Paris - O padre católico francês Abbé Pierre foi acusado em 17 novos relatos de violência sexual, segundo um relatório enviado hoje à agência noticiosa AFP sete semanas após as primeiras revelações sobre o caso.
"Até à data, foi possível identificar pelo menos 17 pessoas adicionais que sofreram violência às mãos" do padre que morreu em 2007, de acordo com o relatório da Egaé, que refere em particular a actos que podem ser considerados violações, alegadamente cometidos entre os anos 1950 e 2000.
Na sequência destes novos testemunhos, a Fundação Abbé-Pierre anunciou a sua decisão de mudar de nome, enquanto a Emmaus anunciou que o memorial dedicado ao padre em Esteville, no oeste de França, será encerrado definitivamente.
O relatório da empresa especializada Egaé, encomendado pelas duas organizações em Julho para recolher novos testemunhos, refere "toques não solicitados nos seios" e "beijos forçados", bem como a "contactos sexuais repetidos com uma pessoa vulnerável", "actos repetidos de penetração sexual" e "contactos sexuais com uma criança".
As pessoas que testemunharam são ou foram voluntários da Emmaus, empregados de locais onde o Abbé Pierre esteve, membros de famílias próximas do padre ou pessoas que conheceram em eventos públicos, segundo a Egaé.
Reconhecido pela sua acção a favor dos mais desfavorecidos, o padre foi acusado por várias mulheres de agressões sexuais anunciaram em Julho as três organizações que prosseguem a obra do francês.
Ícone da luta contra a exclusão social, co-fundador do movimento Emmaus e membro da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial, Abbé Pierre (1912-2007), cujo verdadeiro nome era Henri Grouès, foi durante muito tempo a personalidade preferida dos franceses.
Em Julho, as organizações Emmaus International, Emmaus France e a Fundação Abbé Pierre explicaram que, na sequência de "uma denúncia de uma agressão sexual cometida por Abbé Pierre contra uma mulher", foi realizado um trabalho interno pela Egaé, empresa especializada na prevenção da violência, que deu origem ao relatório independente encomendado pelas associações.
Hoje, numa declaração conjunta as três organizações reafirmaram o seu "apoio total às vítimas" e anunciaram que também será criada uma comissão independente para "explicar os disfuncionamentos que permitiram ao Abbé Pierre actuar como actuou durante mais de 50 anos".
O Abbé Pierre "foi portador de uma voz, de um impulso, que provocou ondas de solidariedade, a importância da sua acção é um facto histórico", mas "somos agora confrontados com a dor insuportável que ele provocou", escrevem as organizações.
Após a revelação, a Igreja Católica em França publicou uma mensagem na rede social X em que afirmou ter tomado conhecimento destes testemunhos "com tristeza" e expressou a sua "vergonha por tais actos terem sido cometidos por um padre", reiterando "determinação em tomar medidas para tornar a Igreja uma casa segura". JM