Berlim - A antiga chanceler alemã Angela Merkel revelou que tentou convencer os seus parceiros europeus da necessidade de encontrar novo formato para dialogar com o Presidente russo, Vladimir Putin, sobre a Ucrânia, mas percebeu que já não tinha influência.
Merkel disse, numa entrevista publicada hoje pelo semanário alemão Der Spiegel, que teve essa iniciativa por considerar que se tornou obsoleto o Protocolo de Minsk, um acordo assinado em 2014 pela Ucrânia, a Federação Russa, Donetsk e Lugansk sob os auspícios da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) que procurava uma solução política para o conflito.
"O acordo de Minsk ficou vazio. No verão de 2021, depois dos Presidentes (Joe) Biden (dos Estados Unidos) e Putin se conhecerem, quis estabelecer novamente um formato de debate europeu independente com Putin e com Emmanuel Macron (Presidente francês) no Conselho da UE", revela Merkel na entrevista.
"Algumas pessoas opuseram-se e eu já não tive força para me impor porque todos sabiam que eu iria desaparecer no outono", diz Merkel referindo-se ao seu afastamento da chancelaria, uma vez que não era candidata a um cargo nas eleições alemãs de setembro de 2021.
A antiga chefe do Governo alemão deu a conhecer conteúdo de conversas com outros líderes da União Europeia dizendo que perguntou, "a outros no Conselho (Europeu): por que não intervém?".
"Um disse-me: é demasiado para mim. Outro apenas encolheu os ombros, com um 'isso cabe aos grandes fazer'", declarou Merkel.
A antiga chanceler garantiu que, se tivesse voltado a ser candidata em Setembro nas eleições alemãs, "teria insistido mais".
Na entrevista relata a atmosfera que rodeou o seu último encontro com Putin no Kremlin (presidência russa), onde foi numa visita de despedida antes de deixar a chancelaria: "O sentimento foi muito claro: em termos de poder, estás acabada", apontou a antiga líder da Alemanha.
"Para Putin, só o poder conta", afirmou Merkel, revelando que o Presidente russo, com quem era habitual estar a sós quando os dois falavam, àquele encontro chegou acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov.