Luanda - A médica pneumologista Kátia Nunes afirmou, esta quinta-feira, em Luanda, que o consumo de nicotina e outras substâncias contidas na shisha provocam doenças crónicas pulmonares, insuficiência respiratória e pode ser a porta de entrada para outros tipos de drogas ilícitas.
Em declarações à ANGOP sobre os riscos e efeitos do uso da shisha, disse que a utilização do narguilé (shisha) e de cigarros eletrónicos, a longo prazo, podem causar também cancros de pulmão, boca e bexiga, bem estreitamento das artérias e doenças respiratórias.
A shisha é um produto produzido a partir do tabaco, levando na sua composição sabores artificiais e açucares, sendo, normalmente, consumido através de um cachimbo de água, e a sua origem ancestral no norte da Índia mas muito consumido também no Médio Oriente e norte de África.
Além disso, explicou que o compartilhamento dos cachimbos de água pode expor o fumante ao vírus do herpes, da hepatite C, tuberculose e outras doenças transmissíveis.
De acordo com a especialista, pode causar também sofrimento às células, que se prejudicam, provocar falta de ar, tosse, dor de cabeça, um mal-estar muito intenso, levando ao desmaio, sublinhado ainda as suas características viciantes.
A shisha, também conhecida como narguilé, a par dos cigarros electrónicos são tratados como menos nocivos, no entanto, a médica refere que eles podem desencadear danos semelhantes ao cigarro convencional, ou até mais graves.
Destacou que a fumaça produzida pelo narguilé tem uma série de substâncias tóxicas e expõe o fumante à inalação de fumaça por um período maior do que quando ele fuma um cigarro.
Adiantou ainda que uma rodada de narguilé, dependendo do tempo da sessão, pode ser equivalente ao consumo de 100 cigarros ou mais.
Segundo Kátia Nunes o narguilé chegou a Angola e ao mundo como recreação e logo caiu no gosto dos jovens, principalmente por conta das essências, sendo os maiores consumidores jovens entre 15 e 40 anos de idade, de ambos os sexos.
Esse tabaco, frisou, é produzido com a fermentação do melaço, glicerina e essências de frutas, o que lhe garante um gosto adocicado e um aroma suave, por isso atrai por se presumir como "fumo saudável e na verdade não é".
Falando em intoxicação, fez saber que o monóxido de carbono, uma das 4 mil substâncias que estão presentes na shisha, pode causar envenenamento, intoxicação, porque ocupa o lugar do oxigênio, o gás vital do ser humano.
Consumidores
Por outro lado, Mário Cassueca, de 23 anos de idade, começou a fumar como diversão e o que parecia passageiro, hoje se tornou um vício, explicou que chega a gastar por dia cerca de 4 a 6 mil Kwanzas para o seu consumo.
“Comecei numa brincadeira, mas hoje está além de mim, porque já não consigo parar fazendo com que gaste por vezes o pouco que tenho no bolso“, lamentou.
Já Manuel Boaventura que começou a fumar por influência dos amigos, diz estar viciado e não pensa em parar tão cedo, apesar de ter consciência dos perigos.
“Por dia posso fumar um maço ou duas shishas e sinto que curti o momento, apesar de saber que isso pode me provocar várias consequências“, reconheceu.
Proibição de comercialização
A Autoridade Nacional de Inspecção Económica e Segurança Alimentar (ANIESA) deu um mês aos comerciantes de shisha no sentido de retirarem o produto de circulação do mercado nacional, por "constituir um atentado à saúde pública".
De acordo com o comunicado divulgado, esta segunda-feira, "a shisha com sabores de chocolate, morango, menta, baunilha, mentol e uva, os mais procurados, possuem substâncias impróprias para o consumo humano".
A direcção da ANIESA esclarece que esta acção vai decorrer em todo território nacional e que numa primeira fase, serão retiradas de circulação todas as shishas com sabores.
A instituição garante que "os vendedores deste produto serão responsabilizados criminalmente por desobediência se não os retirarem do mercado no prazo de um mês". EVC/VIC