Nova Iorque - A ONU rejeitou hoje as afirmações israelitas sobre a falta de informação acerca do percurso do veículo atingido em Gaza por tiros, que causaram a primeira morte de um funcionário internacional no enclave palestiniano desde o início da guerra, segundo a Lusa.
O exército israelita tinha afirmado "não ter sido informado do percurso do veículo", que se encontrava numa "zona de combate em curso".
Em Genebra, o porta-voz das Nações Unidas, Rolando Gomez, indicou que "a ONU informa as autoridades israelitas dos movimentos de todos os seus comboios", como "é o caso em todos os teatros de operações".
"Foi o que aconteceu ontem segunda-feira de manhã, pelo que os mantivemos informados. Era um veículo da ONU claramente identificado", garantiu o porta-voz, em conferência de imprensa, acrescentando que este é um "exemplo claro do facto de que, neste momento, não há lugar seguro em Gaza".
Gomez informou ainda que a vítima mortal era um cidadão indiano que integrava o serviço de segurança e protecção das Nações Unidas (UNDSS).
Tratou-se da primeira morte de um funcionário internacional da ONU no território palestiniano desde o início da guerra, a 07 de Outubro de 2023.
Segundo a ONU, um outro membro do UNDSS foi igualmente atingido pelos tiros e sofreu ferimentos.
A mesma fonte precisou que o veículo foi atingido a caminho do hospital europeu de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
Contactado pela agência francesa AFP, o exército israelita enviou um comunicado que parecia ter sido redigido na segunda-feira, no qual afirmava que o UNDSS o tinha informado dos factos.
"Estamos actualmente a investigar o assunto", acrescentou a mesma fonte.
O porta-voz da ONU em Genebra afirmou ainda que o secretário-geral da ONU, António Guterres, tinha "apelado a uma investigação completa" deste caso.
"Queremos que os responsáveis sejam responsabilizados. (...). Os trabalhadores humanitários internacionais não são alvos. Estes ataques têm de acabar", disse.
Vários funcionários palestinianos das Nações Unidas foram mortos na Faixa de Gaza desde o início da guerra, tendo a agência da ONU responsável pelos refugiados palestinianos (UNRWA) já divulgado ter perdido 188 dos seus 13.000 funcionários no enclave.
O actual conflito foi desencadeado depois de um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano Hamas em Outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Em represália, Israel lançou uma ofensiva que já provocou mais de 35.000 mortos e 79 mil feridos, segundo o Hamas, que controla o enclave palestiniano desde 2007.
A retaliação israelita está a provocar uma grave crise humanitária em Gaza, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que já está a fazer vítimas "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo. MOY/AM