Gaberone - O antigo Presidente do Botswana Ian Khama, sob o qual pende um mandado de captura, regressou hoje de surpresa ao país, pela primeira vez em três anos, antes das eleições gerais de Outubro.
Ian Khama, que se exilou na vizinha África do Sul em Novembro de 2021, compareceu de surpresa num tribunal de Gaborone, que o acusou em Abril de 2022 de uma série de crimes, incluindo o de posse ilegal de armas de fogo, para pedir para ser mantido em liberdade até ao julgamento, possibilidade que lhe foi concedida pelo juiz.
O antigo chefe de Estado disse aos jornalistas que tinha regressado ao Botswana por estrada a partir da África do Sul, "conduzindo (ele próprio)". O seu advogado, Unoda Back, disse que Khama apresentou-se no tribunal assim que chegou ao país.
"Fomos apanhados de surpresa", disse o procurador Ambrose Mubika, apesar de o advogado de Khama o ter informado na noite anterior.
O antigo Presidente abandonou o tribunal conduzido pelos seus guarda-costas, entre gritos de apoiantes que cantavam "o general está de volta", numa referência ao seu passado como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Botsuana.
Em 2018, Khama entregou a presidência ao seu vice-Presidente, Mokgweetsi Masisi, também membro do Partido Democrático do Botsuana (BDP), no poder desde a independência em 1966, e demitiu-se 18 meses antes do final do segundo mandato para cumprir a Constituição, que limita os chefes de Estado a dez anos de mandato.
As relações entre os dois homens deterioraram-se até que, no ano seguinte, Khama declarou publicamente guerra ao seu sucessor, afirmando que tinha "cometido um erro" ao escolhê-lo e batendo com a porta ao BDP, co-fundado pelo seu pai Seretse Khama, o primeiro Presidente do Botswana.
Numa entrevista concedida à agência de notícias France-Presse (AFP) em Março de 2023, o antigo Presidente acusou o sucessor de excessos autoritários e afirmou que pretendia regressar ao Botswana para formar uma coligação que derrotasse Masisi nas eleições de 30 de Outubro.
As eleições gerais deste ano no Botswana realizam-se a 30 de Outubro, anunciou a 03 de Setembro o actual Presidente do país, um dos mais ricos de África em termos de PIB 'per capita', mas dos mais desiguais do mundo.
As candidaturas para as eleições presidenciais serão apresentadas à Comissão Eleitoral a 28 de Setembro, e as candidaturas para o parlamento e os conselhos locais a 04 de Outubro. A votação terá lugar a 30 de Outubro.
Num congresso anterior ao anúncio, o Partido Democrático do Botsuana (BDP), no poder, nomeou novamente Mokgweetsi Masisi, como seu candidato presidencial. No dia seguinte, Masisi lançou o programa do partido, prometendo emprego e prosperidade económica.
O Botswana, um país estável e multipartidário, realiza eleições gerais de cinco em cinco anos, que são consideradas livres e justas.
O BDP governa esta antiga colónia britânica desde a sua independência, em 1966. O partido obteve 52,6% dos votos nas eleições legislativas de 2019, à frente da Coligação para a Mudança Democrática (UDC, com 35,8%).
Masisi tornou-se Presidente em 2018, depois do antecessor, Ian Khama, se ter demitido.
Um estudo realizado pelo instituto de investigação Afrobarometers em 2024 revelou um aumento do número de cidadãos do Botswana que consideravam a presidência corrupta, enquanto Masisi tem sido acusado de nepotismo e desprezo pelo parlamento desde que chegou ao poder.
O Botswana tem uma população de cerca de 2,5 milhões de habitantes.
Os diamantes, de que é o segundo maior produtor mundial, representam um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do país e mais de 90% das suas exportações. MOY/JM