Genebra - As Nações Unidas condenaram hoje veementemente "o uso excessivo de força" pelas forças de segurança durante manifestações na Colômbia contra uma reforma tributária e, em particular, em Cali, no oeste do país.
"Estamos profundamente alarmados com os acontecimentos na cidade de Cali, na Colômbia, onde a polícia abriu fogo contra manifestantes que se opõem à reforma tributária, matando e ferindo várias pessoas de acordo com as informações disponíveis", disse Marta Hurtado, porta voz da alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, em conferência de imprensa em Genebra.
Marta Hurtado também pediu calma antes de um novo dia de manifestações programado para quarta-feira.
"O nosso escritório na Colômbia está a verificar o número exato de vítimas e a determinar como este terrível incidente aconteceu em Cali", disse a porta-voz, acrescentando que os defensores dos direitos humanos também relataram ameaças e assédio.
"Devido às tensões extremas, com soldados e polícias encarregados de controlar as manifestações, pedimos calma (...) e lembramos às autoridades governamentais que devem proteger os direitos humanos", incluindo o direito ao protesto pacífico, acrescentou.
"As armas de fogo devem ser usadas apenas como último recurso", reiterou a porta-voz.
Um levantamento oficial indicou 19 mortos, incluindo um polícia, e quase 850 feridos, sendo 306 civis.
Sob pressão das manifestações, maciças na quarta-feira e que se repetiram nos dias seguintes com uma dimensão variável, o Presidente conservador colombiano, Ivan Duque, anunciou no domingo à noite que vai deixar cair a reforma fiscal em apreciação no parlamento.
O projecto tem despertado fortes críticas, tanto da oposição como dos sindicatos que organizaram a mobilização de 28 de Abril e até de representantes do partido no poder por acreditarem que a reforma irá afectar em demasia a classe média.
A reforma fiscal é também considerada "inoportuna" em plena pandemia de covid-19, que agravou a crise económica no país.
Ivan Duque propôs retirar o plano original e redigir um novo texto, anulando os principais pontos contestados: o aumento do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) sobre bens e serviços, bem como a ampliação da base do Imposto sobre o Rendimento (IRS).
Apesar do anúncio da retirada da proposta, os manifestantes voltaram às ruas em várias cidades do país.