Londres - A Human Rights Watch (HRW) alertou hoje para o massacre de centenas de aldeões, desde o início do ano, no nordeste do Mali, por grupos armados afiliados ao Estado Islâmico e condenou a ineficácia das autoridades.
Dezenas de milhares de civis foram forçados a fugir para outras regiões do Mali ou para o vizinho Níger depois de perderem o seu gado e todos os seus bens em ataques sistemáticos desde Março nas regiões de Menaka e Gao, disse a organização de direitos humanos num relatório hoje divulgado.
A HRW sublinhou que os rebeldes atingiram sobretudo os daoussahak, uma tribo tuaregue, e referiu que grandes áreas do território ficaram sob o controlo de grupos afiliados ao Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS, na sigla em inglês).
Os terroristas "realizaram ataques aterradores e aparentemente coordenados contra aldeias, massacrando civis, pilhando casas e destruindo propriedades", disse a HRW.
"O Governo do Mali deveria fazer mais para proteger os aldeões que estão particularmente em risco de ataque, e prestar-lhes uma maior assistência", disse Jehanne Henry, oficial da HRW, numa declaração.
Estas palavras contradizem as dos militares que tomaram o poder pela força em 2020, neste país abalado pela violência e pela propagação do terrorismo desde 2012.
As autoridades do Mali afastaram-se do aliado francês e dos seus parceiros durante o ano passado e voltaram-se para a Rússia, que alega ter invertido a tendência de insegurança e derrotado os grupos terroristas.
Na quarta-feira, a sub-secretária de Estado norte-americana Victoria Nuland, de regresso do Sahel, disse que a segurança se tinha deteriorado consideravelmente no Mali desde que a junta chamou, segundo os Estados Unidos da América (EUA) e os seus aliados, mercenários da companhia russa Wagner.
A HRW detalhou, com depoimentos de apoio, ataques em 13 localidades, que seguiram uma conduta semelhante. Em Inkalafane (região de Menaka), em 28 de Março, "um grande grupo de homens armados chegou num veículo armado e em motocicletas" e acabou por matar 35 civis, disse um pastor de 55 anos.
A situação de segurança deteriorou-se significativamente durante os últimos oito meses nas regiões de Menaka e Gao, na sequência de uma ofensiva do EIGS para além do que era então a sua zona de ação e influência.
Os rebeldes invadiram pela primeira vez a vasta região desértica de Menaka em Março e Abril. O EIGS dirigiu, então, a sua força para oeste, a região do Gao, localidade que registou relatados de ataques em torno da capital regional, e, pela primeira vez, uma grande cidade, Talataye, foi invadida e temporariamente controlada pelos EIGS em Setembro.
A organização não-governamental (ONG) afirma que este surto de violência coincide com a retirada do Mali da força anti-terrorista francesa Barkhane, inicialmente impulsionada pela junta.
A identificação de números precisos de baixas para estas agressões é extremamente difícil na ausência de uma comunicação fiável de territórios que estão em grande parte inacessíveis.
A missão da Organização das Nações Unidas (ONU) no Mali (Minusma) deve "intensificar as suas patrulhas, voos de dissuasão e interações com as comunidades afectadas", disse a ONG. No entanto, a missão queixa-se de que as suas operações são dificultadas pelas autoridades do Mali.