Cazenga – O Estado angolano arrecada, mensalmente, um milhão 725 mil kwanzas na cobrança de taxas aos utentes de contentores frigoríficos de conservação de pescado, no mercado “Asa Branca”, no município do Cazenga, em Luanda.
Segundo o administrador do Mercado, Izequiel João "Pele", são no total 115 câmaras frigoríficas instaladas em quintais privados e alugadas aos vendedores grossistas de peixe congelado, que mensalmente pagam à administração do Mercado 15 mil kwanzas cada um.
Devidamente numeradas, as câmaras frigoríficas são geridas pelos proprietários que assumem a responsabilidade pela sua locação aos vendedores grossistas de peixe congelado, que, por sua vez, pagam taxas mensais ao Estado, explicou.
Acrescentou que à administração do Mercado cabe regularizar e fiscalizar a acção mercantil do pescado e criar as condições para os vendedores exercerem a sua actividade e cumprirem o seu dever de pagar as prestações devidas ao Estado.
Dotado de quatro naves e vários espaços a céu aberto, o Mercado é gerido por uma Comissão de Gestão que responde pelo destino a dar às taxas arrecadadas mensalmente, disse.
Mas, lamentou, apesar de haver espaço suficiente e condições apropriadas para um maior número de vendedores, ainda existem pessoas que insistem “em comercializar produtos em locais proibidos e na via pública, correndo todos os riscos”.
Esclareceu que os lugares são cedidos aos interessados “a custo zero”, existindo apenas a obrigação de pagar uma taxa diária de 150 kwanzas para a manutenção do local e a remoção de resíduos sólidos por pessoas singulares.
Mercado “rei” do peixe congelado e roupa usada
Asa Branca é reconhecido como a principal referência para a compra e venda de produtos como peixe congelado de todas as espécies e roupa usada, ou comummente “fardo”.
Os seus 115 contentores frigoríficos de conservação recebem pescado proveniente das províncias de Benguela, Huíla, Namibe, Cuanza-Sul (Porto Amboim) e Luanda, produto que chega por entregas através de camiões frigoríficos, que, depois de todos os trâmites legais, é depositado nas câmaras.
A diversidade e a grande oferta desta mercadoria tem proporcionado aos clientes a possibilidade de preços mais competitivos sobretudo com a politica do “arreiou” que funciona de acordo com a quantidade pretendida e o pronto pagamento.
Anelisa Frederico, uma das clientes, contou a uma equipa de reportagem da ANGOP que, desde tenra idade, ouve dizer que “peixe para óbitos e outros eventos a fonte é neste mercado”.
“Perdemos o nosso tio, no princípio da semana, e viemos aqui para adquirir e negociar os melhores preços para o peixe para cozinhar no óbito”, exemplificou.
Os preços tendem a ser formados em função do valor da aquisição junto dos fornecedores e de outros factores como o custo do transporte, a margem de lucro e o armazenamento.
Porém, no preço de venda final prevalece sempre a filosofia do “arreiou” em que o valor da prestação pode ser alterado num processo de negociação contra pronto pagamento.
A título de exemplo, contam os comerciantes, uma caixa de 30 quilogramas do peixe carapau – o mais procurado – está a ser comercializada a 35 mil e 500 kwanzas, a de cachucho de 15 quilogramas a 17 mil e 100 kz, a de pescado de 10 quilogramas a 13 mil e 300 kz e calafate a 40 mil kwanzas.
Mariquinha Adão, comerciante de pescado há 16 anos, assegura que as vendas correm bem, apesar da oscilação da da moeda nacional, mais que consegue sustentar a família e fazer poupanças, pelo que, boa parte dos bens patrimoniais que hoje possui são provenientes da venda do peixe.
Por seu turno, Alberto Kitangaxi, vendedor de pescado há mais de 20 anos e responsável de uma câmara frigorífica, confirma que os preços são acessíveis consoante o valor da aquisição na fonte que permite manter a sua estabilidade e gerar lucros.
Exemplificou que uma caixa comprada a 17 mil kwanzas pode ser revendida a 20 mil kwanzas, incluindo as despesas com o transporte, a carga/descarga e a conservação.
Fez saber que gosta do que faz e que o faz “com amor e carinho”, porque acima de tudo, justificou, “ajuda muitas famílias e o país a crescer”, pelo que não trocaria nunca o seu negócio por qualquer outro, “mesmo a receber uma proposta de emprego em qualquer instituição”.
Já Antónia do Rosário, ex vendedora de pescado no mercado "Roque Santeiro", e sua colega Ana Cardoso admitem que o negócio “já foi muito bom”, mas que, hoje, com o surgimento de outros pontos de venda encontram algumas dificuldades.
Um “peso pesado” também dos “fardos”
Além do pescado, Asa Branca também detém “credenciais firmadas” na comercialização de roupa usada (fardo) proveniente de várias paragens mundiais e a preços altamente competitivos que deixam os demais mercados concorrentes com pouco “espaço de manobras”.
Das peças expostas no chão ou penduradas em cabides, os preços variam dos 300 aos 10 mil kwanzas para todo o tipo de roupas dispostas e organizadas por secções.
Uma das secções que mais desperta a atenção de qualquer visitante é a dos vestidos de noiva, que tem vindo a constituir-se numa espécie de passagem obrigatória para as noivas, incluindo figuras públicas ou “mulheres socialmente bem posicionadas e conhecidas”, segundo os testemunhos de Maria Sebastião, uma das vendedeiras desta secção
A comerciante conta que os preços para as peças, em geral, são atribuídos de acordo com a qualidade apresentada no acto da abertura dos balões ou atados de roupa e que a primeira preocupação é recuperar o valor gasto na compra desses balões aos grossistas para depois se concentrar nos lucros.
Por seu turno, Elisa Miguel confirma que, com a subida dos preços das roupas novas, a solução para muitos citadinos tem sido o recurso às roupas do fardo por ficarem “mais em conta”.
O peso da comercialização do fardo é tal que levou ao surgimento de uma secção de alfaiataria, onde muitos clientes acabam por ajustar as suas roupas no local, tornando o mercado numa espécie de loja de grande superfície de pronto a vestir.
Segurança pública
O principal risco no domínio da segurança pública reside no transporte de dinheiro, associado à condição precária das estradas em que muitas comerciantes já perderam a vida em assaltos à mão armada, nalguns casos em plena luz do dia.
É uma situação circunscrita ao recinto fora do estabelecimento, onde os utentes são perseguidos sobretudo quando levam consigo avultadas somas em dinheiro do final das vendas, geralmente denunciados pela fuga de informação.
Mas internamente, ressalvam as comerciantes, a situação é completamente diferente, porque existe um sistema de segurança dentro do mercado que é accionado, através da administração, para intervir em quaisquer situações de ameaça, irregularidade ou perturbação à ordem. PLA/ACS/IZ