Quipungo – Administrador do Quipungo, José dos Santos Vital, reiterou hoje, terça-feira, nesta cidade, na necessidade de reabilitação das três principais barragens do município, para garantir a resiliência à seca, segurança e direito alimentar.
Trata-se das barragens do Sendi, do Chicungo e do Quipungo, sendo que a primeira, sob o rio Calonga, localizada a 48 quilómetros a noroeste do município e tem a capacidade de armazenar 9,5 milhões de metros cúbicos de água.
Já a segunda, a do Chicungo, sustentada pelo rio com o mesmo nome, tem uma capacidade de acumular 6,3 milhões de metros cúbicos, dista 45 quilómetros a Oeste do município, num município que é caracterizado por possuir potencialidades agro-pecuárias em toda a sua extensão territorial.
A última, a do Quipungo, com 700 metros de comprimento está localizada a um quilómetro da vila municipal, sob o rio Calonga, a sua albufeira tem a capacidade de armazenar 8,2 milhões de metros cúbicos de água. As três influenciam uma área de pelo menos 51 mil 180 hectares.
As três foram construídas na década de 60, devido ao índice de variabilidade das precipitações entre as diferentes épocas da chuva, a fim de garantir o abastecimento de água na sede municipal, bem como assegurar e potenciar a prática de actividades hortofrutícolas, pesca e abeberamento do gado.
Em declarações à ANGOP hoje, quarta-feira, nesta cidade, o administrador local, José dos Santos Vital, afirmou que o pleno funcionamento das barragens constituem a base para o desenvolvimento dos potenciais do município, a agricultura e criação de gado, gerando crescimento das populações.
Disse que as barragens ficaram “destruídas” por falta de manutenção e gestão, pois durante muito tempo não se definiu de quem era a responsabilidade pelo controlo destas estruturas hidráulicas, associado ao processo erosivo avançado que já sofriam e fortes chuvas registadas em 2019.
Acrescentou que as chuvas arrastaram “imensas quantidades” de capim e paus, que taparam os vertedores de superfície, obrigando a água a romper o aterro da barragem do Sendi que já sofria erosão acentuada, como consequência a do Quipungo não suportou a quantidade de água oriunda da albufeira do Sêndi e também cedeu.
Fez saber que a desde a década de 60, a barragem do Sêndi teve apenas uma intervenção considerada “paliativa” em 2013 e a do Chicunco foi reabilitado o seu canal em 2020, mas a sua barragem carece de desassoreamento, já a do Quipungo nunca foi reabitada como tal.
Nos prejuízos destacou a perda da capacidade em armazenar água em volumes suficiente de água para abastecer à população da sede e periferia, bem como nos sistemas de água rudimentares (cacimba) da população causando um défice no lençol freático.
“Tivemos ainda uma redução drástica do potencial pesqueiro das albufeiras, que em tempos constituiu fonte de atracção da pesca artesanal, desincentivando pescadores individuais e organizados em cooperativas, assim como ficaram inoperantes as actividades agrícolas irrigadas e mesmo de sequeiro, devido a escassez de água provocada pela estiagem”, continuou.
Reforçou já terem sido feitos estudos sobre as três infra-estruturas e possivelmente a partir do próximo ano poderão iniciar a reabilitação da barragem do Sêndi, num financiamento do Banco Mundial, pois constitui a circular do município, ligando o Quipungo de norte a sul.
Recuperação relançará agro-pecuária e pesca de mais de oito mil famílias
A reabilitação das barragens, segundo a fonte, vai permitir o relançamento das actividades agro-pecuárias e pesqueiras de oito mil e 117 camponeses, organizados em associações e cooperativas.
A título de exemplo, disse que na barragem do Quipungo, a actividade de pesca artesanal, permitia alocar no mercado, aproximadamente 288 toneladas de peixe/ano, com previsões estimadas em um volume de receitas de 96 milhões de kwanzas.
Já no sector de hortofrutícolas com a disponibilidade de água permitia os horticultores manusear 200 hectares de solos, que por isso só poderia disponibilizar mais de 40 mil toneladas de produtos diversos/ano, com previsões de um volume de receitas transaccionadas em mil milhões e quanto ao efectivo ganadeiro só a barragem abebera 14 mil e 500.
Frisou que se for garantido o abeberamento do gado, as populações agro-pastoris deixaram de realizar transumância forçada para outros municípios, como Jamba e Matala, o que tem obrigado pelo menos sete mil pastores a percorrer longas caminhadas que por vezes sem descanso, sacrificando a família e debitando as manadas.
“A indisponibilidade de água nas barragens, tem obrigado criadores a abandonarem as suas lavras em busca de outras oportunidades em outros municípios e, muita das vezes frustrantes pelos conflitos sociais, causados pelas desilusões que os colocam na condição de pedintes, tornando os de certo modo vulneráveis”, lamentou.
Reabilitação vai garantir abastecimento de água à sede municipal
A demanda específica para abastecer a sede municipal actualmente é fixada em 100 metros cúbicos/hora, a capacidade da cacimba antes do rompimento das barragens era de 150 metros cúbicos /hora e a capacidade actual das captações depois do rompimento é de cinco metros cúbicos/hora.
Realçou que o único sistema de captação, tratamento e armazenamento e distribuição de água da sede municipal, é através de cacimba integrada a essas barragens como fonte única por meio de drenos, mas em função do cenário em que se vive, se regista perda na captação de água de 147 metros cúbicos/hora, quantidade superior à demanda específica do município que é de 100 metros cúbicos/hora.
Com a reabilitação destas barragens, combinado com novo sistema de água em construção no município, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios relatou que terão um manancial capaz de fornecer acima dos 250 metros cúbicos/hora, suficiente para abastecer os 47 mil habitantes da sede municipal.
José dos Santos Vital afirmou que para além destas barragens garantirem uma fonte sustentável de água, também são estruturas atractivas do turismo no município, pese embora em face do exílio, pois as suas reabilitações poderão incentivar o turismo e garantir empregos na região.
Avançou que as albufeiras abrigavam grande diversidade de aves migratórias, oriunda das muitas partes de África, estabelecendo uma relação ecológica entre aves e peixes que beneficia directamente os pescadores em qualidade e tamanho do pescado.
Referiu que tais aves para além de serem consumidoras de peixe alimentam-se de insectos e a sua permanência implicam uma diminuição nos gastos dos produtores, pois reduz a compra de defensivos agrícolas e minimiza aplicação destas substâncias tóxicas nos ecossistemas terrestres e aquáticos, e nos sistemas de abastecimento de água subterrâneos.
“Estas barragens já foram palco de inúmeros campeonatos de pesca nacionais e internacionais de pesca. Por isso e não só, representam uns dos maiores patrimónios culturais mais importante dos munícipes”, lembrou.
Quipungo dista 120 quilómetros, a Leste da Cidade do Lubango, ocupa uma extensão territorial calculada em cinco mil 675 quilómetros quadrados e tem uma população estimada em 208 mil 820 habitantes, segundo projecções do Instituto Nacional de Estatística.
O município é limitado a Norte por Cacula e Caluquembe, a Leste por Matala, a Sul pelos Gambos e a Oeste pela e Lubango. Tem cinco comunas que aguardam por reconhecimento oficial, nomeadamente a sede, Chicungo, Tchiconco, Hombo e Cainda. EM/MS