Lisboa - O ministro dos Negócios Estrangeiros português assegurou hoje que a União Europeia quer contribuir para travar a insegurança no Burkina Faso e não deixar o país nas mãos dos mercenários do grupo Wagner, mensagem que quis deixar em Ouagadougou.
"Um dos objectivos é falar sobre como é que nós e, em particular, a União Europeia, podemos contribuir para evitar uma espiral de degradação da situação de segurança no Burkina Faso", disse em declarações à Lusa João Gomes Cravinho, que hoje terá encontros com a sua homologa burquinabé e com o Presidente interino do país em Ouagadougou.
O ministro sublinhou a importância de "assinalar que" não se está "a abandonar o Burkina Faso". "Isso seria o pior sinal possível, porque se correria o risco de atirar o Burkina Faso para as mãos do Wagner, que seria um resultado altamente indesejável", acrescentou.
Por outro lado, também é preciso "dar sinais muito claros sobre a necessidade da retoma da via democrática e, portanto, será "o equilíbrio" que se procurará "estabelecer com as autoridades", avançou Gomes Cravinho, que tem um encontro com a chefe da diplomacia do Burkina Faso, Olivia Rouamba, e deverá ser recebido pelo Presidente interino, Ibrahim Traoré.
O Burkina Faso é um dos países que mais tem suscitado preocupações em relação à segurança não só no país, mas na região de África onde está inserido.
Desde 2015 que está enredado numa espiral de violência extremista islâmica, iniciada anos antes no Mali e no Níger e que posteriormente se espalhou além das fronteiras destes países.
Desde final de Setembro de 2022, o Burkina Faso é governado por uma junta militar dirigida pelo capitão Ibrahim Traoré, que chegou ao poder na sequência de um golpe de Estado, o segundo em oito meses no país.
Desde então, Ouagadougou exigiu a saída de 400 militares das forças especiais francesas que se encontravam no país para combater os terroristas e denunciou um acordo de ajuda militar assinado com a França em 1961.
João Gomes Cravinho termina no Burkina Faso uma visita que o levou a três países da África Ocidental, que começou segunda-feira no Gana, onde pela primeira vez num país africano teve lugar uma reunião em formato 2+2, juntando os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa de Portugal e daquele país.
A visita também serviu para preparar a vinda a Portugal, em 18 e 19 de Julho, do Presidente do Ghana, Nana Akufo-Addo.
Nas reuniões foi feito trabalho com vista à assinatura de vários acordos bilaterais, um deles no âmbito de consultas políticas para contacto e troca de impressões regulares sobre temáticas de interesse mútuo, outros na área da economia azul e da governação dos oceanos, e ainda um na área da defesa, abrangendo segurança marítima, indústrias de defesa e missões de paz.
Também está a ser preparado um instrumento para o reforço das relações entre a AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, e a sua congénere ganesa, no sentido de criar as melhores condições possíveis para a implantação do empresariado português no Gana, avançou o ministro nas declarações à Lusa.
Na Costa do Marfim, outro país "fundamental para a região da África Ocidental" em termos de segurança, mas também das potencialidades para empresas portuguesas, o ministro assinalou a reabertura da embaixada de Portugal naquele país, após o encerramento de mais de 20 anos. JM