Sanaã - O Governo e os rebeldes huthis, em guerra no Iémen, concordaram em renovar por mais dois meses a trégua em vigor desde 02 de Abril, apesar do receio de retoma dos combates, anunciou hoje a ONU.
"Gostaria de anunciar que as partes em conflito aceitaram a proposta da ONU de renovar a trégua actual no Iémen por mais dois meses", disse o enviado da ONU, Hans Grundberg.
"O prolongamento (do cessar-fogo) entrará em vigor quando a trégua actual expirar, hoje, 02 de Junho de 2022, às 19h00, horário do Iémen", anunciou a organização em comunicado, acrescentando que a prorrogação do acordo "tem os mesmos termos do acordo original".
O país mais pobre da península arábica é, há mais de sete anos, devastado por uma guerra entre os huthis, rebeldes apoiados pelo Irão, e as forças do Governo, apoiadas por uma coligação liderada pela vizinha Arábia Saudita.
Mergulhado numa das piores tragédias humanitárias do mundo, o Iémen viveu, no entanto, dois meses de relativa calma, desde 02 de Abril, data da entrada em vigor de uma trégua de dois meses conseguida pela ONU e que iria terminar hoje à noite.
Nas últimas semanas, as negociações para a renovação dessa trégua pararam devido a persistentes desacordos entre as duas partes sobre a sua implementação no terreno.
Além de um cessar-fogo relativamente respeitado, a trégua prevê uma série de medidas destinadas a aliviar o sofrimento da população, nomeadamente a reabertura do aeroporto da capital, Saná, a voos comerciais, a facilitação do abastecimento de combustível e o levantamento de bloqueios impostos a algumas cidades.
Na quarta-feira, a ONU já tinha anunciado que tinha recebido "sinais positivos" sobre a renovação da trégua.
Hans Grundberg realizou várias consultas na região para convencer as várias partes a renovar as tréguas, tendo, na semana passada, destacado os "efeitos positivos concretos" do acordo para cerca de 30 milhões de pessoas, exaustas de conflitos, deslocamentos, fome, doenças, escassez de água potável e do colapso da economia.
No entanto, o Governo e os rebeldes pareciam querer manter as respectivas posições, apesar da pressão internacional, em particular da ONU e dos Estados Unidos.
O Governo acusou os rebeldes de ocuparem a grande cidade de Taiz (oeste do país), bloqueando as estradas principais. Os huthis, por sua vez, exigiram que sejam pagos os salários dos funcionários públicos ou mesmo serviços básicos nas áreas que controlam.
Hoje, o enviado da ONU garantiu que continuaria a discutir com as partes no sentido de "controlar e consolidar a integridade de todos os elementos da trégua e avançar para uma solução política duradoura do conflito".
Os rebeldes tomaram a capital em 2014, provocando um conflito devastador. Apesar da intervenção, desde 2015, da coligação liderada por Riade, os huthis passaram a controlar grandes áreas do território, principalmente no noroeste.
A guerra provocou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados. A ONU e as organizações humanitárias, que carecem de financiamento, alertam regularmente para uma fome em grande escala neste país muito isolado do mundo.