Bruxelas - O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, reconheceu hoje que a União Europeia deve "fazer mais" em África para "conquistar as mentes" face à propaganda russa, atribuindo a relutância de alguns países africanos na condenação da guerra na Ucrânia a motivos históricos.
Durante um debate no Parlamento Europeu, na localidade francesa de Estrasburgo, o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, questionado sobre como pode a União Europeia contrariar a 'simpatia' de que o Presidente russo, Vladimir Putin, goza no continente africano, começou por notar que "alguns países [africanos] têm uma posição muito clara e condenaram a Rússia na Assembleia Geral" das Nações Unidas, mas admitiu que "outros não o fizeram, abstiveram-se".
"A narrativa russa encontra [em África] um eco que está sem dúvida aparentado com outras épocas da história. Não se esqueçam que a União Soviética foi um dos grandes aliados de alguns países africanos na luta contra o domínio colonial ou contra o apartheid, e isso ficou. Ficou na visão que muitos países africanos têm do mundo", disse.
"Isso para nós deve ser uma ocasião para que entendamos o nosso papel no mundo e não demos por adquirido que, como temos razão, os demais estão dispostos a dar-nos razão automaticamente", prosseguiu.
O chefe da diplomacia da União Europeia reconheceu então que "há que fazer mais, há que fazer uma diplomacia mais activa, mais presente, mais argumentada".
"Não (devemos) dar lições, nem dar por adquirido que temos a razão. Devemos, isso sim, conquistar as mentes, porque a propaganda russa lá é muito, muito potente", declarou.
Por ocasião da reunião de 'rentrée' dos chefes de diplomacia da União Europeia, em 31 de Agosto passado em Praga, também o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, defendeu que a UE deve investir num diálogo intenso com os parceiros africanos para contrariar o "grande investimento" russo na desinformação em África, no que admitiu ser um "combate desigual".
Em declarações no final da reunião informal de Praga, que teve entre os pontos em agenda um debate sobre as relações entre UE e África e o combate à desinformação promovida pela Rússia no continente africano, João Gomes Cravinho disse que, relativamente a esta última questão, "naturalmente que há preocupação", pois em diversas partes do continente africano é possível ver "um grande investimento [russo] na desinformação, na propagação de mensagens falsas e na criação de dinâmicas negativas em relação à Europa".
"Em matéria de desinformação, é um combate desigual, porque nós combatemos de acordo com as regras. Nós procuramos mostrar a verdade, e isso é algo que é limitado, enquanto a Rússia não se coíbe de inventar todo o tipo de narrativas que podem ter alguma tracção a nível local, e que são muito difíceis de combater, excepto caso a caso, individualmente", declarou.
No entanto, ressalvou, "não há nada como ir dialogando, ir falando, mantendo uma intensidade de contacto com colegas africanos para ajudar a encontrar soluções".