente, o PRR previa o regresso aos lucros em 2022, mas depois houve necessidades de se rever este plano e alargar o período para 2023, ano em que se registou proveitos na ordem dos 115.9 mil milhões de kwanzas.

Por outro lado, importa recordar que antes de 2023, o banco registava resultados negativos ou prejuízos sucessivos, devido, fundamentalmente da perda significativa e continuada de recursos dos clientes face ao baixo nível na prestação dos serviços, obsolescência do sistema core bancário, o fraco desempenho e indisponibilidade dos canais remotos, as imparidades da carteira do crédito histórico avaliadas em um bilião de kwanzas, as necessidades elevadas captação de funding e retenção de depósitos com taxas de juros passivas elevadas para fazer face as necessidades recorrentes de liquidez e liquidar as operações diárias dos clientes.

Os prejuízos do banco deveram-se também ao impacto do downgrade da dívida soberana em 2020, em função da dimensão dos títulos em carteira decorrentes da recapitalização e ainda das perdas cambiais que o BPC averbou ao longo dos últimos anos, devido a exposição do balanço em moeda estrangeira e a variação das taxas de câmbio das principais moedas estrangeiras e naturalmente dos elevados custos operacionais desajustados da capacidade de geração de resultados e inconsistentes com o plano de negócio, antes da implementação do PRR.

ANGOP – Ainda no âmbito do PRR do banco e do Programa de Privatizações (PROPRIV), em Fevereiro último, o BPC anunciou a privatização dos 16,63% das suas acções na operadora petrolífera ACREP, que vão ser colocadas em bolsa. Qual é o ponto de situação deste processo?

CP – Bom, tal como já nos referimos em outras ocasiões, essa operação via bolsa não correu exactamente conforme a expectativa do banco, apesar de resultar num encaixe financeiro de cerca de 5.4 mil milhões de kwanzas, na primeira fase, com a alienação de 72 mil acções, num universo de 300 mil, tendo impacto positivo no balanço do Banco com alteração do critério de reconhecimento desta participação ao justo valor, se traduzindo no aumento do Rácio de Fundos próprios Regulamentares em dois pontos percentuais.

Em segundo lugar, o remanescente das acções que ainda temos (12,64%) será alienado na próxima operação, com a estimativa de se encaixar cerca de Kz 22 mil milhões. Portanto, este ano não acreditamos que seja possível realizar esta operação, além de que não há pressa, mas no devido momento, o banco poderá voltar a colocar estas acções no mercado, com vista a desfazer-se de activos ou participações que não fazem parte da sua actividade core.

ANGOP – Falando propriamente do foco do banco, que tem a ver com a concessão de crédito à economia, quais são as principais soluções creditícias que o banco actualmente apresenta aos seus clientes?

CP – Nessa temática, importa realçar que o BPC continua a operacionalizar a linha de crédito do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), orçada em 120 milhões de dólares. Deste valor, já foram aprovados cerca de 23 mil milhões de kwanzas e desembolsados Kz 18 mil milhões, direccionados ao segmento empresarial, nos últimos três anos. Do montante concedido cerca de 5.7 mil milhões de kwanzas já foram reembolsados/devolvidos pelos clientes, através da execução de seis projectos.

Além do estudo de viabilidade económica e financeira, essa linha de crédito, em execução desde 2018, exige o requisito adicional de apresentação do estudo de impacto ambiental por parte dos clientes, com realce para a sustentabilidade ambiental (reflorestação e protecção da fauna e flora), o reposicionamento dos solos, reassentamento dos povos locais ou grupos vulneráveis, uso de tecnologias “limpas” na produção de bens e serviços, entre outros. Ou seja, os interessados a este financiamento devem cumprir estritamente com estes e outros requisitos.

Ainda sobre as soluções de empréstimo disponível, o banco também continua a conceder o crédito “BPC Salário”, que esteve suspenso num período de uma semana, para manutenção do produto, com níveis de procura elevada por parte dos clientes, que passaram a ter acesso a este empréstimo num espaço de tempo entre cinco a sete dias úteis, no máximo, sem necessidade de um avalista, antes a exigência do pagamento do seguro de vida crédito. Outra solução que, igualmente, permanece activo é o crédito “BPC Pensionista”, uma solução de empréstimo dirigida ao segmento de clientes na reforma.

Até ao momento, o único produto creditício que se encontra suspenso é o pacote “BPC Salário Super”, que foi cancelado para evitar o desequilíbrio do balanço e potenciar a instituição bancária de robustez financeira, bem como expandir a concessão de créditos de forma gradual, prudente e equilibrada em função do risco, dos níveis de liquidez e dos custos de funding.

Para preencher essa lacuna, nos próximos tempos, o BPC vai lançar a solução “Crédito Resolve”, um produto que se enquadra na estratégia credora do banco que promoverá tanto o consumo, quanto o investimento do sector empresarial, visando criar um ecossistema interactivo entre os clientes e fornecedores de bens e serviços essenciais no mercado angolano e simultaneamente manter o equilíbrio do balanço e a maximização dos resultados. Apesar de ainda não termos um horizonte temporal para a implementação deste produto, garanto que este crédito vai mesmo resolver algumas necessidades essenciais dos clientes, conferindo poder de compra e recursos financeiros disponíveis para a aquisição de bens essenciais, nomeadamente electrodomésticos, equipamentos electrónicos, meios de transporte sob a forma de crédito automóvel.

Portanto, o processo do Crédito Resolve já está muito avançado do ponto de vista da operativa, encontrando-se na fase de avaliação e selecção dos parceiros e dos produtos disponíveis no mercado, para depois rubricar os possíveis acordos, um desafio que se prevê concluir ainda este ano.

ANGOP – Quanto ao volume de crédito já concedido, que dados tem a apresentar?

CP – Apesar da descontinuidade do BPC Salário Super, em 2023, o valor de empréstimo concedido às famílias ascendeu à 347 mil milhões de kwanzas, enquanto para empresas cifrou-se em Kz 49 mil milhões, facto que impactou positivamente na procura e oferta de bens e serviços no mercado interno. A indústria, o comércio e o segmento das importações de bens alimentares, medicamentos e fertilizantes, assim como os produtos de consumo em geral das famílias foram as principais áreas que absorveram o total do crédito concedido.

ANGOP – No quadro do Aviso n.º 9/22, de 6 de Abril, do Banco Nacional de Angola (BNA), que estabelece regimes especiais de crédito à habitação e à construção, qual é o valor que o BPC já disponibilizou para este fim até ao momento?

CP – Nesse segmento, importa sublinhar que o BPC possui um património imobiliário composto por mais de 650 imóveis (residências, terrenos rústicos e condomínios), espalhados por todo país, estando muitos em condições de colocação no mercado pouco mais de 230 de uso não próprio. Os imóveis entre residências, espaços comerciais e terrenos rústicos, apresentam diferentes graus de acabamento face ao projecto, alguns em fase de avaliação e legalização e outros em fase de finalização apenas das infra-estruturas para serem colocados à disposição do mercado. Portanto, por questões de estratégia, o banco dispõe deste parque habitacional para conceder crédito, no âmbito do Aviso 9, para que se possa recuperar o investimento já feito há mais de dez anos e poupar o esforço de desembolso financeiro para outros projectos imobiliários.  

Por outro lado, a disponibilização desses imóveis passa por um processo de leilão, que permite ao banco obter mais liquidez e abre a possibilidade dos clientes fazerem o pronto pagamento, para além da modalidade de crédito parcial em função da capacidade de endividamento e rendimentos do cliente. Desses imóveis, mais de 75 foram vendidos e há condomínios que já não têm residências a serem comercializadas. Porém, este assunto também é um dos que não fazem parte do core business, pois, a gestão do banco tem de se centrar exclusivamente no negócio bancário, tanto é que a BPC Imobiliária está em fase de dissolução e liquidação nos termos do PRR.

Ainda nesse quadro, vamos ter que reavaliar de facto a condição do mercado imobiliário nacional actual, um indicador que vai nos permitir reflectir se o preço está muito acima daquilo que hoje é o preço por metro quadrado destes imóveis. Está sujeito à reavaliação, em termos de valor, o Edifício Sede, após obras de restauro, que até então, apesar da posse e uso na sequência do processo de nacionalização e confisco, o banco não detinha a sua titularidade, facto conseguido somente em 2023.

ANGOP – Em relação à carteira de crédito malparado, qual é o valor já recuperado?

CP – Em termos de recuperação de empréstimos, registou-se o resgate de cerca de 52 mil milhões de kwanzas (20%) dos 400 mil milhões do crédito malparado respeitante à carteira de crédito histórica, sob responsabilidade do BPC, depois de transferida 80% da carteira para a Recredit. Recorde-se que o banco concedeu estes empréstimos a empresas e pessoas singulares, a pouco mais de dez anos. O PRR previa o perdão de 100% de juros de mora e 50% de juros contratuais, factor que motivou alguns devedores a liquidar a dívida na totalidade e outros a reestruturar.

Ainda do valor malparado, o banco também reestruturou (alterou/ajustou o prazo de reembolso, com perdão de juro de mora) cerca de 46,8 mil milhões de kwanzas, em 2023, o que corresponde cerca de 10% do montante total. Neste domínio, nos primeiros sete meses deste ano (2024), foram, igualmente, reestruturados cerca de 3,9 mil milhões de kwanzas, perfazendo um total de cerca de Kz 50 mil milhões, em um ano e sete meses.

Para além do malparado sob tutela do BPC, constam desta carteira 951 mil milhões de kwanzas (80%) do total de incumprimentos que foi transferido para Recredit, empresa do Sector Empresarial Público (SEP) vocacionada a recuperar o crédito malparado do banco. No total, a carteira de crédito histórica (malparado) do BPC estava avaliada à data da revisão do PRR, em cerca de 1 bilião e 351 mil milhões de kwanzas (capital mais juros) que inclui para além do crédito sob contratos de mútuo, a conversão sob a forma de crédito, operações históricas de cartas de crédito vencidas e créditos à exportação vencidas na mesma condição de inadimplência.

ANGOP – Para terminar a nossa entrevista, faça-nos um comentário sobre o vosso Relatório e Contas apresentado recentemente pelo IGAPE.

CP – Os dados apresentados recentemente pelo IGAPE, referentes ao exercício económico 2023, demonstram que o BPC, como o único banco comercial do Sector Empresarial Público, com excepção o BDA, melhorou significativamente a sua performance e dimensão (activos), assumindo a 2ª posição do top 10 das empresas públicas, a seguir a Sonangol.

Do ponto de vista do capital investido pelo Estado, o banco teve um retorno (ROE) em cerca de 74%, com o lucro de 115.9 mil milhões de kwanzas, alcançando a 2ª posição no ranking das 10 empresas públicas neste importante indicador, tendo conquistado a mesma posição, em termos de dimensão dos activos. Ao nível do ranking do sector bancário nacional, em 2023, em termos de resultados, o BPC saiu da 23ª para 3ª posição, de dimensão (rede comercial e número de trabalhadores) a 1ª posição na indústria, não obstante a redução do número de unidades de negócio e quadro de pessoal na sequência do PRR.

Além de ocupar o top 5 em termos do valor dos activos, crescimento do crédito, produto bancário e em termos dos indicadores de rentabilidade, nomeadamente o ROAE e o ROAA do sector bancário angolano. A seguradora detida pelo banco, Mundial Seguros, também gerou lucros pelo segundo ano consecutivo, ascendendo mais de 5 mil milhões de kwanzas, em 2023, catapultando-a para a 2ª posição em termos de resultados e para a 1ª posição no ranking do ramo vida do sector segurador, desempenho assente no canal bancassuance implementado em 2022. 

Paralelamente aos resultados positivos, o banco também registou resultados na ordem dos 42 mil milhões de kwanzas, no primeiro semestre deste ano, um indicador que anima o Conselho de Administração e satisfaz as aspirações dos accionistas, por demonstrarem que o banco vai estancando a erosão dos capitais próprios, desafoga o tesouro nacional e se vai reerguendo preparando-o para a competitividade e eficiência operacional com a implementação da agenda digital prevista na Visão 2024-2027.

ANGOP – Mais uma vez a ANGOP agradece a sua disponibilidade e deseja êxitos na sua gestão.

CP – Em nome do Conselho da Administração do BPC, agradeço também a vossa presença e termos quase duas horas de entrevista, reiterando que o banco continua alinhado às melhores práticas, com destaque à transparência na prestação de contas e na partilha de informações relevantes com a imprensa, que por sua vez, mantém informado os clientes, prestadores de serviços, reguladores, colaboradores e os contribuintes em geral enquanto detentores de uma fração do capital do BPC sendo um banco público.

Fundada a 24 de Janeiro de 1956 (68 anos), a instituição bancária surgiu do Banco Comercial de Angola (BCA), tornando-se o primeiro banco comercial na era colonial. A 10 de Novembro de 1976 foi rebaptizado com o nome de Banco Popular de Angola (BPA), passando para Banco de Poupança e Crédito (BPC) a 16 de Agosto de 1991.

Presente em todo território nacional, com mais de 900 mil clientes activos, o banco público tem como accionistas o Ministério das Finanças, Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE), Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) e a Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas.

A 14 de Agosto deste ano, no âmbito da celebração dos 49 anos da Banca Angolana, o BPC reinaugurou o seu edifício sede, em Luanda, com 20 pisos úteis e dois pisos técnicos, tendo cada piso duas direcções, deixando de ter o espaço residencial que o anterior edifício tinha. A infra-estrutura, que já foi o edifício mais alto da capital angolana, alberga pouco mais de 650 funcionários, bem como comporta um auditório, sala de jogos, lounge bar, ginásio, restaurante, várias salas de reunião e uma área de lazer, contando com um centro de empresas e o segmento de clientes institucional e Private. QCB/VC/ADR

 





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