Faixa de Gaza - O movimento islamita palestiniano Hamas tem um historial de substituição rápida e tranquila de líderes mortos em ataques aéreos israelitas, mas a guerra em curso em Gaza pode complicar a sucessão de Ismail Haniyeh, morto esta madrugada em Teerão, noticia o site Notícias ao Minuto.
"Não estamos a discutir este assunto agora", disse um funcionário do Hamas à agência noticiosa Associated Press (AP), sob condição de anonimato, de acordo com os regulamentos, quando questionado sobre o processo de substituição de Haniyeh.
Haniyeh dirigiu o gabinete político do grupo até à sua morte. O seu adjunto era Saleh Arouri, que foi morto num ataque israelita em Beirute em Janeiro e teria sido o substituto automático. O lugar de Arouri ficou vazio desde a sua morte.
O Conselho Shura, o principal órgão consultivo do movimento islamita palestiniano, vai reunir-se em breve, provavelmente após o funeral de Haniyeh no Qatar, para nomear um novo sucessor.
Os membros do conselho são mantidos em segredo, mas representam as secções regionais do grupo, em Gaza, na Cisjordânia e na diáspora, bem como os presos.
Um dos outros adjuntos de Haniyeh era Zaher Jabarin, que tem sido descrito como o director executivo do grupo devido ao importante papel que desempenha na gestão das finanças e, consequentemente, com bons ofícios junto do Irão.
Hani al-Masri, um perito em organizações palestinianas, disse que a escolha é agora provavelmente entre Khaled Mashaal, um veterano funcionário e antigo líder do Hamas, e Khalil al-Hayyah, uma figura poderosa dentro do Hamas que era próximo de Haniyeh.
O novo líder político do Hamas terá de decidir se quer continuar a opção militar, tornando-se essencialmente um grupo de guerrilha e clandestino, ou escolher um líder que possa oferecer compromissos políticos uma opção improvável nesta fase.
Mashaal tem experiência política e diplomática, mas as suas relações com o Irão, a Síria e o Hezbollah azedaram devido ao seu apoio aos protestos árabes em 2011.
Quando esteve no Líbano em 2021, os dirigentes do Hezbollah recusaram reunir-se com Mashaal que, porém, mantém boas relações com a Turquia e o Qatar e é considerado uma figura mais moderada que liderou o grupo até 2017.
Yehya Sinwar, a poderosa figura do Hamas que lidera a guerra em Gaza, está no extremo oposto desse espectro e é improvável que apoie a liderança de Mashaal.
Al-Hayyah é considerado próximo de Haniyeh, um líder proeminente que vive no exílio e é originário de Gaza, com importantes ligações internacionais e boas relações com a ala militar, bem como com o Irão e a Turquia.
Após anos de relações frias com o "eixo da resistência" liderado pelo Irão, devido ao apoio do Hamas à oposição contra o Presidente sírio, Bashar al-Assad, durante o conflito sírio iniciado em Março de 2011, o movimento palestiniano começou a restabelecer as suas relações com Teerão e reconciliou-se com Damasco.
Al-Hayyah, que tem também boas relações com o Irão, a Turquia e o movimento islamita libanês Hezbollah, chefiou uma delegação que se deslocou à Síria em 2022 e se encontrou com Al-Assad.
O papel do líder do grupo é importante para manter as relações com os aliados do Hamas fora dos territórios palestinianos e é provável que a escolha seja influenciada pelas opções do grupo nos próximos dias.
Al-Masri afirmou que qualquer escolha terá de ser temporária até à realização de eleições para o gabinete político, que deveriam ter tido lugar este ano, mas que foram anuladas pela guerra.
A reunião da direcção do Hamas pode também ser complicada pelos esforços para chegar a Sinwar, que continua a ser influente e será consultado sobre a escolha.
Com o fracasso das conversações de cessar-fogo, a estratégia de Israel até agora parece ter deixado o grupo com poucas opções: render-se ou continuar a guerra.
Segundo al-Masri, um terceiro candidato possível é Nizar Abu Ramadan, que desafiou Sinwar para o cargo de chefe de Gaza e é considerado próximo de Mashaal.
A guerra em Gaza começou a 07 de Outubro, após o ataque do Hamas que matou cerca de 1.200 pessoas. O grupo também fez 250 pessoas reféns.
A operação de retaliação de Israel destruiu bairros inteiros em Gaza e obrigou cerca de 80% da população a fugir das suas casas.
Mais de 39.000 palestinianos foram mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que não faz distinção entre civis e combatentes na sua contagem. AM