Nova Iorque - A Organização das Nações Unidas alertou terça-feira que é "vital para milhões de pessoas" manter o fornecimento de ajuda humanitária, desde a Turquia até ao último reduto rebelde no noroeste da Síria.
O Conselho de Segurança da ONU deve decidir, se prorroga ou não este mecanismo antes de 10 de Janeiro, noticiou a agência EFE.
Os quinze países do Conselho de Segurança concordaram em Julho estender este sistema de ajuda transfronteiriça por seis meses, depois da Rússia, principal aliada do governo de Damasco, ter vetado uma resolução que o prorrogava por um ano, como era esperado.
Moscovo há muito que argumenta que a melhor solução passaria por deixar gradualmente de enviar ajuda do exterior para a província de Idlib e começar a canalizar toda essa ajuda de dentro do país, o que tornaria este apoio dependente do executivo sírio.
Perante esta posição, outros países e a própria ONU insistem que os comboios humanitários devem poder continuar a entrar pela Turquia, para evitar um desastre entre a população daquela área que não está sob controlo do governo.
"Sem o acesso transfronteiriço das Nações Unidas ao noroeste do país, a fome aumentará, milhões de pessoas correrão o risco de perder assistência à habitação e o acesso à água será restringido", alerta um relatório assinado pelo secretário-geral, António Guterres.
Além disso, a ONU aponta que a entrega de material médico também seria muito afectada e dificultaria o controlo de doenças, incluindo o recente surto de cólera no país.
Segundo o diplomata português, "é essencial que o Conselho de Segurança renove o mecanismo transfronteiriço, que é vital para milhões de pessoas".
"É um imperativo moral e humanitário", insistiu o líder das Nações Unidas, citado no relatório, alertando que interromper essa ajuda em pleno inverno seria especialmente grave.
O Conselho de Segurança deve discutir este tema na reunião desta quarta-feira, mas tradicionalmente as negociações deste dossiê arrastam-se sempre até ao fim do prazo.
Nos últimos anos, a questão tornou-se uma batalha diplomática nas Nações Unidas entre a Rússia e a Síria, de um lado, e a maioria dos Estados-membros, liderados pelos Estados Unidos, do outro.
Desencadeada em Março de 2011 pela repressão às manifestações pró-democracia, a guerra civil na Síria já provocou mais de meio milhão de mortes, devastou as infra-estruturas do país e levou à fuga de milhões de pessoas.
O conflito tornou-se mais complexo ao longo dos anos, com o envolvimento de potências regionais e internacionais e a ascensão do grupo EI que, apesar de derrotado em 2019, ainda consegue realizar ataques mortíferos através de "células adormecidas".
O Presidente sírio, Bashar al-Assad, recuperou o controlo do país, mas partes do norte permanecem sob o controlo de rebeldes, bem como de forças curdas turcas e sírias.