Adis Abeba- A Comissária da UA, Josefa Correia Sacko, destacou, esta segunda-feira, a necessidade de o continente africano agir com urgência para responder à crise de insegurança alimentar e nutricional, para evitar o sofrimento de mais de 278 mil milhões de pessoas.
A diplomata, que interveio na conferência de alto nível sobre segurança alimentar e nutricional, afirmou que são necessárias acções rápidas e decisivas para melhorar a situação de abordagem dos principais desafios sistémicos deste fenónemo, aproveitando o tema do ano da União Africana 2022 sobre a construção de resiliência em nutrição e segurança alimentar.
Josefa Sacko disse que África está, sem dúvida, a enfrentar uma das crises alimentares mais alarmantes em décadas, mesmo antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, devido a crescente frequência e gravidade dos choques climáticos e conflitos regionais que interromperam a produção e distribuição de alimentos.
Conforme a diplomata, a pandemia do Covid-19 causou o aumento da insegurança alimentar e da pobreza no continente e as medidas adoptadas para combater a pandemia e as consequências económicas afectaram profundamente todos os países africanos.
Neste particular, fez saber que o corno de África é o mais afectado por esta crise da fome, incluindo a região do Sahel que enfrenta a sua pior crise alimentar em 10 anos, com mais de 27 milhões de pessoas passando fome.
“De facto, podemos esperar não apenas fome, mas também agitação social em muitas partes de África, se não agirmos agora”, sustentou a comissária.
Josefa Sacko afirmou que uma catástrofe está a se desenrolar nesta região, que sofreu quatro episódios consecutivos de seca severa.
A Organização Meteorológica Mundial prevê uma quinta temporada chuvosa consecutiva falhada por causa das condições mais secas do que a média esperada para Outubro a Dezembro do corrente, agravando ainda mais a crise.
“A Etiópia, Quénia e Somália representam 2% da população mundial, mas esses três países abrigam 70% da insegurança alimentar mais extrema do mundo. As equipas no terreno relatam que as pessoas já estão a morrer de fome”, lamentou.
Afirma que o apoio de curto e médio prazo deve ser programado de forma a levar a uma transformação sustentável da agricultura e dos sistemas alimentares para fortalecer a resiliência, reduzir as necessidades humanitárias e a dependência das importações, aumentar a produção local sustentável e diversificar as culturas.
De acordo com as últimas estatísticas da edição de 2022 do Estado da Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI 2022), uma em cada dez pessoas no Mundo, até 828 milhões, passa fome.
Estimativas recentes para a África mostram que a fome crónica afectou 278 milhões de pessoas, em 2021, correspondendo a 20% da população, em comparação com apenas 10% globalmente e um aumento de 50 milhões de pessoas desde 2019.
Os números comparáveis para outros continentes são 9,1% na Ásia, 8,6% na América Latina e Caribe, 5,8% na Oceania e menos de 2,5% na América do Norte e Europa. O relatório também mostra que 80% dos africanos não podem pagar uma dieta saudável diariamente tendo a prevalência de insegurança alimentar maior entre as mulheres do que entre os homens.
UA entra em acção
A União Africana, como principal órgão intergovernamental de África, introduziu uma série de medidas para mitigar a crise, além de prestar apoios financeiros, contando com a parceria do Fundo Africano de Desenvolvimento Alimentar de Emergência de 1,5 mil milhões de dólares.
Entre os parceiros consta ainda a plataforma de intercâmbio comercial de África (ATEX), que vai contribuir com 4 mil milhões, o Banco de Importação de Exportação da África e o Programa de Resiliência de Sistemas Alimentares do Banco Mundial, com 2,3 mil milhões para a África Oriental e Austral.
A conferência está a ser organizado pela União Africana, a Federação Internacional da Cruz Vermelha, o Banco Africano de Desenvolvimento e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.