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Rússia admite uso de mísseis hipersónicos contra alvos ucranianos

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  • Luanda • Domingo, 20 Março de 2022 | 12h20
Bandeira da Rússia
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Divulgação

Kiev - A Rússia intensificou no sábado a sua ofensiva na Ucrânia, anunciando o uso, pela primeira vez, de mísseis hipersónicos, enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou que era hora de Moscovo aceitar em “conversar” seriamente sobre a paz.

O ministério da Defesa russo garantiu que no dia anterior havia usado mísseis hipersónicos Kinjal para destruir um depósito de armas subterrâneo no oeste da Ucrânia, segundo a agência estatal Ria Novosti. Esse tipo de míssil desafia todos os sistemas de defesa antiaérea, segundo Moscovo.

A Rússia nunca havia informado sobre o uso desse míssil balístico em nenhum dos dois conflitos de que participa, Ucrânia e Síria.

Os hipersónicos são armamentos mais precisos e eficazes, uma vez que viajam a 6.000km/h e atingem alvos a 2.000km/h de distância, velocidade até mais de cinco vezes superior à velocidade do som. Ao atingir 1.200km/h, o alvo em alta velocidade produz uma onda de som, denominada estrondo sónico.

O presidente Zelensky, por sua vez, considerou que “as negociações sobre paz e segurança na Ucrânia são a única oportunidade que a Rússia tem de minimizar os danos causados pelos seus próprios erros”.

“É hora de nos encontrarmos. É hora de conversar. É hora de restaurar a integridade territorial e a justiça para a Ucrânia”, reiterou o chefe de Estado em vídeo filmado à noite numa rua deserta de Kiev e postado no Facebook. “Caso contrário, as perdas para a Rússia serão tão profundas que levará várias gerações para se recuperar”, acrescentou.

Desde o início da operação militar russa na Ucrânia, a 24 de Fevereiro, Kiev e Moscovo realizaram várias rondas de negociações, presenciais e por videoconferência. A quarta começou na segunda-feira.

O chefe da delegação russa referiu-se, na noite de sexta-feira, sobre uma “conciliação” de posições à volta da questão de um estatuto neutro para a Ucrânia – semelhante ao da Suécia e da Áustria – e avanços na desmilitarização do país. No entanto, o dirigente também disse que há “nuances” para discutir sobre as “garantias de segurança” exigidas pela Ucrânia.

Mas um membro da delegação ucraniana, o conselheiro presidencial Mikhailo Podoliak, alertou que as “declarações do lado russo são apenas o começo das suas exigências”. “A nossa posição não mudou: cessar-fogo, retirada das tropas (russas) e fortes garantias de segurança com fórmulas concretas”, precisou numa postagem no Twitter.

O ministério da Defesa russo afirmou que destruiu centros de rádio e inteligência perto de Odessa, em Velikodolinske e Veliki Dalnik. A Ucrânia, por sua vez, admitiu no sábado que perdeu “temporariamente” o acesso ao Mar de Azov, apesar de a Rússia controlar de facto toda a costa desde o início de Março e o cerco da cidade portuária estratégica de Mariupol. Além disso, o exército russo afirmou que conseguiu entrar e lutar no centro da cidade ao lado de tropas da república separatista de Donetsk.

Segundo o assessor do ministério do Interior ucraniano, Vadim Denisenko, citado pela agência Interfax-Ucrânia, a situação é “catastrófica” em Mariupol. “A luta acontece pela Azovstal”, uma grande siderúrgica nos arredores da cidade. “Uma das maiores siderúrgicas da Europa está a ser arruinada de facto”, lamentou.

As autoridades ucranianas acusaram a Força Aérea russa de bombardear “deliberadamente” o teatro de Mariupol, o que a Rússia rejeitou. Num esconderijo anti-aéreo sob esse edifício havia “mais de mil” pessoas, principalmente “mulheres, crianças e idosos”, segundo a administração deste porto do Mar de Azov.

Zelensky disse que mais de 130 sobreviventes foram retirados dos escombros. “Infelizmente, alguns sofreram ferimentos graves. Mas, neste momento, não temos informações sobre possíveis mortes”, declarou, explicando que “as operações de resgate continuam”.

As famílias que conseguiram fugir da cidade contaram que à noite refugiavam-se nos porões, com temperaturas abaixo de zero, fome e sede, e que os cadáveres ficavam dias nas ruas. “Não é mais Mariupol, é o inferno”, disse Tamara Kavunenko, de 58 anos, acrescentando que “as ruas estão cheias de cadáveres de civis”, acrescentou.

Segundo Zelensky, graças aos corredores humanitários estabelecidos no país, mais de 180 mil ucranianos conseguiram escapar dos combates, incluindo mais de nove mil pessoas de Mariupol. “Mas os ocupantes continuam a bloquear a ajuda humanitária, especialmente em áreas sensíveis. É uma táctica bem conhecida. (...) É um crime de guerra”, alertou.

De acordo com o ministério Público Federal da Ucrânia, uma jornalista ucraniana da emissora Hromadske foi sequestrada pelas forças russas em Berdyansk, e está “desaparecida”. Desde 24 de Fevereiro, mais de 3,2 milhões de ucranianos partiram para o exílio, quase dois terços deles para a Polónia, às vezes apenas uma etapa antes de continuar o seu êxodo.

Segundo um balanço de 18 de Março do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), pelo menos 816 civis morreram no país e mais de 1.333 ficaram feridos. O organismo acredita, porém, que o número real seja superior.

As necessidades humanitárias são “cada vez mais urgentes”, com mais de 200 mil pessoas sem água na região de Donetsk e “grave escassez” de alimentos, água e remédios, disse o porta-voz do ACNUR, Matthew Saltmarsh.

O governador de Mikolaiv (sul) indicou no Facebook que várias cidades vizinhas já estavam ocupadas pelos russos e que a sua cidade havia sido fortemente atacada. “O dia foi difícil”, lamentou Oleksandr Senkevich.

Segundo a imprensa ucraniana, o exército russo fez ataque em grande escala, matando pelo menos 40 soldados no seu quartel-general. Até agora, as autoridades ucranianas não deram um balanço global de mortes no país.

Os bombardeamentos continuaram em Kiev e Kharkiv (noroeste), a segunda maior cidade do país, onde pelo menos 500 pessoas foram mortas desde o início da guerra. A capital foi esvaziada a pelo menos metade dos seus 3,5 milhões de habitantes.

De acordo com a administração da cidade, 222 pessoas morreram, incluindo 60 civis. Quanto às baixas militares, Zelensky citou a morte de “cerca de 1.300” militares ucranianos a 12 de Março, enquanto Moscovo reportou quase 500 mortos a 02 de Março.





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