Luanda – A “gritante” falta de quadros para potenciar os cafeicultores com novos conhecimentos científicos e tecnológicos continua a ser uma das principais razões da constante baixa da produção do café em Angola.
Segundo o director-geral do Instituto Nacional do Café (INCA), Vasco António, actualmente, esta instituição conta apenas com 14 investigadores e sete técnicos superiores, com idades acima de 48 anos, número insuficiente para responder aos desafios deste subsector agrícola no país.
Em entrevista exclusiva à ANGOP, a propósito do Dia Internacional do Café, que se comemora hoje (sábado, dia 1 de Outubro), o responsável justificou que o défice acentuado de técnicos deriva da “não admissão de novos quadros no sector da agricultura, ao longo de muitos anos”.
Por esse facto, prosseguiu, as vagas deixadas pelos profissionais reformados e falecidos não estão a ser preenchidas, criando um défice "gritante" de pessoal no subsector do café, cenário que se verifica em quase todos os segmentos do sector agro-pecuário.
Para minimizar o défice de profissionais na área da investigação, por exemplo, a fonte referiu que o instituto precisa de 110 investigadores, no mínimo, entre coordenadores e estagiários, assim como 82 técnicos superiores (assessores e técnicos de 2ª classe).
Diante desse cenário, Vasco António aventou a possibilidade de novas admissões, nos próximos tempos, visando reduzir o défice de quadros existente.
Esclareceu que o enquadramento de novos especialistas servirá, essencialmente, para atender às reais necessidades das três estações de investigação cafeícola, instaladas nas províncias do Uíge, Cuanza Sul (Gabela) e Benguela (Ganda).
Com esses técnicos, afirmou, será possível aprofundar e melhorar o estudo sobre a cultura do café e fornecer plantas com alto potencial genético produtivo, bem como melhorar a qualidade do produto.
“Para aumentar a produção do café no país temos de apostar fortemente na investigação e potenciar os produtores com conhecimentos tecnológicos, através das brigadas municipais de café, bem como incentivar as novas gerações a praticarem a actividade cafeícola”, reforçou.
Por outro lado, o também engenheiro agrónomo apontou a facilitação de acesso ao crédito bancário para os produtores familiares e a reabilitação das vias de acesso às fazendas como outro aspecto que precisa de ser melhorado, para o aumento da produção.
Produção anual longe de satisfazer a procura do mercado
Devido ao défice de quadros e “fraco financiamento” aos produtores, a média da produção situa-se em cerca de seis mil toneladas/ano, numa área de 35 mil hectares, que estão a ser explorados por perto de 16 mil produtores, entre familiares e empresariais.
De acordo com Vasco António, essa produção resulta da fraca colheita de 200 ou 300 quilos de café/hectar, em média, uma quantidade que ainda longe de atender, principalmente, a procura do mercado internacional.
Com essa baixa, considerou ser difícil resgatar o terceiro lugar de maior produtor mundial do “bago vermelho” alcançado pelo país em 1973, período em que atingiu cerca de 230 mil toneladas por ano.
Perante esse quadro, o especialista defende a necessidade de se fornecer aos produtores plantas com qualidade, que permitam colher uma tonelada por cada hectar, no mínimo, para que se tire melhor proveito das áreas de cultivo, além da facilitação do acesso ao financiamento e aumento do número de técnicos.
Caso se concretize essa meta, disse, o país poderá aumentar a sua produção de seis mil para 35 mil toneladas anuais, um passo significativo para recuperar o potencial cafeícola de Angola e reconquistar os mercados perdidos ao longo dos anos.
Para o êxito desse objectivo, Vasco António lembrou que o INCA já começou a trabalhar na produção maciça de mudas de café por via vegetativa (clonagem de plantas), para aumentar as áreas de produção de forma gradual.
Com esse procedimento, usado por muitos países produtores, os níveis de produção poderão elevar-se cada vez mais, superando a média actual de colheita do café, que ronda as seis mil toneladas/ano.
A título de exemplo, esse método está a permitir as plantas produzirem 25 quilos de “Café Mabuba”, equivalente a três mil quilogramas de café comercial/verde, destacou a fonte.
Contributo do café no desenvolvimento socioeconómico
Tendo em conta a abrangência da actividade cafeícola, o director-geral do INCA defende a necessidade de se prestar maior atenção nesta cultura, por impactar a vida social, económica e ambiental de milhares de cidadãos.
Exemplificou que, partindo do princípio que o cultivo do café emprega l5 587 famílias em Angola, e sendo a média de cada agregado familiar situar-se em sete pessoas, este subsector permite que mais de 100 mil cidadãos tenham rendimentos provenientes desta actividade.
Dos perto de 16 mil operadores engajados no cultivo do café no país, o instituto controla 318 empresas, o que representa 2,8% do total de cafeicultores, enquanto 97% dos camponeses se dedicam à produção familiar.
No segmento empresarial, a maior parte dos empresários investem no cultivo do café arábica, com destaque para as fazendas situadas no município da Kibala (Cuanza Sul), onde se regista a exploração de cerca de 200 mil hectares.
Adicionalmente, avançou, o aumento da produção dessa commodity incentiva a instalação de pequenas unidades industriais, para a transformação e empacotamento do café no país, alargando o número de postos de trabalho.
Nesse quesito, o país regista 13 marcas de café cultivado, torrado, moído e embalado localmente, facto que agrega valor na cadeia de produção, com a criação de mais postos de trabalho, assim como permite a exportação do produto acabado.
Por exemplo, as mil toneladas de café comercial/verde exportadas no ano passado permitiram a arrecadação de dois milhões e 200 mil dólares, tendo em conta que a média do preço no mercado internacional ronda os 2 200 dólares/tonelada.
Em termos ambientais, o responsável aponta a actividade cafeícola como a cultura que contribui para a preservação do meio ambiente, por inibir o abate de árvores de forma indiscriminada e a caça furtiva nas áreas de produção.
O Dia Internacional do Café, que começou a ser celebrado a 1 de Outubro de 2015, visa reconhecer a importância deste produto no dia-a-dia dos cidadãos, assim como apoiar os milhões de cafeicultores que se dedicam ao cultivo do produto aromático.
A data, comemorada por 74 estados Membros da Organização Internacional do Café (OIC) e 26 associações do sector cafeeiro do mundo, dá a oportunidade aos que amam o café de compartilhar o seu amor pela bebida.
A nível mundial, o cultivo do café emprega a mais de 500 milhões de pessoas, enquanto o comércio deste produto movimenta mais de 170 mil milhões de dólares, sendo superado apenas pelo petróleo.
Segundo dados estatísticos, estima-se que mais dois bilhões de chávenas de café são consumidos por dia no mundo, facto que desafia os países a aumentar cada vez mais os níveis de produção, para satisfazer o mercado.