Luanda - O aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida reduz em 13 por cento a mortalidade infantil por doenças comuns da infância, em menores de cinco anos.
A afirmação foi feita pela chefe de departamento da saúde pública, Neusa Lazary, em entrevista à ANGOP a propósito da semana do aleitamento materno, a decorrer de 1 a 7 de Agosto.
De acordo com a Neusa Lazary, entre as doenças comuns que podem ser evitáveis com o leite materno está a diarreia e problemas respiratórios como pneumonia, bronquite, faringite, gripe e asma.
Para a responsável de saúde pública, este líquido precioso é para o bebé uma acção fundamental no combate da desnutrição crónica. “Considerado o alimento mais completo para os bebês, o leite materno sacia a fome, contribui para a melhora nutricional, diminui os riscos de infecções e alergias, além de causar um efeito positivo na inteligência e no vínculo entre mãe e bebê”, reiterou.
Disse que os componentes nutricionais do leite materno ajudam a criar uma barreira contra a entrada e proliferação de micro-organismos no intestino, reforçando que outros tipos de leite não têm essas mesmas propriedades, e objectos como biberões que podem ter contaminação por fungos ou bactérias.
Além disso, defendeu que a amamentação ajuda as mães a gerar um vínculo saudável e forte com seu bebê, reduz os efeitos da depressão pós-parto, protege contra o cancro de mama e do ovário, bem como diminui o risco de mulheres desenvolverem diabetes tipo 2 após a gravidez.
Garantiu que para as famílias, é ainda uma garantia de segurança na alimentação dos bebês, mesmo em tempos de crise, pois é um alimento que está sempre disponível de forma natural, limpa, acessível e sem custos adicionais.
O aleitamento materno é uma das formas mais eficazes de garantir a saúde, a sobrevivência e o pleno desenvolvimento das crianças, lamentando que menos da metade dos bebês no mundo sejam amamentados nos primeiros seis meses de vida de forma exclusiva.
Este número, avançou, é ainda mais impactante em Angola, onde menos de 40 por cento dos bebés dos zero aos seis meses são amamentados exclusivamente.“Estes dados são muito preocupantes e ameaçam a saúde e o estado nutricional dos nossos bebés, pois constituem uma das principais causas de desnutrição e mortalidade infantil”, considerou.
Além disso, salientou, que estudos indicam que a mortalidade neonatal aumenta drasticamente em 33 por cento quando o aleitamento é retardado entre 2 a 23 horas após o nascimento e aumenta em 119 por cento quando iniciado além das primeiras 24 horas de vida.
O leite materno é o alimento ideal para os bebês, pois cobre todas as suas necessidades nutricionais, promove o desenvolvimento sensorial e cognitivo e protege a criança de doenças infecciosas e crônicas.
A especialista em pediatria sugere que ele pode ser continuado até os dois anos, ou seja, não há limite de idade para a amamentação.
Benefícios e importância do colostro
A pediatra explicou que o colostro é o primeiro leite, um líquido espesso e amarelado que é rico em anticorpos e é fundamental para o sistema imunológico do bebê, produzido em pequena quantidade, mas altamente nutritivo.
Geralmente dura em torno de três a cinco dias, sendo substituído pelo leite maduro após esse período.
Desafios
Fez saber que um maiores desafios é fazer com que as mães percebam a importância e as vantagens da amamentação e que deve existir persistência nessa acção, pelo que um dos passos fundamentais para ter sucesso na amamentação é estar bem informada e criar uma rede de apoio.
Embora os benefícios sejam muitos, alguns problemas podem ocorrer, como as rachaduras nos seios, pois nos primeiros dias de amamentação, é normal sentir algum desconforto nos mamilos, se a posição do bebê no peito não for adequada, podem aparecer rachaduras.
Ao nascer, adiantou, as mães devem aproveitar o conhecimento da parteira ou enfermeiras e pedir ajuda para posicionar adequadamente o bebê a cada mamada, reduzir o risco de desconforto e aumentar sua facilidade de amamentação.
Cuidados nutricionais durante a amamentação e controlo do sono
Entretanto, citou haver evidências de que bons hábitos de vida promovem o sucesso da amamentação, e respeitar esses bons hábitos às vezes é um grande desafio, já que a falta de tempo e sono, após a chegada de um bebê, pode entrar em conflito com a preparação de bons pratos ou de exercícios físicos.
Apontou o stress, a fadiga, ansiedade e a desidratação como causas que podem inibir o reflexo de ejeção e a produção de leite, informando que uma mulher saudável pode produzir cerca de 800ml de leite diariamente.
A fase de lactação exige muito do corpo da mulher, registando um expressivo aumento de demanda energética, podendo atingir uma necessidade diária de até 2.800 calorias.
Entre os nutrientes fundamentais está a vitamina A, necessária para o desenvolvimento adequado do sistema imune do bebê, por exemplo, e durante o aleitamento, há um aumento na demanda por vitaminas A, B1, B6, B12, C, E, niacina, riboflavina e ácido fólico, assim como dos minerais iodo e selênio.
Deve-se ainda consumir três ou mais porções de leite e derivados por dia (se não for intolerante).
A ingestão de uma dieta variada com a inclusão de frutas, legumes, verduras, carnes de preferência frango, peixe e ovos, bem como consumir pães, de preferência de pão caseiro.
Rede de apoio
Em Angola são realizadas campanhas de sensibilização, para aumentar os níveis de amamentação exclusiva de bebés nos primeiros seis meses de vida, com leite materno e que as crianças sejam amamentadas até aos dois anos.
Exprimiu que para os casos de mães que não podem amamentar, o país conta com a ajuda do Banco de Leite Materno, que, em quatro anos de existência, ganhou mais de 500 dadoras a nível da maternidade Lucrécia Paim.
A iniciativa de criar bancos de leite humano foi lançada em 2019, tendo permitido a capacitação de mais profissionais de saúde e alcançado uma recolha de mais de 345 mil mililitros de leite, doados por 1.800 mulheres, o que permitiu o atendimento de 2.220 recém-nascidos.
Fez saber ainda, que entre as acções realizadas, está agendada uma actividade para o dia 1 de Agosto, denominada "Mamaço", onde mais de mil mulheres vão amamentar em simultâneo os seus bebês, para assinalar a semana mundial que decorre sob o lema “Amamentação apoiando todas as situações“, com objectivo de suprir as lacunas na sociedade, eliminando as desigualdades que existem no apoio à amamentação.
Este ano será dada atenção a cenários vulneráveis como a primeira semana de vida, populações desfavorecidas e a amamentação em tempos de emergências e crises, cujo objectivo é mobilizar a sociedade no sentido de apoiar a amamentação para todos.
Denominação do mês
A importância da amamentação para o pleno desenvolvimento das crianças é tema da campanha Agosto Dourado, criada em 1992 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
O Agosto Dourado simboliza a luta pelo incentivo à amamentação – a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno.
De acordo com a OMS e o Unicef, cerca de seis milhões de vidas são salvas anualmente por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva até o sexto mês de idade. EVC/PA