Madrid - As autoridades da República Democrática do Congo (RDC) detiveram hoje dois militares de alta patente após a morte de mais de 40 pessoas durante a repressão de uma manifestação, no Kivu-Norte, contra as Nações Unidas e outras organizações internacionais.
O ministro do Interior congolês, Peter Kazadi, indicou que entre os detidos estão o comandante da Brigada da Guarda Republicana e o comandante do regimento das Forças Armadas em Goma, que foram entregues às autoridades, no âmbito da investigação em curso sobre o sucedido.
O ministro sublinhou que "será levado a cabo, nas próximas horas, um processo para determinar as responsabilidades", ao mesmo tempo que pediu à população de Goma para "manter a calma" e "confiar na justiça", segundo a estação de rádio congolesa Radio Okapi.
Kazadi pediu às famílias das vítimas e dos desaparecidos durante a repressão dos protestos que se apresentem perante o aparelho judicial para se constituírem como partes civis no processo, no qual estão previstas reuniões com actores da sociedade civil e com todos os que queiram apresentar-se para testemunhar.
O Presidente congolês, Félix Tshisekedi, ordenou sexta-feira a criação de uma comissão de inquérito interministerial para apurar as responsabilidades pela repressão violenta dos protestos, que causaram pelo menos 43 mortos e dezenas de feridos, embora alguns relatos sugiram um número ainda mais elevado de vítimas.
O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos manifestou-se, na sexta-feira, "extremamente alarmado" com o que aconteceu durante o protesto, convocado por um grupo armado local, conhecido como Wazalendo (patriotas), contra a presença dos "capacetes azuis" da Missão das Nações Unidas na RDCongo (MONUSCO) e de outras agências da ONU e organizações não-governamentais internacionais.
Para este órgão da ONU, o inquérito deve ser "exaustivo, eficaz e imparcial".
"Esta investigação deve examinar exaustivamente o uso da força pelas forças de segurança. Os responsáveis pelas violações devem ser responsabilizados, independentemente da sua filiação", afirmou a porta-voz do organismo, Ravina Shamdasani.
O Governo considera que os manifestantes "minaram a ordem pública", ao mesmo tempo que denuncia que "provocaram o apedrejamento até à morte de um elemento da polícia", acção que levou à intervenção dos agentes "para restabelecer a paz e a serenidade na cidade".
O leste da RDCongo tem sido palco de vários protestos contra os "capacetes azuis" da MONUSCO nos últimos anos, num contexto de crescentes apelos à sua saída devido à contínua deterioração da segurança na zona, onde operam dezenas de grupos armados, incluindo o ramo do grupo terrorista Estado Islâmico.DSC
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