Berlim - As campanhas de desinformação pró-russa na Alemanha têm-se sucedido nos últimos meses, preocupando o governo numa altura em que o país se prepara para as eleições europeias e para três regionais no Outono, noticiou o site Notícias ao Minuto.
O ano começou com o executivo liderado por Olaf Scholz a dar conta de uma campanha de desinformação pró-russa levada a cabo na rede social X (antigo Twitter). A informação, revelada no final de Janeiro, dava conta de um ataque centrado no apoio de Berlim à Ucrânia envolvendo mais de um milhão de publicações.
Através de milhares de contas falsas, as mensagens sugeriam que o governo estava a negligenciar as necessidades dos alemães como resultado do seu apoio à Ucrânia, tanto com armas e bens, como no acolhimento de refugiados.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, que encomendou o estudo depois de suspeitar estar a ser alvo de "bots", disse, de acordo com o jornal Guardian, ser necessário enfrentar o número crescente de campanhas de desinformação e reconhecer o efeito que podem ter nas eleições.
No final de Março, Ralf Beste, o chefe do departamento de Cultura e Comunicação do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha confessava, ao Financial Times, que estas campanhas são uma ameaça que tem de ser "levada a sério", registando-se um "aumento na sofisticação e no impacto".
"Provavelmente há muita coisa que está a acontecer que nem sequer podemos ver. São cada vez mais as conversas que acontecem em privado, em canais como o Telegram, o WhatsApp. É muito difícil perceber o que se passa por lá", apontou Beste, que no seu departamento tem uma equipa dedicada a rastrear e impedir as operações de desinformação da Rússia.
A Alemanha é um dos principais alvos de campanhas de desinformação russas, por ser o país da Europa que mais ajuda fornece à Ucrânia.
Em Março, o Kremlin divulgou o conteúdo de uma conversa confidencial entre oficiais alemães de altas patentes. Uma gravação de 38 minutos publicada na rede estatal russa RT e posteriormente confirmada pelo governo alemão.
No áudio podiam ouvir-se quatro oficiais a discutirem a hipotética exportação de mísseis Taurus para a Ucrânia e como poderiam ser usados para atacar a infra-estrutura russa.
"É um ataque híbrido de desinformação", revelou o ministro da Defesa, Boris Pistorius.
"Trata-se de dividir, de minar a nossa unidade (...) Não devemos cair na armadilha de Putin", acrescentou.
No centro das suspeitas de várias campanhas de desinformação está a extrema-direita, que utiliza as redes sociais, sobretudo o TikTok, para passar mensagens políticas curtas.
Maximilian Krah, eurodeputado e cabeça de lista da Alternativa para a Alemanha (AfD) para as eleições europeias, um dos políticos alemães mais seguidos nesta plataforma, foi forçado a negar as alegações de que havia aceitado dinheiro para divulgar posições pró-russas numa página de notícias financiada por Moscovo.
Está a ser investigado por ligações suspeitas à Rússia e à China depois do seu assessor ter sido detido, no final de Abril, por alegadamente ter espiado para a China.
O próprio Krah foi também vítima das "fake news", depois de uma página na internet que copiava o jornal "Bild" ter dado conta que o candidato devia aos seus oito filhos mais de 86 mil euros em pensões de alimentos.
Além dos temas da guerra na Ucrânia, também as migrações e as políticas relacionadas com o clima são usadas para produzir notícias falsas.CS