Mogadíscio -A comunidade internacional saudou hoje (segunda-feira) a eleição de Hassan Cheikh Mohamoud como Presidente da Somália, apelando para que assuma os problemas do país pobre e instável, paralisado há mais de um ano por uma profunda crise política.
Hassan Cheikh Mohamoud, 66 anos, que já tinha sido Presidente da Somália entre 2012 e 2017, foi eleito domingo pelos parlamentares somalis, numa disputa contra o chefe de Estado cessante, Mohamed Abdullahi Mohamed, conhecido por Farmajo.
Esta eleição, que inicialmente deveria ter sido realizada, o mais tardar, em fevereiro de 2021, põe fim a mais de um ano de adiamentos e crise política em torno da organização do voto num país destroçado pelos ataques dos radicais islâmicos do grupo Al-Shabab e ameaçado pela fome, após uma seca de proporções históricas.
Há mais de um ano que os parceiros internacionais da Somália pediam às autoridades que concluíssem o processo eleitoral para se concentrarem nas prioridades do país.
A ministra britânica com a pasta de África, Vicky Ford, felicitou hoje de manhã o Presidente eleito na rede social Twitter e disse estar disposta a continuar a ajudar a Somália "no reforço da sua estabilidade, na luta contra o Al-Shabab e no apoio aos afectados pela devastadora seca".
Já o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, disse que espera trabalhar de perto com o Governo do país vizinho tendo em conta "interesses bilaterais e regionais comuns".
O secretário-executivo da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad), organização regional da África Oriental, Wokeneh Gebeyehu, disse em comunicado que a eleição de Hassan Cheikh Mohamoud foi "um testemunho claro da confiança que o povo somali tem nas suas qualidades de liderança".
Embora o seu primeiro mandato tenha sido marcado por acusações de corrupção e conflitos internos, a eleição de Hassan Sheikh Mohamoud foi recebida com tiros em Mogadíscio.
"Sei que o novo Presidente não tem o melhor histórico, mas esperamos que ele mude desta vez", afirmou Abdinasir Mohamed, um habitante da capital, em declarações citadas pela agência France-Presse.
Num discurso após a tomada de posse, o novo Presidente pediu unidade depois de mais de um ano de conflitos políticos.
"Temos que ir para frente e nunca para trás, temos que curar as nossas feridas", afirmou, acrescentando: "Não vamos perder tempo com o passado, mas vamos trabalhar para um futuro brilhante, e implementar o meu 'slogan' de campanha que é 'A pacífica Somália, em paz com o mundo'".
O anúncio de uma extensão de dois anos do mandato de Farmajo pelos parlamentares, em abril de 2021, provocou confrontos em Mogadíscio, reacendendo memórias das décadas de guerra civil que devastou o país, após 1991.
Os últimos meses também foram marcados por acérrimas rivalidades dentro do executivo entre Farmajo e o seu primeiro-ministro Mohamed Hussein Roble, a quem pediu para organizar as eleições.
De acordo com a comunidade internacional e vários analistas, essas tensões beneficiaram os radicais islâmicos do grupo Al-Shabab, afiliados na Al-Qaida, que lideram ataques no país há 15 anos.
Nos últimos meses, intensificaram os seus ataques, nomeadamente com um duplo ataque sangrento no centro do país, em 24 de Março (48 mortos), e depois um grande ataque contra uma base da força da União Africana (10 mortos segundo um relatório oficial).
As autoridades somalis também aguardam uma resposta do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a continuação de um importante programa de assistência financeira, programado para terminar em 17 de Maio, caso não existisse um novo Governo até essa data.
O Governo pediu no final de Abril para que se adiasse este prazo por três meses.
O país também está a passar por uma das piores secas em décadas. As organizações humanitárias temem uma fome semelhante à de 2011, que matou 260 mil pessoas.