Cartum - Várias Organizações Não-Governamentais (ONG) alertaram hoje para o facto de o Sudão estar a sofrer "uma crise de fome de proporções históricas" e lamentaram o "silêncio estrondoso" da comunidade internacional após quase um ano e meio de guerra.
"Não podemos ser mais claros. O Sudão está a sofrer uma crise de fome de proporções históricas", afirmaram, em declaração conjunta, o Conselho Norueguês para os Refugiados, o Conselho Dinamarquês para os Refugiados e o Mercy Corps.
As ONG apelaram, ainda, à comunidade internacional para que a mesma tome medidas "urgentes" para fazer face à "imensa crise de fome" que se vive no Sudão, após estes longos meses de guerra entre o exército e as Forças de Reacção Rápida (RSF) paramilitares.
Segundo as ONG, "as crianças estão a morrer à fome" e mais de 25 milhões de pessoas, ou seja, mais de metade da população, sofrem de insegurança alimentar aguda.
Na declaração conjunta, as ONG sublinharam que "a atenção e a acção internacionais têm sido demasiado escassas e tardias" e observaram que o Plano de Resposta Humanitária para 2024 está apenas 41% financiado, "com grande parte do financiamento a chegar demasiado tarde para evitar mortes evitáveis devido à fome".
Em Junho, "cerca de 1,78 milhões de pessoas não tiveram acesso a ajuda humanitária essencial devido a restrições logísticas, recusas arbitrárias e obstáculos burocráticos", enquanto "mesmo quando a ajuda chega, é tão escassa que as magras rações individuais são divididas entre grupos de pessoas".
A guerra no Sudão eclodiu a 15 de Abril de 2023 e já causou entre 30.000 e 150.000 mortes, segundo diferentes estimativas, ao mesmo tempo que forçou mais de dez milhões de pessoas a abandonarem as suas casas, transformando o país africano num dos locais com a mais grave crise humanitária do planeta.
A guerra eclodiu na sequência de divergências acentuadas entre o exército e as Forças de Reacção Rápida (RSF) sobre a integração do grupo paramilitar nas forças armadas, o que fez descarrilar o processo de transição após a destituição de Omar Hassan al-Bashir, depois de 30 anos no poder, num golpe militar em Abril de 2019. JM