Benguela – Docentes de instituições de ensino superior na província de Benguela sugeriram, nesta quarta-feira, mais visibilidade dos agentes de campo do Recenseamento Geral da População e Habitação (RGPH), de forma a não desmotivar a população que anseia por responder ao Censo 2024.
Em causa está o segundo recenseamento demográfico em Angola, dez anos depois do primeiro no pós-independência, com o objectivo de fornecer informações sobre a evolução quantitativa da população ao longo do tempo.
A posição dos académicos surge numa altura em que a presença dos agentes de campo, com os equipamentos digitais de recolha da informação censitária, é tímida nas ruas e bairros dos dez municípios da província de Benguela.
Em declarações à ANGOP, Indissilulo Kibulo, professor de Introdução às Ciências Agrárias II, no Instituto Superior Politécnico de Benguela, estranha a pouca visibilidade dos recenseadores nas ruas e revela não ter sido ainda contado para o Censo 2024.
“Infelizmente ainda não fui contado e também não vejo quase nenhum rosto ou camisa alaranjada”, referiu, frisando que o adiamento do processo, inicialmente marcado para 19 de Julho, deveria ter sido aproveitado para sanar essas dificuldades.
Também o professor de Geografia João Baptista Huvi relata o mesmo ambiente na zona em que vive e avisa que os agentes continuam "invisíveis" no contacto directo com a população nos locais de grande concentração.
“Às vezes, vejo as viaturas a circularem. Mas ainda não constatei nenhum recenseador porta-a-porta”, explicou.
Mesmo assim, João Baptista Huvi referiu ter já instruído a família sobre como deverá responder às perguntas dos agentes de campo, para o caso de aparecerem.
Reduzir assimetrias
Tatiana Gonçalves, professora de Genética Animal no Instituto Superior Politécnico de Benguela, prevê que os resultados do Censo 2024 agreguem valor e tragam uma mudança positiva no modo de vida das pessoas.
“Sabendo quantos somos e como vivemos, teremos indicadores para podermos ver como investir para reduzir as assimetrias regionais”, disse.
Perante o crescimento da densidade populacional nos últimos anos, a académica Sabina Bartolomeu enaltece a realização do Censo 2024, augurando que ajude as autoridades a atenderem às reais necessidades da população em termos de condições sociais.
A expectativa, apontou, é de que os angolanos sintam alguma mudança depois do Censo 2024, principalmente em termos de distribuição da riqueza nacional.
Já Sadão Celestino, professor de Inglês no ISPB, apela à participação da população, pois vai permitir ao Governo identificar as dificuldades em que os cidadãos vivem, com vista a encontrar soluções para saná-las.
Docente de Geografia e Desenvolvimento Sustentável, Artur Gamba pensa que o importante não é saber o número da população em Angola, mas como devemos distribuir a renda nacional.
“Esse é que deve ser o objectivo comum e que tem falhado. Os dados deviam ajudar o Executivo na distribuição da riqueza de forma equitativa”, asseverou.
Enquanto isto, o professor João Baptista Huvi, encara o Censo como um procedimento muito importante, cujos dados são aplicáveis, sobretudo, para planificação sustentável desde o ponto de vista económico e social.
Aliás, refere que não existe nenhuma projecção ou programa que o Estado ou administração, seja comunal, municipal ou provincial, deve fazer sem primeiro saber quantos somos.
Por sua vez, o psicólogo Joaquim Kulembe acredita que o Executivo será capaz de gizar políticas para satisfazer as necessidades colectivas, atacando as questões básicas que afligem a vida dos cidadãos.
Revisão das políticas públicas
O economista Janísio Salomão defende que o RGPH pode repercutir positivamente no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN), para o período 2023-2027.
Como os dados do Censo de 2014 estão desajustados ao actual contexto do país, ele prevê a revisão das políticas públicas e o reajustamento do Plano de Desenvolvimento Nacional.
“Angola conta com mais de 30 milhões de habitantes e o cenário actual pode estar muito acima disto”, assume. JH/CRB