Nova Iorque - A UNICEF alertou hoje que milhares de crianças no Sudão poderão morrer nos próximos meses se não forem adoptadas medidas de protecção, incluindo um cessar-fogo imediato e o acesso sem entraves da ajuda humanitária a este país africano.
"Há mais de um ano que andamos a dizer que as crianças do Sudão não podem esperar. Bem, agora estão a morrer", denunciou, hoje, em Genebra, o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância, James Elder.
O Sudão está envolvido numa guerra entre o exército e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF), há mais de um ano, o que deu origem àquela que é já considerada a maior crise mundial a afectar crianças em termos brutos. Mais de cinco milhões de crianças encontram-se já fora das suas casas.
Segundo a agência internacional, pela primeira vez em mais de sete anos, o Comité de Avaliação da Fome emitiu um alerta máximo, com destaque para o campo de deslocados de Zamzan, no Darfur.
Se a ajuda não chegar, "a fome que surgiu numa parte do Sudão este mês corre o risco de se espalhar e causar uma perda catastrófica de vidas de crianças", referiu Elder, sublinhando, ainda, que 13 outras zonas do país, onde vivem cerca de 143.000 crianças, estão à beira de uma catástrofe alimentar.
Para o porta-voz da Unicef, está-se perante uma situação em que se trata também de "uma crise de negligência", na medida em que algumas das "inúmeras atrocidades" no terreno não são relatadas ou são desconhecidas.
No sábado, duas crianças foram mortas durante um jogo de futebol num espaço gerido pela Unicef em Cartum, e a organização registou também casos de recrutamento forçado e de violência sexual, com vítimas, neste último caso, com apenas 8 anos de idade. "Muitas (destas raparigas e mulheres) foram mantidas em cativeiro durante semanas", disse o responsável, que alertou para um "aumento preocupante" do abandono de crianças nascidas em resultado de violações.
Se não forem tomadas medidas, dezenas de milhares de crianças sudanesas poderão morrer nos próximos meses. Mas, para Elder, este não é de modo algum o pior cenário possível. "Qualquer surto de doença fará com que a mortalidade dispare", alertou. DSC/JM