Luanda – Do “sonho” à realidade, almejar a conquista de um lugar no pódio de um Campeonato do Mundo sénior feminino não é utopia. É um caminho cuidadosamente já iniciado pela Federação Angolana de Andebol (FAAND).
Por Walter dos Reis e Ventura Bengo, jornalistas da ANGOP
Em entrevista à ANGOP, durante a qual abordou o estado da modalidade, programas de desenvolvimento e desafios para o futuro, o presidente da FAAND, José do Amaral Júnior “Maninho”, exteriorizou a vontade do órgão reitor colocar o andebol feminino no pódio mundial e diz que a tarefa já começou.
A conquista de um Campeonato Africano em sénior masculino, a criação de um fundo social de apoio aos antigos praticantes carentes, bem como a criação de um Tribunal Arbitral do Desporto no país mereceram, igualmente, a análise do “boss” do órgão reitor.
Maninho mostra-se confiante no alcance dos objectivos, mas alerta para a necessidade de muito trabalho assente em bases sólidas e na cientificação por via da formação de técnicos e de formadores, pois “o caminho é ainda longo”.
Eis a entrevista na íntegra:
ANGOP – O que falta para Angola dar o salto no mundo, quando no continente tem domínio absoluto?
José do Amaral Júnior (JAJ) - Diria que neste momento já começou. O início é sempre na base, com a preparação e competições internas de várias equipas nos escalões de formação a nível de juvenis e juniores.
Angola é dos poucos países a realizar todas as provas internas nos escalões competitivos. Hoje, temos mais jogadoras a evoluírem em países de referência, mas internamente precisa-se de mais trabalho e adoptar um plano de treinamento idêntico ao da Europa.
Com mais investimentos na preparação das selecções nacionais, acredito que os nossos objectivos podem ser alcançados a curto ou médio prazo.
ANGOP – Aproxima-se o Campeonato do Mundo, de 29 de Novembro a 17 de Dezembro. Está acautelada toda logística para o evento?
JAJ - Segundo a programação que recebemos da equipa técnica, cumprimos com o terceiro ciclo de preparação na província de Luanda.
Este ciclo estende-se até este mês de Novembro com o estágio que decorre na Hungria.
A última etapa de preparação está a ser concluída agora com a participação de Angola no torneio das Quatro Nações, tendo como adversárias a Noruega (anfitriã), Islândia e a Polónia, boas selecções que estão a proporcionar rodagem competitiva para se chegar da melhor forma ao mundial.
ANGOP - Neste torneio das Quatro Nações, está uma adversária do grupo de Angola, a Islândia. Não causa inquietação à equipa técnica?
JAJ - Não causa nenhuma inquietação, porque as equipas se conhecem por intermédio de vídeos. Da mesma forma que a Islândia nos vai ver a jogar, acontecerá o mesmo connosco.
Não existem dois jogos iguais. Acredito que os nossos técnicos estão a usar um sistema táctico que não será necessariamente o mesma do mundial.
Queremos que a nossa equipa chegue ao mundial com mais jogos e traquejo. É possível que percamos no torneio das Quatro Nações com a Islândia e vencermos no Campeonato do Mundo. Não existem jogos iguais. Também vamos estudar a Islândia e não temos receios.
ANGOP - Angola ainda detém a hegemonia no continente?
JAJ - A nível do feminino é óbvio. Temos 15 títulos africanos e ninguém tem nem metade disso. Em 2019, tínhamos perdido o título júnior feminino e recuperamos a seguir, e agora revalidamos.
Ganhamos os últimos campeonatos de sénior. Já não competíamos a nível de cadetes. Como sabem, o país está a enfrentar grandes dificuldades de ordem financeira e, ainda assim, estivemos no Campeonato.
A primeira meta era a qualificação ao Campeonato do Mundo da categoria, a segunda dar rodagem a essas jovens jogadoras que nos próximos tempos farão parte da categoria júnior, o que não acontecia no passado, com a primeira internacionalização da atleta a iniciar nos seniores - não era normal.
Quem esteve na selecção de cadetes, agora no africano facilmente chega aos juniores e acaba por estar mais familiarizada, porque, além do nível físico e táctico, a condição anímica também acaba por ser determinante, sobretudo, nos jogos a eliminar.
ANGOP – Mudando de assunto, muitos ex-praticantes do desporto e andebol passam, actualmente, por situações sociais precárias, clamando por apoios.
JAJ – De facto, é uma situação bastante preocupante e que exige a intervenção das autoridades do país, no sentido de se acudir estas pessoas, que deram uma grande contribuição ao desporto angolano, principalmente nas selecções nacionais.
O Estado deve pensar numa forma de compensação, criando um fundo de apoio social ao desporto, para atender casos específicos, com realce para os atletas que fizeram parte das selecções nacionais.
Também é necessário acautelar a situação dos jovens atletas, que podem beneficiar de bolsas de estudo para formações académicas e profissionais, já que a prática desportiva tem um tempo muito curto, principalmente no sector feminino.
Este agraciamento, além de garantir o futuro das praticantes, também serviria de incentivo aos jovens.
ANGOP - Actualmente, existem muitos casos e litígios desportivos que emperram nos tribunais civis ou comuns, que atrasam a dinâmica deste sector social. Há necessidade de se criarem tribunais específicos?
JAJ - Sim. Um Tribunal Arbitral do Desporto Nacional seria muito importante, por ser uma instituição com especialistas e sensibilidades para solucionar, de forma célere, os assuntos do desporto.
Por exemplo, posso apontar o caso da Associação Provincial de Andebol de Luanda, que um ano depois das eleições, a direcção eleita não tomou posse devido a uma providência cautelar interposta ao tribunal civil, pela lista contestatária.
São situações que levam muito tempo e transtornos enormes ao normal funcionamento das agremiações desportivas e outras instituições.
PERFIL
Nome: José Joaquim do Amaral e Silva Júnior
Nome conhecido: Maninho
Idade: 60 anos
Nascido em Luanda, aos 31 de Janeiro de 1963
Carreira desportiva:
1973 - 1975
Prática de andebol na escola
1975 - 1976
Prática de mini - basquete no Luanda Clube
1975 - 1976
Prática de hóquei em patins no clube Ferroviário de Luanda
1976
Início no andebol como federado
1977
Torna-se jogador de andebol na classe juvenil do Sporting de Luanda
1978
Jogador na classe de cadetes do Atlético de Luanda
1979
Jogador de andebol júnior do Petróleo de Luanda, e junta-se dois anos depois ao 1.º de Agosto, como sénior
Durante a sua carreira foi campeão nacional de juniores e seniores nos vários clubes que representou
1978-1990
Participou em centenas de jogos internacionais a nível de clubes e da selecção nacional
1985-1992
Chefe-adjunto do departamento de Relações Exteriores do Comité Desportivo Nacional Militar ( CODENM)
2001-2007
Coordenador do Núcleo Desportivo da Sociedade Mineira de Catoca
2004-2008
Vice-presidente da Mesa da Assembleia-geral da Associação Provincial de Futebol da Lunda Sul
2012-2020
Vogal de direcção da Federação Angolana de Andebol
2016-2019
Presidente do Conselho Técnico Desportivo da Federação Angolana de Andebol
31 de Outubro de 2020
Eleito presidente da Federação Angolana de Andebol
Percurso académico e profissional
Curso de jornalismo no Instituto Karl Marx, actual IMEL ( Instituto Médio de Economia de Luanda), tendo passado depois para o Instituto Superior de Ciências da Educação ( ISCED)
Actualmente é funcionário da Sociedade Mineira do Catoca, tendo antes trabalhado na Embaixada da África do Sul em Angola e na Agência Angola Press (ANGOP), como jornalista.
WR/VAB/MC/VM