Malanje - O reforço do financiamento à agricultura empresarial começou a dar resultados animadores aos produtores agrícolas, permitindo a expansão de áreas de cultivo e, consequentemente, o aumento da produção angolana.
Esta realidade, resultante do Projecto de Desenvolvimento da Agricultura Comercial (PDAC), em curso no país, desde 2018, começa a ser visível nas províncias de Malanje, Cuanza Norte, Cuanza Sul e Bié, onde os agricultores apostam, essencialmente, no cultivo do milho em grande escala.
Adicionalmente, fruto do PDAC, financiado pelo Banco Mundial (BM) e pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), os beneficiários deste projecto migraram da prática da agricultura familiar para agricultura empresarial, com a ampliação das áreas de cultivo e apoio técnico especializado.
Entre os 39 projectos financiados, até ao momento, por exemplo, destaca-se a fazenda agro-pecuária "António Neves Canje e Filhos", que anteriormente dedicava-se apenas à actividade agrícola familiar, com a produção de diversas culturas, como o milho, feijão, batata rena, beringela, tomate cenoura e cebola.
Situado na comuna do Lombe, município de Cacuso (Malanje), este campo agrícola conta com 40 hectares de milho cultivados, no presente ano agrícola, contra pelo menos 15 hectares que eram cultivados antes do PDAC, segundo o proprietário desta fazenda, António Neves Canje.
Em declarações à imprensa, no âmbito da visita de constatação de uma delegação do Ministério da Agricultura e Florestas e da equipa de jornalistas dos órgãos de Comunicação Social público, que se realiza de 14 a 15 deste mês, nas províncias de Malanje, Cuanza Norte e Cuanza Sul, o agricultor fez saber que nesta primeira fase prevê-se colher cerca de 80 toneladas de milho, até Março de 2023.
Na ocasião, referiu ainda que a fazenda tem um hectar de feijão plantado, prevendo colher perto de 20 toneladas deste produto, em Janeiro próximo.
Para a concretização desta produção, António Canje revelou que recebeu, a título de crédito, 11 milhões e 500 mil kwanzas, em 2021, enquanto este ano beneficiou de igual montante, totalizando Kz 23 milhões.
Além disso, acrescentou, a fazenda beneficiou, igualmente, de semeadores, charrua e grades.
"A implementação do PDAC constitui uma alegria para os agricultores, pois sem este projecto não seria possível explorar a actual quantidade de hectares", sublinhou.
Porém, o empresário referiu que as boas perspectivas de produção poderão ser condicionadas pela falta de uma máquina de colheita de milho, bem como pelo estado debilitado do troço de sete quilómetros que liga a fazenda da Estrada Nacional 230.
"Será quase impossível colher de forma manual a quantidade de milho perspectivada, por isso, solicito o apoio do PDAC no sentido de ajudar a colmatar esta lacuna", clamou.
Ainda no âmbito deste projecto, a fazenda de António Canje empregou oito trabalhadores efectivos/fixos, além dos eventuais.
Com um total de 750 hectares disponíveis, a fazenda agro-pecuária António Neves Canje e Filhos dista a cerca de 40 quilómetros da sede provincial de Malanje.
Paralelamente a este campo agrícola, está a fazenda "Sorriso Alegre", que antes também dedicava-se à agricultura familiar, a produzir milho e feijão em grande escala, com a chegada do PDAC, segundo o proprietário deste empreendimento, Noé Gomes.
Para a materialização deste desafio, o produtor anunciou que a sua fazenda beneficiou de 137 milhões de kwanzas, sendo parte deste financiamento serviu para compra de equipamentos agrícolas (tractor, charrua, entre outros meios de produção) e a construção de uma residência para os trabalhadores fixos no campo e uma casa para acomodar os meios de cultivo.
Com este investimento, avançou, foi possível cultivar 98 hectares de milho, na primeira fase do projecto agrícola, esperando pela colheita de cerca de 400 toneladas deste cereal mais consumido no país.
Referiu ainda que prevê-se cultivar 50 hectares de feijão, na segunda etapa, a ser concretizado em Fevereiro próximo.
"Praticamente, o PDAC deu-nos um oxigénio, que nos motiva a prosseguir para a concretização do aumento da produção nacional", destacou.
Lembrou também que este projecto permitiu criar seis postos de trabalho fixos.
Quanto ao processo de reembolso do crédito recebido, Noé Gomes mostrou-se confiante em cumprir com as obrigações inerentes ao financiamento do PDAC, tendo em conta os bons indicadores da primeira safra.
De acordo com o agricultor, o reembolso começa a ser processado, de forma faseada, em Junho de 2023, com previsão de ser concluído num período de cinco anos.
"Encravado", igualmente, no município de Cacuso, desde 1996, a fazenda Sorriso Alegre dedicava-se apenas à produção de mandioca, batata doce e hortícolas, em cerca de 50 hectares, antes do surgimento do PDAC.
Conforme constatou a ANGOP, a cor verde do milharal, que se encontra em fase de formação de espigas (maçarocas) , "domina e ofusca" o crescimento de outras culturas, facto que simboliza o desenvolvimento saudável do milho e alimenta cada vez mais a esperança dos camponeses alcançarem a colheita desejada no presente ano agrícola, nas duas primeiras fazendas reportadas pelos órgãos de Comunicação Social, em Malanje.
O projecto, a ser replicado em seis províncias do país (Malanje, Cuanza Norte, Bié, Huambo, Cuanza Sul e Huíla), até Maio de 2024, está direccionado, essencialmente, para a produção de milho, feijão, soja, café, mandioca, batata rena e doce, frango e ovo.
A iniciativa do Governo angolano tem um orçamento global de 115.9 mil milhões de kwanzas (230 milhões de dólares) sendo 130 milhões de dólares do Banco Mundial e USD 100 milhões da Agência Francesa de Desenvolvimento.
Com uma previsão de colheita de 4,5 ou 5 toneladas de milho por cada hectare, o PDAC visa, essencialmente, incentivar os produtores a aumentar a produção para sustentar a segurança alimentar no país.