Maputo - O primeiro-ministro japonês revelou nesta quinta-feira, em Maputo (Moçambique), que o seu país quer ser a ponte entre os "países do sul" e o G7, grupo dos sete países mais industrializados do mundo, após um périplo por África que terminou hoje na capital moçambicana.
"Eu resolvi ouvir as vozes dos chamados 'países do sul' e ter a função de servir de ponte com o G7: através desta visita histórica pude ouvir as questões que os países estão a enfrentar", como o impacto da alta de preço dos alimentos e energia, referiu Fumio Kishida.
"A causa é a invasão russa da Ucrânia", e não "sanções impostas pelo G7" como defende quem quer "dividir o mundo", disse o chefe do Governo, sublinhando que as conversas mantidas em África giraram em torno da "importância de fortalecer uma ordem internacional livre e aberta, baseada no Estado de Direito, em que tentativas de mudar o 'status quo' pela força não são aceitáveis", numa alusão à ofensiva da Rússia.
Para além de Moçambique, Kishida visitou desde sábado o Egipto, Ghana e Quénia, quando faltam duas semanas para a próxima reunião do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unidos), marcada para 19 de Maio em Hiroshima (Japão).
"À reunião do G7, em Hiroshima, vou levar a voz dos vários países" e o grupo deverá fortalecer a sua relação de maneira concreta com os "países do sul", disse o governante, cujo país preside desde Janeiro deste ano o G7.
"Acredito que estas visitas" aos quatro países africanos "têm sido significativas para enriquecer as discussões no G7", referiu o primeiro-ministro, acrescentado que ao se "saber de perto os problemas de vários países", permite conseguir-se consenso.
Fumio Kishida falava em conferência de imprensa, em Maputo, na qual reiterou a defesa de "princípios óbvios e inquestionáveis, como o respeito pela soberania, integridade territorial", num contexto que classificou como "um momento decisivo" para a comunidade internacional.
O primeiro-ministro japonês visitou a capital moçambicana desde quarta-feira acompanhado por uma comitiva empresarial que promete expandir o investimento que o Japão já faz em Moçambique, sinalizando aquele que diz ser o seu desejo de fortalecer a cooperação do G7 com os "países do sul", dinâmica que quer fazer chegar ao G20 em Setembro e à cimeira especial da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, sigla inglesa) em Dezembro.
"A relação entre o Japão e África não é uma relação entre um país que apoia e outros que é apoiado, são parceiros que crescem mutuamente" e em que a prioridade é "investir no capital humano e em cooperação de forma minuciosa", com financiamento ao desenvolvimento "transparente e justo", descreveu.
"Senti na pele o potencial de África e senti a necessidade de continuar a cooperar", disse, recordando que a Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento da África (TICAD, sigla inglesa) completa 30 anos em 2023 e que no último ano os participantes no evento assumiram compromissos de investimento da ordem dos 30 mil milhões de dólares (27,2 mil milhões de euros) nos setores público e privado nos próximos três anos em África.
Questionado sobre como analisa "a corrida por África" por parte da China e Rússia, Kishida disse que o Japão tem a sua forma de cooperar e que os 30 anos de trabalho da TICAD falam por si.