Kigali - O Presidente do Ruanda anunciou hoje que o seu país está a enviar novas tropas para a República Centro Africana (RCA) ao abrigo de um acordo de cooperação bilateral e não da ONU, após ataques contra tropas ruandesas, noticiou a Lusa.
No período que antecede as eleições presidenciais e legislativas, previstas para 27 de Dezembro, a República Centro Africana enfrenta uma ofensiva de grupos rebeldes, descrita no sábado como uma "tentativa de golpe" por parte do Governo.
Na noite de domingo, o Ministério da Defesa ruandês disse que as forças de manutenção da paz ruandesas na RCA foram "alvo de rebeldes apoiados por (ex-presidente) François Bozizé". O partido de Bozizé negou qualquer tentativa de golpe de Estado.
O objectivo dos rebeldes era o de "perturbar as eleições", mas "alguns deles queriam atacar as forças [ruandesas] na República Centro Africana porque eram intransigentes", disse hoje Paul Kagame, durante uma conferência de imprensa.
O Ruanda tem sido um dos principais contribuintes para a Missão das Nações Unidas na República Centro Africana (MINUSCA) desde o seu destacamento, em 2014, com cerca de 11.500 agentes de manutenção da paz.
O contingente ruandês da missão é responsável, entre outras coisas, pela segurança do Presidente centro-africano, Faustin Archange Touadéra, e pela protecção do Palácio Presidencial.
O acordo de cooperação bilateral entre o Ruanda e a República Centro Africana autorizará estas novas tropas a conter "qualquer tentativa de perturbar as eleições e também de proteger os 'capacetes azuis' ruandeses de ataques rebeldes".
Kigali não forneceu pormenores sobre o destacamento, mas o Governo centro-africano disse que o Ruanda tinha enviado "várias centenas de homens que já se encontram no terreno e já começaram a lutar".
O executivo centro-africano disse ainda que a Rússia também tinha enviado "várias centenas de homens".
Segundo a Lusa, na República Centro Africana, um país de 4,9 milhões de pessoas e rico em diamantes, guardas privados empregados por empresas de segurança russas já estão a fornecer protecção ao Presidente Touadéra e instrutores estão a treinar as forças armadas.
Na sexta-feira à noite, três dos mais poderosos grupos armados que ocupam mais de dois terços da República Centro Africana tinham começado a avançar nas rotas vitais de abastecimento da capital, Bangui, após terem anunciado a sua fusão.
Bozizé, que chegou ao poder em 2003 e foi derrubado em 2013 por uma coligação rebelde que mergulhou o país na guerra civil, declarou-se candidato presidencial - juntamente com as eleições legislativas - e foi visto como o principal rival do chefe de Estado, que era o favorito.
Mas o Tribunal Constitucional invalidou a sua candidatura, decidindo que ele estava sob sanções da ONU pelo seu alegado apoio a grupos armados responsáveis por "crimes de guerra" e "crimes contra a humanidade".